capítulo único.

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dedico esse capítulo pra mel.
que me pediu pra escrever isso.
espero que goste.

••


Ele sabia que era um trabalho difícil, óbvio. Sabia desde o princípio, desde que Paula havia anunciado que estava grávida, ele sabia que seria uma tarefa difícil. Óbvio, já havia passado por isso outras duas vezes, mas agora era diferente. Ele estava sozinho com essa criança. Não tão sozinho, Betina e Jandira fizeram questão de ajudar Neném nisso, Dona Nedda estava extremamente animada em ser avó novamente e Tina e Bibi ficaram mais animadas ainda, irmãs mais velhas, de um menininho.

Depois do acidente de Paula, ele já sabia que seria feito uma cesária de emergência, que eram poucas as chances do bebê sobreviver e poucas as chances de Paula sobreviver. É claro, existiam esperanças, vindas de todos os lados. Orar para São Judas Tadeu era a melhor das escapatórias, imaginar Paula viva e conversando com ele era, sim, a melhor alucinação.

Quando finalmente conheceu o bebezinho, seus olhos se iluminaram. O coração preenchido por um amor incondicional, revezava entre ver o pequeno bebê e conversar com Paula.

Antes mesmo de engravidar, Paula sempre disse que daria um filho a Neném, um filho homem. Talvez porque quisesse ver Neném jogar bola com o pequeno ou por querer passar a experiência de ser mãe de um garotinho. Ela queria ter essa oportunidade, e ela teria.

Se não fosse a morte.

Paula noticiou a gravidez dias antes de morrer, estava tão animada que pareceu estar nas nuvens. Neném sorria igual bobo, havia comemorado com a família do melhor jeito possível.

Um jogo de futebol.

Em uma conversa com Neném, Jandira revelou que Paula queria que o nome do menino fosse Enrico.

Enrico significa "governante da casa" ou "príncipe do lar".

E assim, ele foi batizado.

Saindo daquele hospital com aquele pequeno pacotinho nos braços, Neném adentrou as portas da casa na Tijuca e foi recebido com uma festa para o pequeno bebê. Bianca foi a primeira a pegar a criança nos braços, sentando-se no sofá com o irmãozinho a menina sorria maravilhada. Tina segurava a pequena mãozinha enquanto admirava o irmãozinho.

Neném fazia questão de vestir o menino como Paula se vestia, monocromático. Mas às vezes ele dava uns gafes e vestia a criança do jeito que queria.

Os primeiros meses foram os mais complicados, principalmente nas madrugadas que nem o colo de Dona Nedda fazia a criança parar de chorar, Neném precisava passear toda madrugada com o menino para que ele se acalmasse. Tuninha disse que era a saudades da mãe, então deixou roupas com o cheirinho de Paula para que o bebê se acalmasse. Vez ou outra, Jandira ou Betina apareciam no quarto para ajudá-lo com o pequeno.

Todos os dias Neném fazia questão de levar o bebê na lápide da mãe, para que pudesse conversar com ela e Neném pudesse sentir a presença de Paula nem que fosse por imaginação.

Os seis meses com toda certeza, foi o mês favorito de Neném, iniciaram a introdução alimentar e o bebê comia de tudo.

— Esse moleque é bom de boca igual o Neném era, lembra mãe? – Roni disse, observando o sobrinho raspar a colher com a sopinha.

— Oh se lembro! Neném comia de tudo, nunca foi chato pra comida. Nem você, nem ele meu filho. – Dona Nedda disse da cozinha, enquanto servia o prato de Bianca.

— Paula iria adorar ver ele comendo assim, quando ela ficava nervosa ela comia igual uma maluca. – Neném riu, negando com a cabeça, sem perceber a troca de olhares da mãe com o irmão.

Os sete meses foram os mais leves, Enrico havia aprendido a engatinhar, graças a Tina e Bianca que passavam todos os dias ensinando o pequeno a fazer isso.

Neném ria toda vez que via Tina engatinhando no chão igual uma criança atrás de um brinquedo.

— Prestem atenção! – Tina gritou, enquanto Bianca se posicionava do outro lado da sala, Tina colocou o irmão no chão para que ele engatinhasse até Bibi.

E assim foi feito, tendo uma alta comemoração naquela sala.

Os oito e nove meses passaram voando, agora Tina e Bibi ficaram com a missão de fazer o irmão andar. E assim foi feito, passaram dois meses tentando.

Com dez meses deu certo.

Com onze precisaram colocar grades em todos os lugares.

E logo que o primeiro aninho chegou, Ingrid sugeriu fazer uma pequena comemoração para ele. Fizeram uma festa linda, com toda certeza Paula iria amar aquilo tudo.

Agora, só restava se divertir com aquele pacotinho. Doze meses cuidando de alguém tão parecido com Paula, que tinha os mesmos olhos, o mesmo sorriso e o mesmo jeitinho animado de ser. As covinhas que quando sorria derretiam qualquer um.

Estar no campo de futebol com os filhos era extremamente gratificante, imaginar Paula na arquibancada torcendo por eles o fazia sorrir cada vez mais.

— Vai, Enrico! – Bianca gritou, enquanto Tina corria do lado do irmãozinho. — Faz um gol pra mim!

Neném observou quando o garoto deu um olé em Martina e correu até o pai, que abriu os braços e o pegou em um abraço. Colocou novamente o menino em frente a bola e se agachou na altura dele.

— Vai filho, faz um gol pra mamãe. – ele sussurrou, levantando-se e deixando o bebê correr atrás da bola.

E assim ele fez um gol, que foi extremamente comemorado por Osvaldo, que pegou o neto no colo e correu pelo campo.

••

O final da tarde era sempre o mais melancólico, Neném já havia se arrumado e arrumado Enrico e seguiu rumo ao cemitério. Deixou as flores em frente à lápide e se agachou, entrelaçando o braço na cintura do bebê, para que ele não fugisse.

— Hoje o dia foi muito legal, né? – ele olhou para Enrico, logo depois se voltando para a lápide. — Enrico jogou bola e fez um gol pra você, você viu né? Hoje ele tá de azul, com aquele conjunto que você viu naquela loja. Paula ele tá cada dia mais parecido com você, tirando as covinhas que a gente tenta até hoje desvendar de quem ele puxou.

Neném riu.

— Oh coisa linda, você tá se saindo tão bem com nosso pequeno. – Paula disse, sim, na sua frente.

Provavelmente ele estaria louco.

— Você é um ótimo pai, Neném. O melhor do mundo! – ela sorriu, e um piscar de olhos, ela sumiu.

Enrico que brincava atentamente com o brinquedo, atraiu a atenção do Neném quando pronunciou:

— Mamãe. – em alto e bom som, a vozinha infantil disse a primeira palavra.

Neném não esboçou outra reação a não ser virar um poço de lágrimas e abraçar o menino.

— É a mamãe filho. – ele sorriu, dando uma última olhada para a lápide, os dois saíram do cemitério.

Era uma rotina repetitiva, mas que ele jamais se cansava.

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⏰ Última atualização: Mar 21, 2022 ⏰

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