Depois da conturbada noite onde Thompson e Susie interrogaram a suspeita Sunny Cloverfield, os dois voltaram para o apartamento e tentaram dormir, mesmo tendo falhado miseravelmente. Era comum que as primeiras quarenta e oito horas de um assassinato fossem consideradas as mais importantes para a solução do caso, tendo em vista que as pistas deixadas para trás esfriam cada vez mais. Thompson e Susie levantaram bem cedo, preparam um café da manhã simples e voltaram a analisar o caso. Dois suspeitos haviam sido interrogados e eram os que Thompson mais queria ouvir: o melhor amigo da vítima e a amiga traída. Mas, agora que conseguiu tais informações, ele não sabia exatamente para onde prosseguir sua investigação. As fotos de Susie não revelaram muito mais coisas além do que eles já sabiam. Tirando o pacote de cocaína encontrado debaixo da cama e a quase ligação feita para a polícia, nada de muito novo foi descoberto.
- Não podemos deixar o caso esfriar... - Murmurou Thompson. - Temos que achar alguma coisa, qualquer coisa.
- O ideal seria interrogarmos mais alguém. - Susie comentou, pegando os documentos espalhados sobre a mesa.
- Concordo com a ideia, mas apesar de eu pensar que a garota de ontem, Sunny, esteja escondendo algo... ela não deixou uma brecha nova, a menos que...
- Ah, pronto... vai. Qual foi a ideia agora, Sherlock?
- O hotel, vamos atrás do segurança, ter um pouco dos dois lados da história! - Ele levantou em um pulo. - Se arruma, vamos para o hotel!
Após uma parada rápida para um ligeiro café da manhã, Thompson e Susie foram em direção ao hall do hotel Honey & Mustard interrogar Tyler Jordan, o segurança, que estranhamente diz não ter ouvido nada no momento do assassinato, mesmo que teoricamente estivesse no andar em questão.
- Bom dia, sou o detetive Harry Thompson. - Ele disse apresentando sua identidade. - E essa aqui é a senhorita Campbell, minha assistente e fotógrafa criminalista pessoal.
A recepcionista gela com a apresentação de ambos, a jovem não deveria ter mais do que dezenove anos, talvez esse fosse o primeiro emprego dela pelo nervosismo com o qual ela falou.
- P-Pois não... C-Como posso ajudar? - A pergunta quase não saiu.
- Não precisa ficar nervosa. - Thompson tentou acalmá-la. - Não viemos aqui interrogar você, estamos à procura de Tyler Jordan, um segurança.
- Vou chamá-lo... - Ela disse com a voz trêmula. - Fiquem à vontade para esperar, por favor.
Thompson se afastou um pouco da recepção para dar passagem aos que faziam o check-in, era incrível como mesmo depois de um assassinato que saiu nos jornais, aquele hotel ainda estivesse tão cheio. Parecia que a fama das quatro estrelas do mesmo não seria apagada tão facilmente. Harry observava as pessoas com um olhar vago, pensando nas perguntas que faria, quando sua concentração foi quebrada.
- Thompson. - Susie cutucou ele com o cotovelo e fez um gesto rápido com a cabeça. Ao olhar na direção informada, o agente viu uma mulher levemente gorda, usando um vestido azul marinho e com cabelos curtos e escuro, segurava uma coleira rosa onde, na ponta dela, caminhava um Lulu da Pomerânia. O cachorro tinha uma pelugem branca e possuía um lacinho rosa choque. Aquela mulher era estranhamente familiar e não demorou muito para que seu nariz torto e sua verruga fizessem Thompson lembrar de quem era: Tânia Ruby, a vizinha do 477. Ela estava usando uma maquiagem muito carregada, com sombra e batom roxo, ia em direção à porta, provavelmente para sair para caminhar com seu cachorro.
- Acho que eu entendi o motivo do apelido... - Susie comentou rindo um pouco.
- É, talvez.
Após aproximadamente dez minutos, um homem branco e careca se aproximou. Seus olhos eram verdes e ele vestia um terno muito elegante com o broche da logo do hotel. Ele ajeitou sua gravata vermelha e se aproximou do detetive.
- Senhor Thompson? - O segurança o chamou. - Gostaria de falar comigo? Thompson olhou na direção do homem, que era visivelmente maior que ele, e fez um gesto para que Susie pegasse o gravador e já se preparasse.
- Bom dia, senhor Jordan. Obrigado por nos dar seu tempo. - Ele o cumprimentou. - Por acaso, não teria um lugar mais reservado onde possamos conversar?
Tyler levou-os até o quarto das câmeras e pediu para que se sentassem. O segurança estava bem tranquilo, mesmo para quem estava sendo interrogado. Isso foi algo que já havia chamado a atenção de Thompson.
- Por favor, comece com o que o senhor sabe. - O detetive pediu.
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Bom, os quatro amigos eram... eram bem complicados de se lidar, se assim posso dizer. Desde que chegaram ao hotel eles conseguiram se meter em aproximadamente três reclamações e todas elas envolvendo barulhos, por isso que no meu primeiro depoimento eu disse que não tinha escutado nada demais, pois era comum barulhos vindos do quarto deles. Hoje vejo que foi um erro... e me culpo amargamente por isso.
Quem mais dava problema era o tal do Alexander, que parecia ser o cabeça de tudo. Antes mesmo do dia do assassinato, reclamaram de um cheiro muito forte de cigarro e fumo dentro do hotel. Mesmo que seja no seu quarto, é contra as regras, então tive que intervir... enfim, eram adolescentes bem problemáticos, mas no dia em que o assassinato ocorreu, a vitima parecia ansiosa. Bem antes do café da manhã ser servido eu a vi sair muito rápido do hotel, ela parecia estar fazendo alguma coisa escondida, mas quando voltou, estava carregando um embrulho de presente, não questionei pois achei que poderia ser aniversário de alguém, ou alguma coisa parecida. Agora na noite do assassinato, como eu havia dito, eu notei algo estranho, porque ela voltou sozinha da tal festa que eles tinham ido e, pouco menos do que vinte minutos depois, ela estava saindo de novo. Daí pra frente eu não sei mais de nada, não estava no hall e, quando desci, quase uma hora depois, o assassinato já havia acontecido.
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- E o que o senhor estava fazendo todo esse tempo nos outros andares? - Thompson perguntou enquanto conferia algumas de suas anotações.
- Revisando andar por andar, só que o deles foi o quarto andar. - O segurança explicou. - Provavelmente eu o vi antes do assassinato acontecer.
- E demora tanto para fazer a revisão? O senhor disse que demorou quase uma hora fazendo isso.
- Não existe um tempo em específico, mas são quinze andares. - Ele deu de ombros.
- E sobre o sumiço das filmagens das câmeras de segurança? - Thompson acrescentou, olhando os monitores que reproduziam tudo aquilo que as câmeras estavam pegando.
- Eu gostaria de entender mais também... Mas me parece que foram problemas técnicos. As respostas estavam sendo dadas de forma muito direta. Ou ele tinha muita confiança no que estava falando, ou ele ensaiou muito bem o que estava falando. De todo modo, Thompson fechou seu caderno e se levantou, estendendo a mão.
- Fico muito grato pela sua ajuda, senhor Jordan. - Ele sorriu. - Foi mu- e então sua voz pareceu morrer dentro da garganta quando percebeu algo que não havia visto. Quando o segurança se levantou e ajeitou a gravata, Thompson percebeu rapidamente uma mancha roxa no colarinho da blusa branca dele.
- Algum problema, detetive? - Tyler perguntou, erguendo uma sobrancelha.
- Ah! - Thompson agitou a cabeça. - Não, sinto muito, eu só me distraí.
- Claro... Bom, se é isso, vou voltar ao meu trabalho.
- Certo. - O detetive concordou. - Mais uma vez, obrigado pela ajuda.
Após se despedirem e saírem do hotel, Susie se espreguiçou e riu um pouco enquanto pedia um motorista pelo aplicativo do celular.
- Você mente muito mal. - Ela disse. - "Eu me distraí"...
- Não é do meu feitio fazer isso...
- Mas então, o que você viu exatamente que te distraiu?
- Nossa próxima interrogada... - Thompson disse olhando para a companheira. - Depois do almoço, nós vamos atrás de Tânia Ruby.
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Sal e Sangue
Misteri / ThrillerAutor: HT Salles Revisora: Iris D'Lumiere As férias de verão do Sunset High School começaram e não existe nada que combine mais com o verão do que as praias da Califórnia! Por isso, os amigos Fred, Sunny, Peter, Alex e Stacy decidem usar todo salár...