Marinheiros

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Era algo estranho, inconclusivo e rarefeito, mas fazia tanta bagunça no interior do sentimento
que se formou em maresia
e era lindo o som das ondas contrastando com o vento forte na areia. Era novo, renovador. Como num vendaval que carregava os barcos para longe das ilhas, flutuando em um azul amargurado no oceano.
Era belo e até mesmo extraordinário, mas tão raso, tão inesperado, que não se guardava esperanças de brilhar na imensidão novamente.
A brisa sacudia as manivelas, tremia o convés e assustava os marinheiros. O céu brilhoso que inundava o horizonte sumiu em uma cor cinza e tristonha, começando a chorar pela noite que se instalava. A bagunça do doce celeste e do salgado de pélago se misturavam naquela vastidão escurecida de ciano, com as ondas enfraquecidas, enfurecidas e assustadas. Era grande, maior do que se podia imaginar. E todos sabiam que não tinham volta, foram avisados.
As ondas anunciaram chegada, com a lembrança de que seria algo passageiro, tentando alertar do perigo a frente. O convés perdeu o controle, escutando as lamurias imperdoáveis de tanta água. Afogaram, mesmo depois de anunciarem rendição. Tão lento quanto as batidas frenéticas em um peito angustiado, tão lento quanto o último suspiro de vida antes de se afogar no líquido confuso.
Afundaram, já cansados de lutar
e as ondas, tão mansas, deixaram de existir.
Voltando a ser a imensidão solitária de azul.

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