eu vivo pensando num amigo meu
ele era alto
ele era forte
ele tinha os cabelos grandes
ele pegava várias garotas
mais novas que ele
ele era esperto
mas era um babaca
de vez em quando
ninguém é perfeito
eu achava ele legal
lembro quando fui na casa dele
pela primeira vez
e ele estava na cozinha
com óculos de grau
e o cabelo grande
esvoaçante
e um cachorro enorme na sua sala
fômos colegas de turma
ele já havia terminado os estudos
eu tinha parado
e me achava um gênio
mas era um idiota
retardado
no inicío foi bom
comecei a escrever músicas
e imaginamos que teriámos
uma banda de rock,
gravei algumas coisas
no meu celular,
e eles até acharam legal,
mas tudo foi ficando obscuro
tanto pra mim quanto pra
eles
ele descobriu que tinha
um problema sério nos olhos
e podia ficar cego
tinha que se aposentar
ou fazer faculdade
antes que a cegueira o fodesse
depois sua família teve
que sair da casa
onde eles moravam
e tivetam que ir pra outra,
onde
não tinha água,
não tinha energia,
não tinha porra nenhuma
cheguei a ajudar na mudançaficavámos naquele escuro
falando de nossos sonhos
falando bobagens
poucas vezes falávamos em garotas
ele tinha um irmão
na verdade eu acabei ficando mais próximo de seu irmão
então estavámos os três ali
algumas vezes por semana
comendo arroz com salsisha
e imaginando como iriámos
dar a volta por cimaeu também estava na merda
mas não queria apelar
pros meus pais
morava na casa de uma amiga.dai arrumamos um emprego,
entregadores de panfletos,
eu ,ele e sua mãe , iámos todos os dias,
seu irmão não podia
por causa da idade,
era ainda de menor,andávamos por toda cidade
entregando aqueles malditos panfletos num sol escaldante
por míseros seissentos reais ,
o mês inteirono final não foi tão ruim,
comprei um bolo,
que a mãe deles exigiu
como prova de boa fé
ela havia me arranjado o trabalho afinal
ela merecia
sempre gostei da idéia de não ligar pro dinheiro
e nós comemos o bolo com refrigerante,
ainda sem luz ,
e sem água,
quase no escuro
à luz de velaseram só os três na casa
a mãe e os dois filhos,
lutando pra sobrevivermais tarde eu parei de ir lá
muita tensão veio depois
e eu acabei sendo um incômodo pra eles
mesmo querendo ajudar,
tive que mudar
e mudei de cidade ,
e só os vi quando fui expulso
da casa de uns parentes,
e tive que voltar para a
cidade deles
sem mais ninguém
eles me ajudaram
conseguimos um aluguél
e eles me davam o jantar,
de noite eu cruzava a rua
e ia pegar a comida,
numa vasilha vermelha
que ela me mandava sempre lavar
antes de devolver
depois ela quis me enfiar numa casa
no fim do mundo da porra da cidade
e eu não quis a maldita casa
e eles ficaram chateados comigo
e comecei a trabalhar,
de graça para uma velha
que queria me enfiar na sua garagem
e me fazer de escravo
pelo resto da vida
fugi daquilo
também teve uma
moça que fazia vazos
que queria
me enfiar ma casa dela,
talvez ela quisesse
um pouco de sexo
ela havia desistido de ser cristã
e fazia vazos pra vender
também fugi daquilo
preferi a solidão
e arrangei um trabalho
que me pagassem
de verdade
o maldito emprego
que me salvou.parei de vê-los,
todos aqueles loucos
que achavam que iam me ajudar,
me colocando nos seus porões sombrios
e eles devem achar até hoje que fui ingrato com eles,
mas não foi nada disso
eu só precisava de tempo e
espaço para pensar nas coisas
e que decisões tomaria
e
se valia mesmo a pena
viver aquela vida miserável
naquela cidade miseravél
cheia de criminalidade
e o ar podrea mãe deles certa vez
me disse algo interessante,"encare a realidade como ela é
viva a sua realidade independente de que forma ela se tornou"fiquei com isso na cabeça
e se estou escrevendo isso
é pra dizer que fui grato por tudo
mas que precisava achar meu caminho com minhas próprias pernasàs vezes não há tempo de dizer tudo aquilo que se quer
a depressão acabava comigo
naquele tempo
e eu pensava todo dia
e comprar uma garrafa de vinho
e ligar o gás de cozinha
e me trancar no banheiromas eu não fiz
eu continuei
e continuei,
até cançar meus braços
e as minhas pernas
e ser humilhado por pessoas
mais baixas e sujas que eu,
mais ricas e bem de vida que eutotalmente em silêncio
eu retemho meu ódio
e estou transformando tudo que eu sinto ou já senti em palavrastodos vocês, idiotas,
vão virar literatura
independente de quem foram.
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Correndo Atrás do Próprio Rabo
Poetrydefinição de literatura : um bolo de merda com uma cereja no topo