Sal e Sangue

Mel, Mostarda e Sangue

As ruas da movimentada e famosa Califórnia, cidade turística para muitos, estava fervilhando naquela manhã. Era o primeiro dia de verão: adolescentes nutridos de vontade, alegria, impulsividade e energia eram vistos aos montes, pois as férias haviam começado. Camisetas, bermudas, sandálias, óculos escuros e bronzeador eram as ferramentas da maioria das pessoas, menos as daquele homem. Enquanto uma parte da sociedade andava tranquila e relaxada, com roupas folgadas sendo banhadas por um Sol há muito tempo desejado, um homem corria com um terno surrado e amarrotado, um quase nó de gravata e uma maleta. Ele andava engraçado, parecia ter algum problema na perna, usava óculos e possuía um cabelo arrepiado que notoriamente foi banhado com um pouco mais de gel do que talvez ele devesse ter usado. O homem subiu as escadas, ofegante, entrando em uma delegacia e abrindo as portas com tudo. 

- Harry Detetive Thompson! Apresentando-se para o serviço! - Ele gritou com a força de seus pulmões, tomando a atenção de toda a delegacia. O silêncio pareceu durar horas enquanto alguns policiais o encaravam, demorou aproximadamente três ou quatro segundos para toda a delegacia estar rindo. 

- Seu sobrenome é Detetive? - Perguntou um policial sentado na mesa rindo enquanto dava tapas em sua própria mesa. - Ah! Não! Meu nome é Harry, Harry Thompson, Senhor. - Ele explicou tomando um pouco de ar - Sou o detetive enviado pelo FBI para o caso do Hotel Honey Mustard. Esse seria meu primeiro caso, então ficaria agradecido em ter a ajuda de vocês. - Seu primeiro caso? - Disse um homem mais ao fundo da delegacia. 

- O que o FBI está pensando? 

- Perdão, Senhor? - O detetive perguntou enquanto o homem que visivelmente era o delegado se aproximava. Ao chegar perto de Harry, era nítida a diferença de tamanho, o delegado tinha por volta de um metro e noventa, quase dois, enquanto Harry dificilmente chegava aos seus um e sessenta. A cabeça raspada do delegado e seu bigode espesso auxiliavam no ar amedrontador que o homem tinha.

 - Nós fazemos uma solicitação ao FBI e ele nos manda uma CRIANÇA? Que mal sabe se arrumar? - Esbravejou o homem. - Escute aqui seu tampinha, faça o favor de virar as costas, ir embora e dizer ao seu chefe, ou seja lá quem te mandou, que se é para o FBI fazer pouco caso da polícia da Califórnia que eles enfiem a piadinha de mal gosto deles no meio do... - E por um momento, o homem parou quando finalmente percebeu que Harry não o olhava, e sim encarava sua mão direita com uma intensa concentração. A fúria tomou conta do homem quando ele se tocou que estava sendo completamente ignorado. Ele respirou fundo para gritar, mas nenhum som saiu, pois o detetive foi mais rápido. 

- Senhor... É... - Ele começou olhando o delegado e depois rapidamente procurando o nome dele no uniforme. - Smith! Senhor Smith, eu deveria dizer que reprovo veemente sua conduta de adultério, mas se pretende fazer tome cuidado, o senhor colocou a aliança do senhor na mão direita ao invés da esquerda, até poderia ser de noivado, mas no seu dedo anelar da mão esquerda tem uma marca de aliança, deduzo que tenha tirado para sair durante a noite ou algo assim. E, pelo jeito que a aliança está colocada, parece que o senhor o fez correndo... Enfim, o que dizia? Aquela rápida análise fez com que o delegado se sentisse desconfortável. Seu rosto ficou levemente corado enquanto toda a delegacia o encarava - alguns com olhar de reprovação, outros contendo o riso. Mas uma coisa era certa: sabe se lá quem era aquele detetive novato, ele parecia ser um homem bem perceptivo com detalhes. 

- Não importa agora. - Disse Smith se recompondo - Espero que esteja preparado para esse trabalho, moleque. - Com toda certeza senhor, não pretendo decepcionar! Smith guiou o detetive Thompson até sua mesa. Tanto ele quanto o resto da delegacia puderam notar que Thompson parecia mancar de uma perna, mas ele preferiu não comentar a respeito, as vezes o garoto apenas havia torcido o pé. Ele se jogou em sua cadeira e entregou uma pasta para o detetive.