Não fazia sentido. Heloísa sabia em seu íntimo que não fazia sentido o que seu cérebro insistia em apontar. Mas as situações estavam ficando cada vez mais frequentes desde que Leônidas mudou-se para a fazenda, e ela não conseguia mais afastar aquele pensamento. Não quando continuava encontrando Leônidas e Violeta conversando pelos cantos, tomando café juntos ou até mesmo caminhando pelos jardins.
Não era contrária a sua irmã seguir a vida. Deus era prova de que Heloísa pedia todos os dias pela felicidade de Violeta, especialmente com o estado de Matias. Sabia que a irmã nunca havia sido feliz com o marido, mas os últimos dez anos de insanidade foram cruéis com Violeta. Queria que ela encontrasse uma paixão, um amor. Mas Leônidas?
Ficava intrigada por aquelas interações. Estava acostumada a ser o alvo das atenções dele, mas agora perguntava-se se não havia apenas interpretado errado. Duvidava disso, porque quando refazia os passos dos últimos anos, Leônidas não deixava dúvidas sobre suas intenções. Mas, talvez, e apenas talvez, suas negativas finalmente estivessem entrando na cabeça oca daquele homem.
Seria natural que ele se apaixonasse por Violeta. Heloísa passou a vida admirando a irmã e, antes de todo aquele pesadelo, sonhava em ser como Violeta. Mesmo sendo um pouco mais velha, Violeta usava roupas mais modernas, maquiagem, tinha uma personalidade mais altiva. Trabalhava na fábrica, chefiava aquela família. Sua irmã mais velha era uma mulher admirável.
Se Leônidas percebesse isso era sinal de que não estava tão louco quanto ela pensava. Significava que provavelmente era o mais lúcido que se encontrava nos últimos anos. Ao menos fazia muito mais sentido que ele se apaixonasse por Violeta, e não por ela. Violeta sim deveria ser chamada de rosa, deveria ser elogiada por sua beleza.
É claro que havia Matias, mas se algo estava realmente acontecendo, o cunhado merecia cada segundo daquela traição dupla. Seria até satisfatório pensar nisso, não fosse aquela fincada aguda em seu peito toda vez que lembrava daquelas interações. Especialmente a daquela manhã, quando os encontrou sentados na cozinha, a mão de Leônidas por cima da de Violeta.
Os três tentaram disfarçar, mas Heloísa confiava em seus olhos. Deveria tentar esquecer, afinal não pretendia conversar com nenhum dos dois sobre aquele assunto. Se algo estava acontecendo, se tinham um romance secreto, ela não queria saber. Era melhor mesmo que fossem felizes, assim Leônidas pararia de perturbar seu juízo. Ainda assim ela pretendia evitar a presença da irmã e de Leônidas naquela noite.
Já havia dito à Manuela que não pretendia descer para o jantar, mesmo sob protestos e olhares desconfiados. Precisava mesmo terminar algumas costuras e era exatamente o que pretendia fazer. A costura a deixava distraída, embora não estivesse funcionando perfeitamente naquele momento.
Uma batida na porta a fez sobressaltar, e Heloísa esperava que fosse Isadora ou, no máximo, Manuela. Gritou para que a pessoa entrasse, torcendo desesperadamente que não fosse a irmã ou Leônidas. Mas o cheiro de sabonete de glicerina era tão característico quanto o olhar esverdeado do homem que adentrava seu espaço com um prato nas mãos.
- Posso? – ele perguntou, antes de dar mais um passo à frente.
- O que faz aqui? – Heloísa sequer levantou, sentindo uma onda de impaciência.
- O Doutor já jantou, Dona Violeta e Isadora não vieram. – ele deu de ombros, deixando o prato em cima da cômoda. – Manuela me pediu para trazer o seu jantar.
Heloísa fez uma careta, voltando os olhos para o tecido.
- É frango com quiabo. – Leônidas informou com voz mansa. – Tá uma delícia.
- Tá, tá... – Heloísa resmungou, mas ouviu o estômago roncar.
- O Doutor já dormiu. – ele se aproximou de onde ela estava, forçando-a a encará-lo. – Queria convidar a senhora para um passeio depois do jantar.