03| Setecentos e Cinquenta Reais

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Levanto com muita dificuldade depois de ter ido dormir às três da manhã maratonando How I Met Your Mother pela milésima vez. Me arrumo e deixo um bilhete para Maria, a avisando que iria sair. Pego o elevador e desço até o primeiro andar, onde eles serviam o café da manhã do hotel em que estamos hospedadas.

Ficaremos aqui durante a gravação do programa, já que moramos em São Paulo e os Estúdios Globo são no Rio de Janeiro. Olho no relógio em meu pulso, já que meu celular foi com Deus. São dez da manhã.

Tomo café e passo pela recepção do prédio, perguntando ao funcionário de plantão se ele sabia me informar o lugar mais próximo onde eu poderia encontrar uma assistência técnica de confiança. Preciso saber se meu celular ainda tem alguma esperança de salvação ou se eu deveria me despedir dele de uma vez por todas e deixar que ele descanse em paz no cemitério dos aparelhos eletrônicos.

Anoto o endereço do lugar em um papel qualquer e o jogo dentro da pequena bolsa de lado. Agradeço o rapaz e saio pela porta de vidro automática, caminhando pela calçada da avenida enquanto cantarolo a música do anúncio chato do YouTube que está grudada em minha cabeça há dias.

Em quinze minutos encontro a pequena galeria que, segundo o recepcionista do hotel, tem um box de uma assistência técnica muito boa. E é bom que seja boa mesmo, porque tive que pedir informação pra três pessoas na rua pra conseguir chegar até aqui. E só para deixar registrado, apenas uma delas não me xingou por a ter abordado.

Entro no estabelecimento e me dirijo ao balcão.

— Bom dia, moço. Tudo bem? - cumprimento simpática — Eu queria ver se vocês conseguem dar um jeito no meu celular. O acidente foi feio —  sorrio fechado, tirando o aparelho na bolsa.

— Deixa eu ver o celular — nem um bom dia? Sério?

Detesto gente mal educada.

— Hum, aqui — o entrego.

Ele olha com desprezo para as rachaduras na tela e tenta ligar o aparelho. Pelo menos ligando ele está.

— Tem que trocar a tela. O resto tá ok.

"O resto tá ok"

Reviro os olhos com o comentário. Meu celular é novinho, comprei não faz nem um mês, ele tá muito mais que ok, ele está praticamente perfeito.

Que cara mais desagradável. Se eu tivesse uma lista das pessoas mais rudes e estúpidas, ele estaria em segundo, só perde pro meu ex chefe.

— E quanto fica pra trocar a tela? — pergunto receosa.

— Setecentos e cinquenta.

Eu posso desmaiar agora ou ainda tá cedo?

— O que?! Mas moço! — protesto — Por esse preço eu posso mandar pra assistência técnica autorizada.

— Tudo bem, então mande — retruca, indo em direção ao fundo da loja.

Esse infeliz tem sorte de eu estar com muita pressa pra consertar essa tela, senão ele nunca veria um centavo meu.

— Espera! Tudo bem, eu pago — suspiro. — Você pelo menos consegue arrumar isso rápido? Estou precisando dele.

— Só preciso de uma hora. Se quiser, se sente e espere aí — aponta para as cadeiras próximas ao balcão.

Será que não existe uma única pessoa simpática nesse lugar? O ódio que eu tô desse cara... eu devia era ter terminado de quebrar meu celular na cabeça dele, isso sim.

Respiro fundo tentando me acalmar e pego um copo d'água no filtro antes de sentar.

Esse velho seboso não tem um pingo de educação mesmo. O xingo mentalmente de todos os palavrões que conheço enquanto espero minha raiva se esvair conforme me imagino socando a cara feia dele.

I Want You ☆ Bang ChanOnde histórias criam vida. Descubra agora