DRACO LUCIUS MALFOY - P.O.V
Eu não sabia exatamente dizer quando tudo tinha mudado.
Acho que se fosse para começar a explicar essa história, eu deveria começar pela primavera, meados de março de 1997, quando as flores abriam-se preguiçosas e os ventos cortantes se alegravam em arrepiar os habitantes da pequena cidade de Polperro.
Nós tínhamos poucos habitantes e um grande número de visitantes por conta das paisagens da cidade, mas de forma geral, era uma cidade pacata até demais. Todos se conheciam desde o nascimento.
Eu era filho de uma das famílias ricas e fundadoras da cidade, os Malfoy, um lar frívolo e sem aparição de afeto nenhum. Foi de forma gradual que eu percebi que ser filho do Prefeito da cidade trazia sérias consequências, mas minha avó paterna, Elisa Malfoy, fazia questão de presentear com seus mimos a minha pequena infelicidade de não ter carinho dos meus pais.
Ela sempre fazia questão de contemplar todas minhas apresentações, todos os meus ensaios da orquestra pequena que tínhamos na cidade — eu era um violinista —, e nunca ligou de que meu avô Abraxas fosse um homem que detestasse essas demonstrações de carinho.
Elisa Malfoy era uma mulher honrada e uma avó incrível. Eu a tinha como mãe, assim como ela tinha eu como um filho perdido que ela teve o esforço de ensinar o mínimo da decência humana. Eu fiquei profundamente magoado em me despedir dela.
De certa forma, imaginei que minha avó fosse embora nesse clima. Na primavera. Não tinha cenário melhor para testemunhar seu "Adeus definitivo''. A última vez em que ela me permitiu vê-la e senti-la e fez questão que fosse em meio a melhor estação do ano.
A primavera. A beleza que há na natureza que minha avó sempre fez questão de tentar me ensinar a enxergar, mesmo que eu achasse biruta demais ficar nos meios das árvores ouvindo o som da água ricocheteando nas pedras.
"— Aprecie a beleza das coisas enquanto elas são simples e genuínas."
Foi a última coisa que eu ouvi dela. O último ensinamento que ela deixou para mim e talvez, o mais importante. Porque ninguém fez questão de chorar no seu funeral e eu mandei para o ar a dignidade Malfoy enquanto me debulhava em seu caixão fechado.
Eu permaneci dias sem sair do quarto, sentindo que não conseguia mais ver a beleza nas coisas sem aquela velha biruta para me ajudar a levantar e enxergar as coisas que estivesse além dos olhos comuns.
Porque Elisa Malfoy conseguia fazer isso. Ver além do que os olhos humanos conseguissem captar, então eu me contentei em saber que nunca iria conhecer alguém tão magnífico como ela. Como minha mãe.
— Vamos, Draco — pediu Laisa, a governanta.
— Eu não quero ir para a escola — respondi mal-humorado, mesmo sabendo que não tinha muito o que fazer além de acatar as ordens do meu pai.
Meus pais respeitaram o meu luto durante os primeiros dias, mas depois de ver que eu estava um mês faltando às aulas eles não me deixaram alternativas a não ser ir.
Era totalmente justificável que eu estivesse com aquele humor intragável, jogando azarações para quem quer que fosse ao meu lado, com ódio enchendo as minhas veias. Eu queria ter ido com ela.
Eu não tinha ninguém. O sentimento que me abateu primeiro foi este... eu estava sozinho depois de muito tempo tendo aquele carinho unilateral de minha avó. Agora eu não tinha mais ninguém além da doce memória de Elisa Malfoy.
A cozinha estava vazia e eu já tinha percebido que meus pais tinham saído há muito tempo, sem me esperar para o café da manhã que eu era obrigado a passar com eles e eu agradeci por esse pequeno gesto de que eles ainda estavam respeitando o meu luto.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Clair de Lune | drarry
Fanfiction"Aprecie a beleza das coisas enquanto elas são simples e genuínas." Aquele tinha sido o conselho mais engenhoso que tinha recebido na vida. E eu segui fielmente ele. Porque não existia outra forma suficiente que conseguisse explicar Harry Potter e o...