Capítulo 2

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Hanna

É melhor retirar-se e deixar uma bonita lembrança, do que insistir e virar um verdadeiro incômodo. Você não perde o que nunca teve, nem mantém o que não é seu. Se você é forte pra dizer adeus, a vida te recompensará com um novo “olá”.

- Scarlett Smith

Saulo não percebeu, ele nem notou a névoa que se formou em meus olhos quando veio a minha porta 4 dias atrás dando a notícia de que havia passado na prova, ele tirou pontuação máxima, claro, ficamos meses estudando, até eu, se tivesse tido a mesma oportunidade conseguiria uma nota boa de tanto que repassamos tudo que o tio dele separou para que ele estudasse. Saulo sempre foi esforçado, hoje vamos fazer uma festa de despedida para ele na congregação, todos estão animados como se fosse ano novo, para ele talvez não faça diferença, a saudade não irá afetar como já está me afetando sem ele nem ter ido ainda, para mim será sim um ano novo, um ano sem ele, não, serão vários anos sem ele, vários…

Ouço a porta do meu quarto abri devagar e me viro achando que é minha mãe, mas não, Saulo está parado encostado no beiral da porta me observando, não consegui enxugar meu rosto e nem disfarçar minha tristeza então me viro de volta para o espelho de pressa para disfarçar.

— Ainda não estou pronta — me forço a dizer, tentando não gaguejar.

— Não está pronta para o que? Para a festa de despedida ou para se despedir de mim.

Olho através do espelho para ele, seu rosto está sério e me encara com firmeza, seus braços cruzados mostra autoridade, ele sempre fica nessa posição quando está tentando se controlar.

— Da festa, é claro — respondo, volto a me concentrar no meu reflexo e passo o rímel em meus silhos, vejo de relance Saulo contrair a mandíbula. Ele está mesmo se controlando, está com raiva, mas de que? De mim? — Está animado? — Me arrependo assim que pergunto e vejo ele erguer a sobrancelha fazendo uma mistura de deboche com desdém.

— Posso te fazer a mesma pergunta, mas temo já saber a resposta, porque, de todos ao meu redor a única pessoa que demonstra o quanto não está feliz com a minha conquista é a minha namorada, a mesma que vem me evitando desde o dia que bati à porta dela para que ela fosse a primeira a saber da notícia. Fiquei esperando ela me explicar o que anda acontecendo, mas já se passaram 4 dias e ela só me evita cada vez mais, eu mal consigo lembrar como é beijar ela de verdade, porque a única coisa que venho recebendo são selinhos mal dados, respostas vagas e um estou muito cansada.

— Se em quatro dias você já se esqueceu como é o meu beijo, imagina em 4, 5, 6 anos? Talvez nem lembre mais o meu nome nesse meio tempo, já que tem a memória tão fraca. — respondo, ríspida.

Saulo suspira fundo e contrai a mandíbula mais uma, duas, três vezes antes de abaixar a cabeça, dar um soco na porta e sair. Ouço sua voz no alto da escada.

— Te espero no carro.

Volto a chorar, agora mais forte, com mais dor, com mais culpa. Estou sendo egoísta e infantil, eu sei, mas caramba, eu não consigo controlar, meu peito está tão apertado que às vezes me falta o ar, eu sinto que tudo vai mudar e nós nunca mais vamos nos ver. Eu sinto isso…

Quando chego no carro ele está com a cabeça apoiada no volante, assim que entro ele levanta e se ajeita ligando o carro, espera que eu coloque o cinto de segurança e sai, mas em nenhum momento olha em minha direção.

Estacionamos na porta da congregação, mas está tudo em silêncio e escuro, ele me olha sem entender e olha para seu relógio de pulso para conferir se chegamos cedo, mas de acordo com o horário marcado e graças a mim estamos com meia hora de atraso. Saulo sai do carro e dá à volta para abrir a porta para mim, seguro sua mão e saio, andamos lado a lado até a porta, ele segura minha mão como se eu fosse fugir, meus dedos estão doloridos e puxo com delicadeza para não o deixar ainda mais aborrecido, ele se vira em minha direção assim que começam a explodir fogos e berrar seu nome do terraço da igreja, Saulo fica vermelho de vergonha e eu sorrio, ele fica uma gracinha envergonhado, nossos olhos se conectam e seu rosto fica tão perfeito com o clarão dos fogos o iluminando que é inevitável não sorrir e… não chorar.
Saulo ergue a sobrancelha e sorri me abraçando, ele sabe que estou feliz por ele, tem que saber! A minha infelicidade é por nós.

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⏰ Última atualização: Mar 23, 2022 ⏰

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Hanna, proibida para mim Onde histórias criam vida. Descubra agora