III: QUER QUE EU DANCE A HULA?

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não. definitivamente não.

minho estava confundindo o mundo real, isso mesmo, seu cérebro balançava a realidade num potinho de purpurina roxa e embaçava sua visão, distorcia o mundo com algum desses contos que catava cegamente nos poucos momentos que podia vagar pela biblioteca da escola. o máximo que deveria receber no plano físico é um romance realista, isso, daqueles que ambos os pecadores são punidos com o último suspiro nas últimas páginas.

sentia a luz do sol espancar sua pele, não a acariciando suavemente e deixando um beijinho na testa como "aproveite as ondas, filho do meu ventre", mas estapeando sua bochecha esquerda - justo o lado do seu corpo que parece ser mais suscetível a dor - e berrando em voz embriagada "fale por si só, insolente".

já havia pago todos os seus pecados quando não se deteriorava completamente ao refletir a imagem do almejado ou quando não se perdia de vista só de vê-lo. em vida e alma por querê-lo, doía. excepcionalmente errado quando comparou seu coração a uma piscininha rasa qualquer, quando cogitou a profundidade da toca de coelho como nada que passasse da sua boca, nada que o afogaria. minho nunca teve medo de um pouco de água, afinal.

— você sequer me responde. fica com essa cara de peixe morto, posso chamar outra pessoa, então. — jisung respirou fundo e cada átomo de gás carbônico expelido fez questão de arrastar na areia quente todo e qualquer resquício de pensamento maquinado na cabeça do lee. estava brincando, o tom das suas bobagens é tão reconhecível quanto uma pérola jogada às ostras.

— não escutei direito, repete? — fingiu se acomodar na toalha no chão. saindo do mar, no mar ainda estava. entrando na conversa, da conversa ainda era alheio.

— vamos para o baile. lual. sei lá que diabo é isso, não sou alma praiana igual você, mas recebi um convite de um colega e posso levar um convidado, tem os drinks de melancia que tanto gosta.

— nessas festas, se levam parceiros, não convidados. — não uma resposta, um rosnar. — leve uma garota e pare de tentar parecer diferente.

silêncio anquilador, ensurdecedor.

— trairia a mim e os 12 anos que te acompanho à deriva com toda essa convicção em bermudas? horshoe bay! quem vai estar ao seu lado na tv quando receber os prêmios? estúpido, lee minho, isso é ridículo! ponho uma saia e te acompanho, quer isso? — olhos estreitados, movimentos bruscos com a mão esquerda que antes estralava os dedos alheios. — se for essa sua única condição, até mesmo aprendo a mexer os quadris; me responda ou você terá de ser quem dança.

sem resposta.

— apareça lá e te afogo com a bebida. - pigarreou, tropeçando nos próprios pés antes de fazer caminho para o metrô.

sem minho.

(pouco a pouco, tintilam os sinos, pouco a pouco, coletam-se as rosas, pouco a pouco, nasce o réquiem.)

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⏰ Última atualização: Oct 17 ⏰

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✧⁠*⁠。requiém para uma flor marítima: minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora