06| Who Are You

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— Chan, acho que é o suficiente por hoje! — interrompo, seja lá o que ele fosse fazer, me levantando com pressa — Tá ficando tarde, eu preciso mesmo ir.

Ele me encara confuso, surpreso com a minha reação. Talvez ele não fosse fazer nada de mais, mas eu não queria pagar para ver.

Nossa amizade está indo muito bem e eu não quero que nada estrague isso.

Saio apressada de seu quarto, me despedindo de forma confusa e batendo a porta, me encostando nela pelo lado de fora. Percebo meu peito subindo e descendo rapidamente e me concentro em controlar minha respiração ofegante.

Fujo dali o mais rápido que consigo, pressionando diversas vezes o botão do elevador e olhando para trás de vez em quando, com receio que Chan estivesse vindo atrás de mim.

Chego em meu quarto exausta depois de ter corrido. Me esparramo na cama e puxo o edredom até me cobrir completamente.

Agradeço mentalmente por Maria estar sempre imersa em seu trabalho, com aqueles fones de ouvido enormes, que a impediram de perceber o surto que me consumia ao entrar.

[...]

Entro no estúdio mais cedo que a hora combinada com a produção. Estava ansiosa demais e não aguentaria ficar mais nem um segundo presa dentro daquele quarto de hotel.

Me dirijo à uma das salas de treino e me sento na frente do piano. Não consigo desligar minha mente de todos os pensamentos que a rondam agora. Passo a mão levemente por cima das teclas, acariciando o instrumento.

— Desculpa, mas não sei tocar — digo, na esperança que o piano me escutasse. — Você é mais uma das coisas em que não sou boa.

Por que estou me sentindo assim? Parece que estou aprisionada dentro dos meus próprios medos e fraquezas. E, não importa o que eu faça, não consigo parar de me perguntar o que estou fazendo aqui.

Eu me demiti antes de vir pra cá. Me demiti de um emprego que eu tanto desejei e me esforcei para conseguir durante muito tempo. Estava certa de que deixar a cozinha do restaurante e mudar de vida era o melhor a se fazer, ainda mais depois de tudo o que meu chefe me disse.

Meus primeiros dias lá foram maravilhosos, mas logo a realidade me atingiu. Eu era constantemente insultada, ofendida e destratada pelo chef do lugar. E por repetidas vezes o ouvi dizer que eu não era boa em nada, e, que o único motivo de me contratarem, foi o fato de eu estar em uma universidade de renome.

Bem, eu acreditei. E ainda acredito.

— Posso entrar? — sou tirada de meus pensamentos pelo garoto dando leves batidas na porta aberta.

Não tive notícias de Chan desde o episódio lamentável em que saí correndo de seu quarto depois de ele quase - ou não - ter me beijado.

— Claro, Chan — sorrio fechado. — Entra.

Ele agradece, vindo até perto de mim e se sentando ao meu lado no piano. Seus cabelos loiros estavam bem penteados e ele usava uma roupa diferente da que estou acostumada a vê-lo usar.

— Nervosa? — pergunta, se ajeitando no banco.

— Muito — fito as teclas do piano, evitando o seu rosto.

— Quer aquecer comigo? Parece que nossos adversários ainda não chegaram.

Concordo com a cabeça, afinal, aquecimento vocal nunca é demais.

Chan tocava as notas no piano enquanto aquecíamos juntos a voz. E por incrível que pareça, nesse momento eu nem lembrava mais que antes estava nervosa pela performance. É realmente incrível como ele consegue me acalmar e me fazer esquecer qualquer preocupação tão facilmente.

— Quer ouvir a música que vamos cantar? — pergunta, puxando as mangas do blazer para cima.

— Não tem problema eu ouvir antes dos outros? — questiono, mas minha vontade era aceitar prontamente.

— Talvez — encolhe os ombros. — Mas eu quero te mostrar mesmo assim.

Sorrio com sua fala, assentindo.

Dou um pouco mais de espaço para Chan se mover melhor no piano, mas ele volta para perto de mim, nos deixando próximos da mesma forma em que estávamos antes.

Ele começa a tocar uma melodia lenta e doce no instrumento, que invade meus ouvidos e me faz sentir um arrepio na espinha.

Christopher canta a primeira frase e eu só consigo pensar como é possível que exista uma voz tão linda quanto a dele. Isso é real mesmo ou estou sonhando?

E por que eu tenho a sensação de que morri e vim parar no céu o ouvindo cantar tão esplendidamente desse jeito?

O observo com atenção, apreciando os detalhes incríveis que ele me proporcionava. A paixão em sua voz, a perfeição com que ele atingia cada nota, o movimento leve de seus braços ao tocar o piano e... claro, seu rosto lindo, que parece ficar ainda mais bonito a cada dia que o vejo.

— Chan, isso foi... incrível — o encaro, e tenho certeza que meus olhos brilhavam mais que as estrelas nessa hora.

— Não é tão bom quanto o original, mas eu fiz o meu melhor — ele sorri sem jeito, colocando as mãos no colo.

Me desculpe, Chan, mas você está errado.

Who, do Lauv com o BTS, nunca foi tão bela quanto na sua voz.

[...]

As batalhas começam e eu sinto meu coração palpitar cada vez mais rápido. Nesse momento, estou nos bastidores acompanhada por Letícia, esperando que a nossa vez chegue.

Evito olhar para a TV, que transmite em tempo real o que está acontecendo no palco, não quero elevar ainda mais o meu nível de ansiedade.

— E se a gente fizesse uma dancinha? — a garota pergunta, tentando descontrair o ambiente — Acho que o público ia gostar.

— Tá doida?! — intervenho, rindo por ela pensar que eu aceitaria isso — Quero passar vergonha não, Lê.

— Não vai ser vergonha — insiste. — Vai, Maya, por favorzinho!

Suspiro derrotada. Eu sou péssima dizendo não para as pessoas. Ainda mais para pessoas como a Letícia. Ela é simplesmente um amor de garota, a fofura encarnada e personificada.

— Tudo bem — suspiro, me rendendo aos encantos da ruiva. — Me mostra o que você tá pensando.

A garota fazia alguns passinhos de uma coreografia simples para usarmos no refrão da música enquanto eu tentava acompanhar. Não vou negar que é divertido, ainda mais com todos os erros que cometemos durante o ensaio. Entre nossas muitas risadas e tentativas fracassadas de acertar a coreografia, Christopher apareceu na sala e, não sei se foi impressão minha, mas seu semblante pareceu fechar ao me ver brincando com Letícia.

— Chan! O que tá fazendo aqui?

— Pensei em passar para ver como você tava. Mas acho que tá tudo bem — ele diz, forçando um sorriso e se virando para ir embora.

O que raios deu nele?

— Já vai? — digo, sem entender o porquê dele estar agindo assim.

Ele assente com a cabeça, me dando as costas e caminhando para fora da sala.

— Espera! corro até ele, que se volta para mim.

Seguro suas mãos, acariciando-as por cima com meus polegares. Ele me encara surpreso com a ação.

— Boa sorte na sua apresentação, Chan! — sorrio — Tenho certeza de que vai se sair bem — dou um beijo em sua bochecha.

Ele me puxa para um abraço e eu enterro meu rosto na curva de seu pescoço, aproveitando o carinho reconfortante que seus braços foram capazes de trazer para mim.

— Você também — ele sorri de volta, nos separando. — Vai lá e mostre a todos quem você é!

I Want You ☆ Bang ChanOnde histórias criam vida. Descubra agora