Prólogo

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Celebração de Sangue

Aquele casamento era especial na vida de todos, menos na minha, todos seguravam as suas taças sobre a mesa, em um brinde ao jovem casal que ali se formava. 

Sorrisos falsos, olhares gananciosos, histórias mentirosas e George, com uma expressão de deslumbre, olhos que brilhavam refletindo a minha imagem e o sorriso que abria-se de canto a canto em seus lábios enquanto segurava a taça de vinho ao meu lado. Olhei para o meu cálice, vi o líquido avermelhado vibrar levemente em seu interior e no momento seguinte, a clarabóia do teto espatifou-se em mil pedaços fazendo uma enorme e amedrontadora fera de pelos negros cair do céu bem à frente da mesa, absorvendo o impacto da queda e levantando seu olhar faminto a nós.

Vi minha mãe gritar, assustada e ter a cabeça arrancada pelas garras afiadas em apenas um tapa enquanto o sangue dela espirrava em meu pai, ao seu lado, que tentava correr quando a fera enterrou as unhas em seu corpo, o puxando para o chão e arrancando uma parte de seu pescoço em uma mordida, senti a mão de George segurando a minha, desviando a minha atenção da cena, me puxando para o outro cômodo da casa e fechando as portas atrás de nós. Coloquei as mãos na cabeça, ouvindo os gritos de nossos familiares ecoarem por meus ouvidos, sabendo que do outro lado o salão se enchia de sangue.

— Rápido, me ajude a fazer uma barricada! — Foi com essa frase que ele me tirou de um transe, fazendo-me girar a volta de meu próprio eixo, e agir de maneira rápida derrubando a estante mais próxima contra a porta. Era como se eu não controlasse mais nem um músculo do meu corpo, andei para trás, sentindo-me tremer por toda a minha extensão e o medo tomava-me em seus braços.

— O que é aquilo?! — Me abaixei no chão, tentando respirar fundo enquanto ele segurava meus ombros, tentando olhar em meus olhos.

— Eu não sei, mas você vai ficar bem, eu vou te proteger. — Ele dizia com tanta incerteza quanto eu.

O monstro no outro cômodo rugia, jogando-se contra a porta, empurrando a barricada para trás enquanto George corria para segura-lá. Eu levantava, olhando em volta, procurando algo que eu pudesse usar para reforçar a barricada, porém, foi tarde demais, o segundo empurrão não somente espatifou a estante, como também arremessou George aos meus pés e a criatura veio, correndo em minha direção, os olhos vermelhos, a bocarra aberta e eu achei que era o meu fim, mas George se pôs a minha frente e a fera abocanhou seu braço, ficando sobre ele no chão enquanto ele gritava, lutando contra o monstro e eu me virei, apanhando a primeira coisa que vi a minha frente, uma espingarda.

Eu jamais havia atirado antes, nem sequer tinha tocado em uma arma, mas como instinto, eu puxei o gatilho e para a minha sorte, ela estava carregada. Aquele bicho negro urrou, mas não foi de dor, e sim de ódio, soltando o braço do garoto e olhando para mim, naqueles três segundos, a minha vida passou diante dos meus olhos, então George enfiou-lhe uma faca na lateral do peito, na altura do coração e a vida rapidamente se esvaiu daquele faminto olhar sanguinário, fazendo-o cair sobre o garoto e eu arremessei a arma no chão, ajoelhando ao seu lado, tentando ajudá-lo.

— George! — Eu soava desesperada, como realmente estava. Olhando seu braço que encontra-se em estado crítico. — Pelos Deuses... o seu braço!

— Me ajude a tirar ele de cima de mim. — Ele empurrava com o único braço que conseguia mexer e eu ajudava com toda a minha força.

— O que foi aquilo? — Eu o ajudava a levantar, com lágrimas escorrendo por meus olhos enquanto ele se apoiava em mim e caminhávamos para o salão.

— Um lobisomem... — Ele disse se apoiando em um pilar enquanto eu o largava olhando em volta, vendo as tripas, cabeças e sangue por toda parte e tudo o que eu consegui fazer foi me ajoelhar no chão e chorar, vendo tudo que eu tinha se tornar nada à minha frente.

As Crônicas de HorgfellOnde histórias criam vida. Descubra agora