capítulo dois.

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Quanto mais longe você chegar, mais afiadas serão as navalhas. Era algo que seu pai costumava falar à ela, mas ao longo de seu crescimento a comunicação foi ficando escassa. Não que eles não mantivessem uma boa relação, Cal nunca faltou com os deveres de pai, e Saiya nunca o desprezou. As coisas só mudaram rápido demais, e quando se deram conta, os dois estavam mais reclusos e parecidos um com o outro do que imaginaram que seria possível. Do que qualquer um imaginava que era possível.

Saiya sabia do passado de lutador do pai, algo que ele havia confidenciado apenas para sua única filha, ela refletia se talvez, isso tenha sido algo que ela puxou do pai. Algo bom. A garota estava ciente de que se investisse nisso, poderia ir mais longe do que o mais velho. Imaginava onde será que seu pai teria chego com as suas habilidades se a vida não tivesse outros planos para ele.

Ela também sabia que o pai sentia falta de sua vida antes de tudo mudar, antes de Aaron. Era nítido que Cal não gostava do mais velho, achava que ele não tinha coragem, inteligência e que não fazia ideia de porra nenhuma. Saiya nunca foi muito próxima do primogênito dos Jacobs, e apesar de nunca ter visto algo significativamente grande vindo dele, não concordava com o pai.

Assim como Nate, ela não gostava muito de sua mãe. Achava que ela era fraca, que se rendia facilmente ao que seu marido queria, não exercia suas próprias vontades. Mas ela tinha que dar pontos a Marsha por ter engravidado de seu pai quando teve a chance, ela viu um pote de ouro onde outros só enxergavam um pirralho no tatame - Ela sabia que com sua obstinação, Cal subiria na vida - e ele era exatamente a passagem que Marsha precisava para subir também. 

Saiya não tinha ido para festa de  McKay, ela sabia que se fosse acabaria enchendo a cara em copos descartáveis com líquidos de péssima qualidade, e estava tentando se livrar disso. A menina havia começado a beber cedo, aos seus 13 anos já ingeria a maior variedade de destilados que conseguia arranjar com sua pouca idade, e isso já trouxe problemas demais.

Então preferiu usufruir da oportunidade de que não haveria ninguém para ponderar onde ela estava, e foi ao seu nem um pouco requintado refúgio, se é que pode se chamar assim. O motel onde sucedia todos os encontros de seu pai, assim como os dela também. Sai nunca tinha se relacionado emocionalmente com alguém, e ela estava bem com isso, as vezes eu me perguntava se ela realmente seria capaz de se conectar com alguém em algum momento, uma conexão além da junção que existia com Lissa, da qual ela havia tentado se livrar múltiplas vezes, sem sucesso.

Lissa Grayson. Um nome não muito desconhecido pela cidade, Darian Grayson era um grande filantropo na cidade. Lissa era sua esposa, interpretava tal papel sempre que necessário, era uma mulher de trinta e cinto anos mesmo que não aparentasse a idade, era loira e tinha um corpo alto e esguio, um sorriso branco que iluminava o olhar de todos, a mulher perfeita para alguém que vive de aparências.

A mais velha tentava manter-se o mais magnífica possível para as câmeras, mas assim que eram desligadas ela corria para os braços da Jacobs mais nova.

De alguma maneira, a vida secreta que levava com a garota dezoito anos mais nova a fazia se sentir jovem de novo  - e ela não estava disposta abandonar isso tão cedo - se parasse para analisar um pouco, olhando nos olhos da menina de dezessete anos quase se enxergava, num passado distante, conseguia distinguir os pontos em que elas se encontravam de maneira que poderia causar um cataclismo na vida da loira.

Ambas estavam cientes de que um passo em falso e uma catástrofe se formaria, se qualquer uma das duas se espetassem com o lado errado do palito, um frenesi seria causado na outra parceira, e nada de bom poderia sair disso. Talvez seja por isso que Saiya se encontrava mais uma vez deitada no quarto penosamente conhecido por ela.

run and hide, cassie howardOnde histórias criam vida. Descubra agora