05| Quarto 404

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Termino o ensaio com a sensação de que o fim da linha chegou para mim. Letícia não é só talentosa. Cantar bem é só uma das várias coisas incríveis que ela pode fazer. 

Teló nos deu a terrível missão de performar uma música cheia de atitude. Quer dizer, terrível para mim, que não tenho confiança nenhuma. 

"Ah, mas cadê aquela garota que cantou Heart Attack com tanta coragem nas audições às cegas?" 

Fugiu. 

Fugiu correndo igual uma covarde depois de perceber o desafio enorme que vai ser cantar o feat. da Anitta com a Marília Mendonça naquele palco. 

— Não pensei que ele fosse escolher Some Que Ele Vem Atrás — ela comenta, enquanto pegamos o elevador em direção ao térreo. — Você gostou? 

Confesso que também não pensei que essa seria a escolha de Teló. Eu cantei uma música pop na primeira fase da competição e, Letícia, uma canção MPB. O gênero que o técnico escolheu não tem absolutamente nada a ver com nenhuma de nós duas. 

— Não é muito o meu estilo pra falar a verdade — rio pelo nariz. — Queria ter ido pro Time Ivete — choramingo. 

— Sério? — me encara surpresa — Mas os campeões sempre são do Time Teló. Devia dar uma chance — aconselha. 

— Pode ser — reflito. — Acho que tem razão. 

Me despeço da ruiva e volto para o hotel. Tiro os sapatos e me jogo na cama. Tenho muito o que ensaiar até o dia da gravação, mas agora tudo que eu quero é tirar um bom cochilo. 

Pego o celular e olho se alguém me mandou mensagem ou ligou. A resposta é não. 

Ninguém sentiu minha falta. 

Lembro de Christopher, que pediu meu número naquele dia, mas até hoje não me mandou um oi sequer.

Mas, afinal, por que diabos estou pensando nele agora? 

Não pode se distrair, Maya. 

[...] 

Acordo com a sensação de ter sido atropelada por um trator agrícola. Sento na cama com um pouco de dificuldade e testo minha voz, que sai falhada. 

Ah, não diga?!

Quem é que consegue cantar logo depois de acordar? Eu devia ter ensaiado antes de dormir, mas o meu maldito vício da procrastinação me impediu. 

Droga, Maya do passado. Você só me arruma problema. 

Tento cantar uma nota alta novamente, sem sucesso. Pigarreio e em seguida tomo um gole de água da garrafa que estava em cima da mesa de cabeceira. Última chance. 

Cantarolo o refrão da música e faço uma careta percebendo que desafinei feio. Suspiro, passando as mãos no rosto e resolvo sair para tomar um ar e esperar o efeito da minha soneca da tarde passar. 

Visto uma jardineira jeans e calço meus tênis. Aviso Maria, concentrada trabalhando em seu notebook, que eu estava de saída e passo pela porta do quarto, trancando-a. 

Não tenho saído muito do hotel porque tenho medo de andar sozinha na rua. A única vez que fiz isso foi para consertar o celular. No restante das vezes, preferi ficar dentro do prédio mesmo. Não é como se aqui fosse a Disney, mas até que tem algumas coisas divertidas para fazer. 

Subo alguns andares de elevador em direção ao terraço. Lá tem um bar que fica aberto o dia inteiro, um jardim suspenso bem bonito e algumas mesas com jogos de xadrez e damas para quem não tem nada melhor pra fazer. 

I Want You ☆ Bang ChanOnde histórias criam vida. Descubra agora