O Reflexo da Verdade

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Um rapaz encontrou um espelho de bolso, bafeja-o para dar-lhe polimento, mas é surpreendido pelo reflexo de uma moça tristonha que parecia querer perdi-lhe algo. Assim que desapareceu a névoa do espelho, desapareceu também o rosto da moça. O rapaz bafeja novamente e outra vez o reflexo tristonho lhe apareceu.
Lucas, mais uma vez, tenta se convencer que está tudo em sua cabeça, que nada que via, ouvia, sentia, era real.
Tudo começou quando Lucas, saiu da casa de seus pais, comprando uma velha casa com dois andares. A casa era mais antiga da cidade. Por conta disso, muitos rumores e suspeições não demorou para aparecer.
Tudo estava correndo bem, com sua pequena mudança para a "nova" casa, abrindo as caixas, colocando tudo em ordem. Certo momento enquanto ele estava na cozinha,colocando pratos nos armários, Lucas sentiu como se alguém o observasse, seguido de um calafrio na espinha. Então ele para o que estava fazendo, agora tenso, sentido medo, medo de uma nova vida,medo de um recomeço,ele no seu íntimo lutou para não deixar esse medo seguir,afinal ele era um *Homem*como seu pai afirmara quando ele saiu de casa para viver sozinho.Na manhã seguinte levantou como de costume foi tomar um banho,ao se secar notou *novamente* no reflexo agora do espelho do banheiro,viu novamente um rosto de mulher triste ao observa-lo,ele desviou o olhar tentando evitar o contato.Já pronto tomou uma xícara de café puro sem açúcar e correu para rua.Ao retornar para casa passou antes em uma floricultura e comprou flores e algumas hortaliças para dar vida ao seu pequeno casebre. No jantar fez Macarrão com queijo já que era o único prato que realmente sabia cozinhar(tinha que melhorar na cozinha ou logo não suportaria ver macarrão com queijo na sua frente)jantava assistindo TV onde passava o filme onde (Um rapaz doente terminal) o doente terminal morre deixando a mocinha aos prantos( tão clichê )...lágrimas caíram de seu rosto enquanto mastigava e percebendo que se sujava com queijo foi até o espelho ver seu rosto e averiguar onde mais nele havia queijo...novamente o reflexo de uma moça triste que agora chorava apareceu ,ele agora tenso bate (dando um soco) no espelho o quebrando.....Não era justo ele está passando por aquilo, justo agora que se sentia tão bem,quase livre,livre de sua mãe evangélica fanática e mais livre ainda de seu pai tirano que não cansava de (lhe) dizer o valor de ser um *homem*.Porque aquele(a) moça chorava? o que ela queria dele afinal?...
Depois de limpar o rosto que antes estava sujo de queijo, Lucas desse as escadas e sai de casa, tentando esfriar a cabeça e relaxar um pouco. Às 11:30 da noite, volta para casa, nesse tempo todo estava em um pequeno bar, bebendo alguns drinques, para relaxar sua mente. Sua casa estava silenciosa. Tonto e cambaleando Lucas apenas quer sua cama,dormir profundamente. Chegando em seu quarto, se depara com seu grande espelho, e mais uma vez ele vê a moça, ela estava com nojo, nojo dele,não importava o que fazia, ou agia, ele sempre se verá nesse corpo,ele se vê como aquela moça, triste, presa, sufocada pela sociedade, jamais seus pais iriam aceitar que seu "filho" era uma mulher, por isso ela o via com nojo, nojo de sua covardia por si próprio.
Na manhã seguinte,Lucas não quer ir trabalhar, sente um vazio, um desânimo de ser quem era, uma "mulher", seu pai o mataria se imaginasse que seu único filho, era um homossexual. Ele si odiava, porque ele não era como todos os homens? Loucos por mulheres,por festa, por bebida, e o principal, por sempre ter uma companheira para sua cama. Tirando suas energias, se dirige para o banheiro, olha no espelho o encarando.
---Vc é uma aberração! Vc é um erro!-- dizendo isso, era como facadas em seu coração, ele chorava, soluçava, sempre quis ser um filho "perfeito" que seus pais mereciam. Depois de chorar até seu nariz ficar vermelho, ele entra no chuveiro, ele olha para seu corpo agora nu.
"Eu sou um homem, mais porque eu não me vejo assim? Como qualquer homem, eu deveria estar casado e com filhos... Porque eu tenho que ser infeliz? Me casar com uma mulher, para estar na sociedade?..." suas lágrimas se misturavam com a água do chuveiro, ele não queria morrer infeliz, preso como um passarinho na gaiola, ele tinha que se libertar!
Mais tarde naquele mesmo dia, Lucas vai á floricultura, comprar flores para sua casa o alegrava de alguma forma. Ele vê diversas flores,rosas, orquídeas, girassóis, tulipas de diversas cores, decidido a comprar uma orquídea branca, ele se dirige para o  funcionário da floricultura, ao invés de encontrar Katia, a funcionária, ele se depara com um homem alto, 1.75, cabelos loiros e olhos castanhos na cor mel. Lucas sentiu algo que nunca achou que poderia sentir, sentiu borboletas em seu estômago, aquele homem não só mexeu com sua mente, mais também com seu coração.
---Posso ajudar?- pergunta o rapaz, Lucas não pode nao reparar o quanto alto ele era, Lucas com apenas 1.62, aquele homem era realmente alto.
---E-eu vou levar essa a-aqui!--Lucas se amaldiçoada por estar gaguejando daquele modo, ele estava nervoso, sua cabeça não se pensará em nada, exato naquele rapaz em sua frente.
---As orquídeas? Uma boa escolha senhor, sempre foi apaixonado por orquídeas, principalmente as brancas como está, delicada e frágil...--Foi nesse momento que seus olhos se encontram, não duraram nem 5 segundos, mais foi o bastante para Lucas ficar corado, e não só ele, Ele percebeu que o belo rapaz também estava nervoso
O rapaz agora coloca a orquídea em um vaso, o emprulha colocando um lindo laço.
---São 7 dólares
Lucas coloca a mão no bolso a procura da carteira, ao não sentir-la, fica envergonhado, a procura por seus outros bolsos, pela sua blusa, mais não a encontra, Ele  percebendo o nervosismo de Lucas, pergunta.
--Algum problema senhor?
Lucas  agora mais vermelho do que nunca, estava envergonhado.
---Eu esqueci minha carteira...-- Diz quase como se fosse um sussurro . O rapaz fica sem graça também, mais diz algo que tranquiliza Lucas.
--Posso fazer por conta da casa, mais vc me deve um café!- diz dando um sorriso lindo, no qual Lucas se derreteu por dentro então pergunta:
--Mais isso não te trará problemas?
--Não,eu sou sobrinho de dona Kátia, sou quase um filho para ela, ela é como uma mãe para mim, posso lhe dizer que essa orquídea estava em péssimo estado para vender, aliás, qual seu nome se me permite perguntar?
--L-Lucas, meu nome é Lucas!- porque gaguejo tanto?
--Lucas! Que belo nome! A minha mãe, quando eu nasci, ela queria que meu nome tivesse sido Lucas! Ela achava que combinava mais comigo, bem, como fui crescendo ela percebeu que Danilo combinava com meu "ser"...Vc é novo por aqui? Ou eu nunca te percebi...o que é algo raro! gosto de observar as pessoas!--Lucas ainda estava envergonhado mais amava aquela voz e como o trata, era alegre e espontânea.
---Sou novo sim aqui na vizinhança, me mudei para aquela casa velha que fica à duas casas ao lado do cemitério.
--Uau! Que assustador! Dizem que as almas que não encontram a luz ficam presa nessa casa, como mariposas atraídas pela luz! Vc não tem medo de fantasmas? Eu particularmente eu não acredito muito nessas coisas!
---N-Não tenho medo...É uma casa agradável!
---Bem, se ver algo, me chame!--falando isso, Danilo lhe entrega um papel pequeno dobrado.
---Adoria ver um fantasma!-- Danilo o fita por alguns segundos. Lucas estava ficando incomodado, esses olhares mexiam muito com ele, ou ele estava apenas imaginado coisas.
---Obrigado por tudo Danilo! Eu lhe devo-Lucas é interrompido por Danilo.
--Pode me chamar apenas de Dani, é assim que meus amigos me chamam, vc não deve nada, apenas um café já está bom!- Danilo dá uma risadinha
--Mesmo assim, muito obrigado! --Lucas pega sua orquídea e sai da floricultura, com sua mente em Danilo.Chegando em casa, Lucas coloca o vaso em cima da mesa, ainda sentido suas bochechas queimarem, sobe as escadas correndo, entra no banheiro e toma um banho. Lucas se sentia sujo, sentia sentia por Danilo e a forma como agia com ele, era de todas as maneiras errado, não era o correto, porque gagueja ao falar com ele?Porque sentiu borboletas sobrevoarem seu estômago? Não tinha como negar, Lucas estava apaixonado por Danilo, uma paixão a vista, na qual ele fará de tudo para cortar pela raiz.
Agora sábado, Lucas sentado em sua mesa com o número de telefone em suas mãos, uma parte queria ligar para Danilo, a outra queria rasgar aquele papel,ele não tinha dito que iria fazer de tudo para cortar pela raiz? Bem, não era algo tão fácil.
Deixando o papel de lado decide ligar para sua mãe, para saber se tudo estava bem em sua casa.
-- Alô? Mãe?
-- Olá meu filho querido! Como vão as coisas na sua nova casa?
--Vão bem mãe, e como está o pai?
--Ele está bem graças a Deus! Seu pai  está no trabalho, mais quando ele chegar peço para te telefonar!
-- Está bem mãe... Mãe? Posso te fazer uma pergunta? -Lucas estava sentido duas mãos suarem.
--Pode meu querido!
--A senhora... Já se apaixonou? Quero dizer, antes do papai.
--Sim claro, como toda menina, na época eu tinha meus 14 anos quando conheçi Alfredo, meu primero namorado, eu estava perdida na vida, nessa época eu não ia a igreja,que era uma vergonha para uma menina da minha idade!
--E o que aconteceu com vcs?
--Bem...- ela fez uma pausa para se lembrar--Nos brincamos muito, ele era muito folgado! Mais que seu pai!
---Imagino...Mãe, o que de fato aconteceu com meu tio Carlos?
Silêncio.
---Mãe?
--De novo essas perguntas meu filho! Por Deus! Seu tio era um maluco da cabeça!--sua raiva aumentará, seu irmão, e tio de Lucas, Carlos era um homossexual,o que deixada sua mãe irada, depois que Carlos se assumiu, ela virou as costas, depois nunca mais se soube dele.
--Aquilo não era de Deus meu filho! É sim do "coisa" ruim!-- para sua mãe, tudo que não era de seu agrado, ou para sua igreja, era do "coisa ruim".
--A senhora nunca quis perguntar como ele está mãe?
--E para quê eu vou fazer isso? Seu tio é um doente! Precisa de ajuda médica, ele se nega que está doente... rezo todos os dias por ele, para que ele se liberte!
"Mais ele está libertado" pensou Lucas consigo mesmo, essas palavras eram como se fosse para ele, duras e frias.
--Lucas tenho que sair, deixei um pão no forno! Depois me ligue novamente querido! Nos sentimos muita a sua falta!
-- Está bem mãe, ligarei sim, manda abraços para o papai, tchau mãe.
Desligando o telefone, Lucas se sentia  mal mais ainda, e mais deprimido, era errado se apaixonar pela pessoa do mesmo sexo? É um pecado tão terrível assim? Fazia anos que ele de sentia preso, e deprimido, queira ser aceito, queria ser amado como era, e não visto como um "erro". Na adrenalina, e coragem, Lucas liga para Danilo, marcando dumingo as 2 da tarde  para se verem para tomar café em sua casa.
Domingo, 1:48 Lucas estava nervoso, fez faxina na casa, tirou os moves dos lugar e os colocou em outros lugares, tomou um banho quente e se vestiu bem, usou até perfume, coisa que não era de seu costume, para o café, fez bolo de fubá, e algumas bolachas salgadas.
Já era 2:00, Lucas estava agora mais nervoso ainda, estava transpirando pela roupa, não sabia o que falar ou dizer quando Danilo chegasse, tinha medo de fazer papel de bobo, de passar vergonha, medo de tudo que pudesse acontecer de errado, seus pensamentos foram interrompidos pela campainha, Lucas vai em direção a porta e olha para o olho-mágico, era Danilo! Ele também estava bem arrumado, aparentava ter tomado banho, se vestido bem, uma camisa apertada para definir seu belo corpo, sua calça azul escuro também era colada ao seu corpo. Lucas abre a porta.
-- O-Olá Dani! Entre por favor!
-- Olá Lucas! Obrigado pelo convite!
--Não precisa agradecer! Vamos para a sala de estar.
Lucas um pouco sem jeito, pede para Danilo se sentar, lhe oferece café e bolo, ao fundo se podia se ouvir uma rádio tocando uma música bem baixa.
-- Então essa é a famosa casa! Nunca vi ela por dentro!- fala Danilo tentando puxar assunto, já que Lucas estava quieto, com timidez.
--Sim... comprei ela não faz muito tempo, apesar de velha ela é bem agradável!
--Minha avó que gosta de casas antigas, ela fala que dão mais "vida" ao lugar!- diz Danilo dando risada. Lucas estava nervoso, tímido, não sabia conversar ou se expressar de uma forma certa.

-- Dani... Vc já alguma vez já se sentiu como não se encaixasse? Como se não fizeste parte do resto do mundo?

-- Quem nunca? Mais por ser diferente é algo bom, não ser como todo mundo quer que sejamos! Eu mesmo já não faço mais a muito tempo... Mas porque vc pergunta isso?

-- Ultimamente eu tenho me sentido estranho...- Algo em Dani me fez querer me abrir pela primeira vez a alguém, sentia segurança, que  talvez, não fosse condenado ou julgado.

-- Diferente como? Solitário?

-- Mais ou menos isso...

-- Eu como pode ver, eu já não faço parte dessa "sociedade", se é que podemos falar assim!

-- Como assim? - Lucas estava curioso para sua resposta.

- Sou homossexual! E sei que vc também é! Vi como vc me olha com dor, eu era assim como vc, triste, preso, sem ânimo para viver, mais graças a minha tia eu estou aqui,vivo feliz!

Lucas não sabia o que dizer, era tudo que ele queria ouvir, sentiu uma imensa vontade de chorar, e foi o que fez, chorou como uma criança.

-- Eu não sei o que há de errado comigo! Sou um erro para minha família! - Dizia aos prantos.

-- Vc não é Lucas, somos únicos e perfeitos!

-- ... Vc acha?

-- Sim, não só isso, vc me chamou a atenção, vc é um rapaz muito belo para viver tão deprimente...- Danilo agora estava bem próximo de seu rosto, sem medo, sem medo, Lucas permite que o beije.

Agora pela primeira vez ele estava livre, realizado, ser o que ele era, criará forças para ser dono de si e de seu destino, livre para ser feliz ao lado de Danilo.

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