Capítulo 2

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RESIGNAÇÃO

Plack!!
___Opa!___exclamou o taxista ligando o limpador de para-brisa.___Bombardeio!___ riu ele, enquanto o inseto esmagado era esfregado ao para- brisa.
___ Na cidade não haveria uma coisa assim.___ falou o pequeno e gorducho marobrista para Maria Catarina, tentando iniciar um diálogo.Ela tirou o capuz de seu moletom rosa- desbotado da cabeça.
___ É...Já estou com saudade...___ falou ela, mas o que disse era apenas um pensamento em voz alta,um fato percebido que dizia a si mesmo e não um comentário de alguém que está querendo conversar.O taxista não notou isso.
___  Olha!Ela fala!___ disse ele sorrindo e tirando a cabeça da estreita estrada de terra.Ele era calvo,ou quase, se não fosse os ralos fios de cabelo que ele pentiava de lado sobre a careca; usava um óculos que aumentava muito a íris dos seus olhos e sob os óculos estava um redondo e grande nariz  de batata.Possuia, para piorar ainda mais sua aparência, um grotesco bigode.Sua cara era achatada e seu crânio irregular. Vestia uma camisa polo vermelho- escuro e calças jeans gastas. Ao menos estava sempre sorrindo e bem humorado.Olhei desmotivada ao redor: mato aqui, árvore ali...  O motorista parecia esperar por um resposta para o: "Olha! Ela fala!"     Ou que a garota dissesse algo sobre a pessoa com quem ficaria.Ela fitou aquela cara feia sorridente.
___ O que posso dizer de um estranho?___ Esclareceu.
___ Estranho?! Eu e você estamos em uma viagem há...___ Olhou o taxímetro para conferir o tempo___ Quarenta e cinco minutos!!
___ Não você...___ Se enclinou sobre o estofado do asento à frente, ao lado dele,para ver seu crachar escrito: my name is Lewry.___ Lewry, a pessoa que vou visitar...___ M.C não pode,evitar um suspiro.
___Espere,espere aí. Eu vou deixar você com uma pessoa que você não conhece?!___ Pareceu preocupado Lewry.
___ Tudo bem,___ Ela se debruçou sobre a janela___ Ele nem sempre foi um estranho...
°*°*°*°*°
Logo chegaram ao fim da linha.M.C ainda lembrava.Não havia mais estrada, tinham apenas que fazer a curva e chegariam ao destino: sua antiga casa.Ela sentiu um dor aguda no peito quendo Lewry fez a curva.Ver a casa a faria lembrar da mãe.Ou, mais especificamente, da morte dela. M.C estava errada. Sua antiga casa que possuia um lindo e bem cuidado jardim na frente, que possuia uma cor viva e que era deslunbrante em contraste com a natureza ao redor, já não existia. O jardim era agora uma alto capim que chegavam em sua cintura e que deixava uma insignificante trilha de terra até a sacada.As paredes estavam com rachaduras e tinham uma cor desbotada.Raízes e cipos ligavam-se nas duas colunas superiores no andar de cima da casa e a sacada estaca com um teto que ameaçava desabar.
Maria Catarina saiu do carro quase sem reconhecer sua antiga casa.Pegou sua única mala e se colocou de pé ao lado do táxi do Lewry.
___Isso aí era para ser uma casa?__disse Lewry.___ Parece cupins de mãos dadas.___Ele olhou para M.C pelo canto de olho.___ Sem ofensa!
___ Não precisa.Eu vou ficar...___Lewry acelerou seu táxi dando a volta e indo embora gritando: Me liga se precisar fugi.___... Bem.___ completou M.C para o vento.
Caminhou até a sacada da casa e respirou fundo antes de bater na porta.
Toc! Toc!
Ouviu o próprio som solitário de seus punhos ecoar na casa. Pôs seu rosto colado na vidraça da porta na esperança de, assim, poder ver algo ou alguém.Nada.
___Olá!___disse ela voltando a bater na madeira da porta, que desta vez se entreabriu sozinha. M.C adentrou hesitante, o lugar cheirava a madeira e mofo. Duas pesadas vigas de madeiras se ligavam sobre o piso à cima. O chão era de madeira e se seguia na entrada da porta como um corredor .M.C caminhava devagar sobre o chão.
___ Olá!___ repetia ela para o nada,quando de repente um homenzinho franzino, magro e narigudo surgiu.Usava óculos e tinha os cabelos ruivos, com um topete encaracolado que caia sobre a testa. Com um suspiro M.C. o reconheceu: Era seu pai...
Algo no mínimo estranho aconteceu em seguida: ele passou por ela como se sua presença fosse insignificante, pior: como se não estivesse ali.
Ele andava de um lado para o outro falando consigo mesmo.
___ Pele de animal? Não,casca de inseto...?não! Talvez pele de camundongo... É!  Não, pele de rato do campo...sim,sim...___ dizia ele olhando algo em uma lupa suspensa. M.C olhava sem entender para a imagem do pai,se pôs na entrada da sala ,onde ele estava,  fitando o lugar. A sala estava entupida de entulhos, com muitos livros empilhados e vários eletrodomésticos sem utilidade.
Respirou fundo.
___ Pai?___ falou M.C e ele se assustou, se batendo em vários objetos até finalmente se virar e ver a filha.Arregalou os olhos e escancarou um sorriso.
___ Maria Catarina ?! É você !!___ Surpreendeu- se ele vindo com seus  braços finos abertos para dar um abraço. M.C o abraçou e sobre seu ombro o pai disse:___ Eu não sabia que hoje era hoje!___ Ele se afastou .
___ Mas sempre é___ falou M.C. sem compreender o pai.
___Oh, olhe para você! Tão parecida com sua mãe.___ então percebeu o quanto fora idiota a sua comparação.___ Quero dizer, você seria...Quero dizer, você se pareceria com ela se, você sabe, ela ainda estivesse viva.Ah,desculpa. Não queria...Você quer falar sobre isso?
___ Não ___ respondeu ela___, eu andei lendo sobre os estágios da perda e...Estou trabalhando cada um deles sozinha.
O clima pesado foi cortado pelo ecoar de latidos . Ela se virou e viu oque achou ser um fantasma.Era Ozzy, seu cachorrinho de estimação quando era pequena.O problema era que ele teve um série de doenças,  teve que amputar uma perna,perdeu a visão do olho direito e a audição do ouvido esquerdo e vários outros problemas . O Bomba correu e se jogou no chão para pegar o cachorro.Se levantou com uma bolota peluda e gorda nas mãos. Era Ozzy.
___ Ozzy! Ele ainda está vivo?!___ surpreendeu- se M.C.
___ Ainda!___ falou ele.___ A maior parte dele,pode estar só com três patas mas foge sem eu nem perceber.___Ozzy se debatia nos braços de Bomba.Ele levanta um das pequeninas orelhas de Ozzy e falou:
___ Ozzy, vai dizer oi.___ Soltou o cachorrinho que vinha em  direção a M.C.
___ Oi Ozzy ,vem cá ___ se agachou para pegar o cachorro no colo mas ele, quando estava quase em seu colo, fez um curva.M.C olhou para o pai buscando explicação.
___ Ele perdeu um pouco a noção de profundidade, e tem um tendência de correr em círculos.___ riu ele.Ozzy passou por trás dela.
___ viu?__ perguntou ele.___ Agora ele passou bem pertinho!___ M.C olhou para o cachorro que corria para fora da sala.___ Lá vai ele!!
Sorriu para Maria Catarina o pai.
___ Vamos para seu quarto ?
___ Sim...___ pelo menos não está tão doido quanto podia estar pensou M.C olhando para o pai que levava sua mala em direção a escada.Talvez tudo dê certo.
°*°*°*°*
Seguia o pai na escada,quando viu Ozzy tentando inutilmente subir um degrau. Como não tinha uma das pernas da frente era impossível conseguir subir as escadas. M.C sorriu e o pegou no colo subindo as escadas enquanto o cachorrinho tentava lamber seu rosto.
___ Ozzy, para!___ ria ela afastando o gordinho cachorro do rosto.

Chegaram ao andar de cima,seu pai esperou por ela antes de entrar em seu quarto .
___ Aqui está seu quarto!___ falou ele para filha.___Está com todas as suas coisas desde que você foi embora.As suas fotos, seus brinquedos ...Sua tartaruga,oh, sua tartaruga não. ___ ele olhou para M.C pasma.Ela olhou ao redor.Seu quarto estava intacto,com a mesma cor,com a mesma decoração e com os mesmos objetos.
___ É como se...nunca tivesse saído.___ falou M.C ainda com Ozzy no colo, indo à cama.
___ Todas suas coisas estão aqui Maria Catarina.
___ Sabe...Agora todos me chamam de M.C.
___ M.C?Eu gostei!___ falou Bomba se sentando ao lado da filha no colchão.
Phrrriiiiii!!!! Phrrriiiii!!!
Começou a apitar seu localizador preso a calça .
___ Seu celular está tocando?___ perguntou M.C.
___ Oh, não! Isso não é um celular.Mas é importante.Algo está acontecendo!hoje haverá um evento raro,que acontece uma vez à cada cem anos! Deve entender o quanto está um loucura isso aqui.___ O aparelho continuava apitando, deixando o professor Bomba louco.Ele se levanta e anda à porta.___ Vou deixar você sozinha para arrumar suas coisas,Maria Catarina .___ e saiu.E voltou de novo para dizer :___ Não, quem é Maria Catarina? Eu quis dizer M.C!
E saiu novamente.
M.C colocou Ozzy no chão e deitou- se naquela cama na qual já não cabia e retirou da mochila uma fotografia da mãe, e a abraçou .
___ Tudo bem, mãe___falou ela para o quadro,segurando uma lágrima.Por que ela tinha que morrer? Por que teve que prometer que viria morar com pai? Por que não sentia o mesmo amor pelo pai? Sentia-sabia-que não teria uma boa relação com o pai.Mas tinha que ser assim.Prometera para mãe .___ Eu tô tentando.
  Abraçou novamente a fotografia da mãe desejando ter sua vida de volta.
E amaldiçoando sua nova vida.

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