| SETE ANOS NO PASSADO |
SubmersoCada pessoa reage de um modo dissemelhante diante da morte de alguém querido. Seokjin não conseguia visitar o túmulo do melhor amigo e encarar a lápide cinzenta em que o corpo de Taehyung estava preservado; uma lápide suja e abandonada, nem mesmo os próprios pais tinham a decência de limpá-la para que o filho tivesse um bom descanso. Jimin não aceitava a morte de Taehyung, ele não queria guardar a imagem pálida do melhor amigo no caixão e nem a pedra riscada do cemitério; para sempre haveria um Taehyung sorridente em suas memórias, espero eu. Eu o entendia. Será que um dia ele retornaria?
Eu por outro lado decidi visitá-lo naquela tarde de sábado verdosa e enfadonha. Mamãe não poderia me acompanhar por estar presa no trabalho e eu agradecia, eu precisava de um tempo a sós com Taehyung. Em minha mochila o diário dele pesava e as últimas páginas lidas martelavam minha cabeça.
Eu queria poder ter a chance de viver o que me foi destinado
Por que eles são maus? Ninguém me amaria de verdade ? Se eu morrer, ninguém se lembrará de mim?
Hoje jimin e eu fomos até a praia de lapuche caçar caranguejos. Jimin chorou porque eu o fiz prometer que todos os meses deixaria rosas amarelas no meu túmulo caso eu partisse. Ele disse que eu estava delirando. Infelizmente não. No dia seguinte ele firmaria a promessa?
Vida desgraçada o que vem preparado para mim? Mais uma dor, um castigo, mais lágrimas ao anoitecer? Conte-me enquanto a tempo.
Eu terei alguém que se lembrará de mim? Ou será apenas você que está lendo esse diário? Eu sou um barco velejando em alto mar, nós deveríamos nos encontrar? Fico pensando se você ainda se lembrará? É o que passa em minha mente. Um dia será apenas sobre você então por favor, me guarde para sempre, nem que seja em uma velha caixa de sapatos
Jimin levou rosas amarelas ao túmulo de Taehyung. Quando? Ele retornou apenas para deixá-las? Queria que fosse verdade, mas aquelas rosas foram deixadas há exatamente um mês, elas estavam murchas e quase que desmanchadas pelas chuvas de Fox. Jimin o visitou antes de partir e meu coração quis chorar. De frente para a lápide, finalmente respirei fundo. Tão solitário… Ele poderia me ouvir de algum lugar? A brisa gelada batia contra a pedra levando algumas pétalas desmanchadas de rosas amarelas.
Então assim ele se acabou: vivera tão pouco, catorze anos de angústias, dores, sem amor, com lamúrias e a morte o buscando tão facilmente. Depois, parado dentro de um túmulo abandonado, sem visitas, sem rosas, sem velas para que seu caminho em outro paraíso fosse iluminado. Aquele era o fim de Taehyung.
— Sinto muito, sinto muito mesmo — Tentava pegar os panos que trouxe dentro da mochila, porém minha visão se manchava com as lágrimas que surgiam.
Será que alguém chorou em sua lápide?
Aqueles panos de nada adiantaram, entretanto, fiz o possível para limpar a poeira e areia do seu túmulo. Pegando as rosas que Jimin havia deixado e guardando em uma sacola e depois as guardei na minha mochila.
— Gosta de lírios?
Taehyung não mencionou que gostava da flor que eu carregava em mãos, mas eu poderia deduzir que elas eram importantes por estarem desenhadas em seu guarda-roupa e por crê nas palavras da sua bisavó. Eu estava às levando ao túmulo de Taehyung porque eu era a sua pessoa destinada. Poderia parecer desespero e culpa da minha parte. Mas não, não era. Eu sentia porque a dor dele me desmoronava, suas lágrimas desapareciam no canto dos meus olhos, eu desejava ter conhecido a ele e eu estava chorando pela a morte de Taehyung.
Descansei os lírios na lápide agora mais limpa. Eles pareciam agradecer ao meu ato. Ajoelhado ao pé do túmulo fiz os movimentos de em nome do pai, do filho, do espírito santo e amém.
— Eu ficarei com seu diário, tudo bem para você? Acho que sim — Enxuguei as lágrimas com a barra do meu moletom, mas de nada adiantava porque mais lágrimas eram derramadas. Toquei a pedra cinza e estava tão gelada, aquele não era o toque dele — Eu não consigo ver seu rosto e isso me deixa triste.
A imagem dele na fotografia ainda permanecia borrada e ofuscada aos meus olhos, me sentia angustiado, eu queria saber como era seu rosto mesmo que minha mente me avisasse que sua faceta me era familiar. Eu sentia que Taehyung não era um total desconhecido, que os olhos dele já se encontraram com os meus, que o toque dele era capaz de me enlaçar. Taehyung me fazia falta.
Eu me lembraria de como o meu mundo parou quando a alma dele se foi. Quando suas pegadas foram apagadas e eu tropeçava sozinho nas estradas sentindo um peso usufruir meu âmago. A primavera não voltaria a florir novamente, tudo estava morto, eu teria de correr contra as nuvens negras dos meus demônios para sobreviver. Seria possível Taehyung segurar minha mão pelo menos uma vez? A vida continuaria, porém, a sua nunca mais sairia do lugar
— Tenha um bom descanso, Taehyung.
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— Admita seu desgraçado, todos aqui viram que você matou Taehyung! — Eu perdi o controle assim que atravessei os portões da escola na segunda-feira. Eu não aguentava viver sabendo que os culpados estavam vivendo suas vidas normalmente — Você é um idiota egoísta.
Desferir um murro em seu estômago. Raul era o nome dele. Ele gemeu por instante mas desistiu de revidar quando o diretor apareceu no corredor.
— Sabem quem é esse fela da puta? O valentão que se acha o rei da escola. O responsável por embebedar um inocente na festa do Namjoon!
Pouco me importava se estavam todos me olhando assustados ou com zombaria. Eu senti a raiva consumir meu sangue. Mais raiva ainda por saber que nada era possível fazer Taehyung voltar a viver, ele estava morto.
— Este armário pertencia a Taehyung, o garoto que se suicidou porque aqueles vermes faziam ele de capacho — Apontei para os três culpados escondidos na multidão — Porque ele não tinha o amor dos pais, porque ele estava sozinho. Estão vendo esses cartazes sobre a porra do suicídio? Eles não estavam aqui antes, foi só Taehgung se matar que a porra do diretor acordou pra vida.
— Jungkook, chega. Vamos sair daqui — Jin tentou me puxar pela cintura.
— Não, Jin. Eles precisam saber, a verdade sempre vem à tona não é? Raul embriagou Taehyung, esculachou ele e o deixou para morrer!
Qual seria o desfecho para aquela situação? Nenhuma porque ninguém ligava verdadeiramente para o fato de que Taehyung se suicidou. Todos estavam fazendo pouco caso. Era só mais uma vida que foi embora. Jimin para sempre fugiria, Jin para sempre viveria com a dor de perder os dois melhores amigos e quanto a mim, choraria todas as noites com a falta do toque dele sem nem mesmo tê-lo.
Taehyung e Jungkook eram destinados. Eu tive a certeza quando naquela noite sonhei com seu rosto. Os anos seguintes foram infelizes. Jimin jamais retornou, Seokjin sumiu sem deixar rastros e me deixou sozinho na Fox . A cidade que nunca mais consegui abandonar porque quem eu amava estava enterrado naquelas terras.
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Neptuno 🌑
SpiritualDEPRESSÃO| CONTO| ESPÍRITUAL Era 21 de julho quando eu presenciei as lágrimas de netuno se espalharem pela cidade de Fox. Quando senti minha pele queimar com a gelidez que circulava sua corpulência enfraquecida. Sua imagem permanecia borrada aos me...