Ódio mútuo.

367 35 0
                                    

[ATENÇÃO: O capítulo a seguir contém a descrição do consumo de álcool, caso o tema for um gatilho para si, evite fazer a leitura].

🍒

Eu sou clichê. Minha vida é um enorme clichê e em partes eu detesto isso. Por conta da influência de meu pai, sou bastante conhecido no colégio estúpido que frequento; talvez por meu temperamento forte, mas foram poucas as pessoas que tentaram ser próximas de mim.

E eu acabei não permitindo. É importante ter alguma seletividade para fazer amizades hoje em dia, pois naquele lugar, grande parte dos alunos com certa popularidade gostariam de ser meus amigos visando o que poderiam ganhar além de maior popularidade; em resumo, buscavam um “sugar friend”. Alguém para presentear-lhes com relógios caríssimos, bolas de basquete autografadas por astros e entradas vip em eventos da alta sociedade.

Pensar sobre isso me causava desgosto pela humanidade, desgosto por meus colegas absurdamente fúteis. Todavia, existia alguém em meio aos patetas, a aparência frágil e indefesa. Jude havia conquistado o posto de minha melhor amiga com muitas discussões bobas e insistência de sua parte.

— Cardan, meu querido e importantíssimo amigo — a voz de Jude entra por meus ouvidos, me trazendo de volta ao momento presente em que eu estou sentado à mesa da sala de aula, descansado meus pés sobre a superfície da mesa. As mãos entrelaçadas atrás de minha cabeça, pouco acima do encosto da cadeira.

Minha sobrancelha esquerda se ergueu em um formato arqueado. Analisei sua expressão e endireitei minha postura rapidamente. Assim que a garota se aproximou o bastante para estar em minha frente, meu indicador com um anel de rubi balançava em frente ao seu rosto como um sinal negativo.

— Não e não! — Respondo convicto antes mesmo que ela tenha fôlego para me pedir para ajudá-la a executar suas ideias tolas.

— Eu nem mesmo tive tempo de te pedir algo, Cardan. Me sinto muito ofendida agora. Por um acaso você está me chamando de interesseira indiretamente? — Ela me perguntou e eu deixei um riso fraco escapar por entre os meus lábios.

— Você só me chama pelo nome quando vai me pedir algo ou então quando vai me contar algo que você fez que é capaz de me irritar. Além do mais, conheço você, Duarte. Esse sorrisinho angelical é na verdade extremamente demoníaco — explico e a vejo respirar profundamente e revirar os olhos.

— Eu preciso de uma nova tática urgentemente, não posso permitir que você se negue a me ajudar. — Ela disse, soou decidida e balancei a cabeça, gesticulando para que ela me contasse aquilo que gostaria.

— Pois bem, meu caro e precioso amigo. Eu necessito da sua presença me acompanhando em uma aventura revigorante pela cidade. E para isso você vai ter de abandonar suas aulas práticas, ou melhor, treinos de basquete.

— Você está brincando, não está? De maneira alguma eu tenho permissão para faltar ao treino. Sou o capitão, Duarte. Irão me xingar muito e provavelmente levarei broncas, advertências e isso sem contar o risco de perder meu querido título de capitão de time de basquete.

— Pois bem, então fique com esse seu título estúpido e incomode ele durante a madrugada, Greenbriar. Conte a ele os seus problemas e me deixe dormir em paz. Tenho que admitir que esse seria um enorme favor — ela rebateu, com seu tom de voz raivoso.

Eu a encaro com meu olhar mortal, na esperança de surtir algum efeito e fazer com que a garota desista de mais uma de suas ideias mirabolantes, mas então ela se aproxima mais, se senta em meu colo, ambas as mãos segurando firmemente meus ombros. Um sorriso de canto surge em seus lábios e seu perfume cítrico alcança minhas narinas, me deixou inebriado.

Vermelho Cereja. | Jude & Cardan.Onde histórias criam vida. Descubra agora