campinho

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mônica estava sentada no gramado do campinho sobre um pano xadrez que cebolinha havia levado enquanto esperava o garoto voltar com os picolés que foi comprar.
a garota analisava o menino de longe, ele parecia tão puro e calmo... como quem jamais faria mal a alguém. e isso era engraçado para mônica.

quando crianças, mônica e cebolinha se amavam;mas eram jovens demais pra saber.
cebolinha era tão encantado pela baixinha, gostava de como ela era menor que ele e de como ela ficava linda quando estava irritada, e então a xingava pra conseguir sua atenção.
cebola só não sabia que aquilo causaria em mônica diversas inseguranças, afinal, se a garota revidava os xingos com coelhadas bem dadas e sempre "vencia", aquilo não a afetava... ou afetava?
e afetava sim.
mônica também era apaixonada por cebolinha, amava as piadas que ele fazia quando estavam a sós e achava o cabelo pra cima do garoto uma graça, um charme que a encantou.
mas mônica chorava por cebolinha na mesma frequência que ria com ele, claro, é péssimo amar alguém e ser zoado por essa pessoa.

— tá na mão, mô! — cebolinha se sentou junto a mônica e entregou a ela o picolé de uva para a garota, que agradeu com um sorriso.

— valeu cebola. — a morena disse e abriu a embalagem.

— não me chama de cebola, mônica. cê sabe que eu odeio! — reclamou e mordeu o picolé.

— então prefere que eu te chame de cebola menezes? — mônica disse e riu fraco.

— qual é? odiei mais ainda. me chama de cebolinha. — o garoto focou o olhar no de mônica, dando um sorrisinho.

— é muito criancinha. cê já ta grandinho! cebola combina mais com tu.

— que se dane. sua boca ta roxa. — cebolinha comentou rindo.

— e a sua ta rosa, idiota. esses picolés tem muito corante! — mônica disse e revirou os olhos.

— você é muito mau-humorada moniquinha! — disse e tombou a cabeça pro lado enquanto analisava a garota.

— não sou! ainda estou de bom humor... não me olha assim. — mônica disse e desviou o olhar.

— estou te olhando normal.

— não tá não.

— e eu tô te olhando como?

— como se me julgasse.

— ah não. — cebolinha revirou os olhos — só achei esquisito você reclamar do corante no picolé, quando éramos menores você comia numa boa.

— eu sei, mas depois de um tempo comecei a controlar mais oque eu comia, sabe? quantas calorias, se faz mal ou não...

— mas aqui você não precisa disso. sou eu, cebola. — disse e deu um sorriso para confortar a garota.

— tudo bem. — mônica disse e deu um sorriso ladino.

ela queria falar algumas coisas, na verdade. queria dizer que sua obsessão sobre tudo que comia foi em grande parte culpa do menezes, que fez comentários sobre seu corpo em toda sua infância e pré adolescência.
mas achou melhor não falar nada, o clima estava bom e cebolinha nem parecia se lembrar de tudo que disse... óbvio.
quem fere, esquece. mas aquele que foi ferido...

— posso fazer uma coisa? — cebola perguntou tirando a garota de seus pensamentos.

— ah, depende. — mônica disse e riu, colocando o palito de seu picolé no colo.

— é uma coisa boa, juro. — cebola disse e jogou o palito de seu picolé no pano.

o garoto então se aproximou de mônica e tirou uma mecha de cabelo do rosto da mesma, olhando para sua boca.
mônica estava receosa com a aproximação repentina mas não conseguia se distanciar, metade de si queria aquilo e a outra metade gritava que não, e ela não sabia qual metade seguir.
enquanto os pensamentos de mônica travavam, os de cebolinha estavam certos. ele queria mônica tanto quanto quis o picolé de morango que comeu.
levou a destra até a nuca de mônica e colocou seus dedos entre os fios de cabelo ali próximos.

— cebola, melhor não. — mônica sussurrou. os rostos tão próximos que a deixava nervosa.

— tem certeza? — cebola disse se aproximou um pouco mais, numa distância muito curta entre os lábios dos dois.

mônica suspirou, queria responder que não, que não tinha certeza. que a única certeza que tinha é que cebola é extremamente atraente e seu lábio parece tão macio que a faz sentir vontade de beija-lo ali mesmo, no meio do campinho, pra todo mundo ver.

— tenho. — disse baixinho, indo totalmente contra sua vontade.

— tudo bem. — cebolinha se afastou e deu um sorriso pra mônica — quer ir pra casa? digo, pra sua casa?

— na verdade vou passar na padaria... encontrar a magali lá. é uma grande gentileza da sua parte, mas não precisa me levar. — mônica disse se levantando.

— eu vou passar lá também, dar um salve pro quinze. — cebola se levantou e então puxou o pano que estava no chão, o dobrando.

— ah... então tá bom.

o caminho até a padaria foi silencioso, um silêncio confortável.
cebolinha estava processando oque tinha acabado de acontecer, ele quase beijou mônica, quase. e queria muito ter realmente beijado.
mas se a garota não queria, pra que forçá-la? cebolinha era muito diferente de quinzinho...

quando chegaram a padaria, cebolinha abraçou mônica e se despediu da mesma, entrando na cozinha da padaria para ver quinzinho – que estava vermelho de raiva pelo que viu.

e mônica apenas se virou para ir embora, já que havia mentido.

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