capítulo único.

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Perder ela foi com toda certeza o pior dos baques, perder a mulher da sua vida foi como perder uma parte do seu coração, o vazio que sentia toda vez que olhava para aquele lado vazio da cama. Olhar as roupas dela nas ordens de cores, ele sentia o coração vazio, quebrado. Era como se, nada mais fizesse sentido sem ela, a vida sem ela era um completo nada.

E ali, parado naquela lápide encarando ela até achar que Paula estava à sua frente, até sentir o sorriso dela e a mordida provocativa nos lábios que ela sempre fazia. Parecia mentira, parecia mentira a morte ter escolhido ela. Justo agora.

Justo agora que Paula conseguiu firmar a relação com Ingrid, que descobriu que Flávia era sua filha, justo agora que eles finalmente conseguiram se casar e realizar os sonhos juntos.

Conseguiram se amar do jeito que mereciam, eles finalmente estavam felizes.

Mas aquela maldita, aquela maldita Morte.

Paula havia falecido do mesmo jeito que Celso, mas sem a bebida. Foi uma briga com Carmem Wöllinger que a fez tropeçar e cair do Terraço.

Havia chances dela sobreviver, chances altas.
Mas a morte foi mais rápida e a levou.

Levou uma parte dela, e deixou a outra aqui.

Neném se lembrava exatamente do dia em que viu o amor da sua vida desistir.

O hospital era gelado demais.
Ele andou em passos lentos até o quarto da esposa, entrando no quarto e deixando as flores ao lado da mesinha. Sentou-se na poltrona ao lado da cama de hospital e entrelaçou as mãos com a da esposa.

— Te prometi que viria aqui todo dia te contar tudo que está acontecendo, Paula Terrare o que há de melhor.com, não pode ficar sem saber de tudo o que rola no dia a dia, né? – ele riu, depositando um beijo na mão dela. — A Ingrid e o Murilo estão muito felizes, ela tá tocando lá no bar do Gabriel junto com o Murilo e a Vanda, a Tina e a Bibi também estão lá, Bibi auxilia os shows e a Tina ajuda com os sons. Elas estão tão ansiosas para visitar vocês, aliás, ele tá super bem, já saiu da incubadora, logo logo eu trago ele pra te ver. – ele começou a brincar com o anel no dedo dela, girando ele. — Meu amor, eu sei que você vai sair dessa, você não vai me deixar assim, a gente vai viver o nosso amor como você sempre quis, porque eu te amo e eu não vou perder você.

Foi como se, ele estivesse em um pesadelo, os aparelhos começaram a apitar.

Não, não, não! – ele gritou, se levantando e gritando pelos médicos.

Guilherme tentou, tentou de tudo, Joana tentou, todo mundo tentou.
Mas ela não resistiu.
Paula se foi.
O amor da sua vida, se foi.

Ele a abraçou, entrelaçou as mãos deles e deitou a cabeça no peito dela, chorava como uma criança. Ele distribuiu inúmeros beijos pelo rosto dela e deixou um beijo em seus lábios. Ele soluçava à medida em que Guilherme segurava o seu corpo o levando para longe, foi levado para longe. E quando Neném atravessou o quarto, quando apareceu naquela salinha todos sabiam. Ingrid caiu em um choro alto e agonizante, foi abraçada por Tuninha que aquele ponto também chorava pela morte da filha, Guilherme deixou Neném aos cuidados de dona Nedda e abraçou Flávia.

Não deveria ter sido ela.

Neném saiu do transe quando pequenas mãozinhas balançaram e chamaram sua atenção, ele voltou a observar a lápide de Paula.

"Aqui jaz Paula Terrare, mãe, filha, esposa e o que há de melhor.com."

Neném passou a mão pela lápide, o rosto estava molhado por lágrimas.

— Neném. – a mão de Guilherme tocou seu ombro. — A gente precisa ir, esse sereno não vai ser bom pra ele e nem pra você.

— É filho. – Nedda se agachou ao seu lado, apertando seu ombro em forma de apoio. — A gente precisa ir.

— Amanhã você volta. – a voz de Flávia ressoou em seu ouvido, parecia estar em um transe e ninguém conseguia tirá-lo de lá.

Neném assentiu, e passou eternos minutos olhando para aquela lápide, até que decidiu ir embora.

— Dá tchau pra mamãe, filho. – Neném sussurrou no ouvido do pequeno bebê de três meses, o deixando em pé e o segurando com os dois braços.

Enrico foi o pedacinho que ela deixou para eles, para preencher pelo menos uma parte do vazio que ela havia deixado. Ele era a cópia idêntica de Paula.

Neném foi embora, deixando outra parte dele naquele cemitério. Paula havia sido enterrada ao lado de Celso, como havia pedido, e então saiu daquele cemitério.

Em uma rotina repetitiva de deixar o irmão nas mãos das filhas mais velhas e ir descansar, nem que fosse por dois minutos.

O amor de sua vida havia ido, e ele ficou sozinho.
Apenas com um pequeno pacotinho deixado por ela.

coisa linda. - nerrareOnde histórias criam vida. Descubra agora