O plano

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– E aí, qual é o plano?

Iwabe quis saber, deitado no chão com as pernas estendidas pela parede.

Denki levantou a cabeça da tarefa de Geografia, olhando pra mim com curiosidade e um biscoito queimado pendurado na boca.

A semana de testes estava vindo à galope e o Shino-sensei estava pegando no pé do Iwabe desde o dia que ele entregou o trabalho sobre briófitas pelo Chat GPT. Por isso nós três tínhamos combinado de fazer um mutirão de estudos até o final do mês. 

Hoje era o dia da minha casa, e minha batata a que estava assando.

Por conta dos antecedentes criminais, Denki havia recolhido todos os celulares numa caixinha longe do acesso geral durante a tarde – o que queria dizer nada porque, se adiantasse alguma coisa estaríamos aqui falando de Geografia. Geografia, apenas. Mas eu e minha boca grande tínhamos que soltar a bomba lá no box semana passada e depois até tentei fingir belamente que não era comigo mas minha carcaça já havia sido lançada aos chacais.

Sim eu tenho um problema. Sim, eu gostaria imensamente de resolver este problema. Mas isso não significa que eu faça a menor ideia de como fazer isso. E nem a coragem para fazer isso. Mas ainda bem que amigo serve é pra essas coisas.

– O plano é... bolar um plano. – Iwabe jogou uma bolinha de papel na minha direção. Eu desviei. – Por favor Iwabe! Se tem uma mente sórdida capaz de bolar alguma coisa é a sua!

Iwabe recolheu as pernas compridas. Ele faz parte do seleto grupo em nossa turma que havia espichado do nada. Pisquei os olhos e, de repente, estava com 1,80m de altura. O que dá uns bons quinze centímetros de distância de mim. Trinta do Denki.

O limbo púbere não é nada fácil.

Ele resmungou alguma coisa sobre eu ser fã ou hater e sentou direito. Eu sabia que a síndrome do protagonismo da qual eu tinha alergia Iwabe comia no café da manhã. Eu não preciso nem inflar muito a bola dele. Se infla sozinha.

– Tá. Motivos, pessoas, probabilidades... o que temos?

Denki fechou o livro, subitamente desinteressado nas camadas magmáticas do globo terrestre. Celulares estavam proibidos mas a fofoca não.

– Acho que a primeira coisa seria descobrir quem é... – comentou ele antes de virar para mim – Você acha que consegue pegar o celular do seu pai de novo?

Mas nem que...

– Sem chance! Nem morto! – chacoalhei forte a minha cabeça. Só de pensar a respeito me engatilhava – Mas eu sei que tudo começou no dia da reunião de pais e professores.

Denki anotou meu depoimento no caderno. Assentei uma nota mental para queimar aquela folha depois.

– Ta certo. Metal viu mensagens suspeitas e o Neji confirmou naquele dia, então o motivo realmente deve ter a ver com uma mulher. – enumerou.

Iwabe coçou a cabeça por cima do gorro. Eles dois discutindo entre si.

– Tá, mas por que "ele não vai ligar pra ela"? Qual o pior que pode acontecer? O "não" ele já tem.

Ponto.

– Talvez ele seja muito inocente?

– Ele tem um filho, inocente sou eu.

Outro ponto.

– Mas ele já não conhece todo mundo da nossa sala? Quer dizer, estudamos juntos desde o jardim de infância... Qual a grande novidade?

– E se... for uma professora?

Nesse momento nos encaramos em silêncio. Embranquecemos.

Até agora eu não tinha me dado conta de que isso poderia ser mesmo uma péssima ideia. A pior das ideias. 

O Crush do Papai [GaaLee]Onde histórias criam vida. Descubra agora