Imbatível

Luto.

Sasuke levantou pela manhã se sentindo morto por dentro, fazia muito tempo que não sentia um vazio tão grande dentro de si e pensou pela primeira vez em faltar ao trabalho, fingir uma doença só pra ficar em casa e como sempre acontecia, alguém previu seus pensamentos.

- Bom dia Sasuke, o café já está pronto, vou estar te esperando lá embaixo pra te levar ao trabalho - Madara estava com metade do corpo pra dentro da porta, Sasuke se enrolou mais na coberta e grunhiu em desgosto
- Eu não vou, não quero - Madara soltou um riso abafado
- Não foi uma pergunta ou um pedido, você tem 15 minutos.

Madara saiu do quarto fechando a porta com um baque surdo e a solidão novamente voltou a invadir o quarto, Sasuke pegou o celular e conferiu as mensagens, Itachi, Obito, grupo de estagiários do trabalho e Naruto é claro, silenciou todas as conversas e foi para o banho, deixou a água escorrer por seu corpo por um tempo enquanto olhava para a parede se perguntando se realmente tinha feito a coisa certa e se fez, por que dói tanto? Sentia como se seu peito estivesse em chamas, derretendo os órgãos dentro de si e nublando sua mente com fumaça não o deixando pensar. Vestiu sua roupa social para o trabalho, pegou sua pasta e desceu, Madara o aguardava a mesa do café, que estava ainda intocado, se sentou e serviu sua xícara de café e a de Madara.

- Não precisava ter me esperado pra comer - Sasuke tentou amenizar a feição séria de seu tio e somente a piorou
- Eu acredito que ainda saiba que nós só comemos se estão todos a mesa, não? - Sasuke concordou - Eu não vou te passar um sermão hoje, somente hoje irei tolerar atrasos
- Em minha defesa, eu te disse que não queria ir ao trabalho hoje
- Se eu fosse deixar de trabalhar toda vez que eu não quisesse, nós não estaríamos nessa casa hoje e o seu carro não estaria na minha garagem - Madara bebeu o café devagar olhando de canto para Sasuke
- Toda vez que alguém reclamar do trabalho você vai dar esse sermão? - Sasuke deixou a xícara sobre a mesa repensando o que acabara de ouvir - O carro de quem?!
- Ah agora você está me ouvindo é? O seu carro, na verdade é o carro antigo de Obito mas está em ótimas condições e eu mandei lavá-lo assim que o trouxe pra cá e não me venha dizer que não aceita, não vou poder te levar todos os dias e você não vai sair daqui às 04:30 pra trabalhar!
- Aparentemente você conhece bem o filho que tem, muito obrigado, eu vou aceitar emprestado, assim que conseguir o meu, te devolvo - Madara riu de leve e Sasuke sorriu a ele
- Eu sei bem o que Obito já deve ter aprontado naquele carro e agora acho que é sua vez, não vá se meter em encrencas entendeu?

Sasuke assentiu e assim que terminou o café foi para a garagem. O carro vermelho chamava a atenção no meio dos outros pretos, não se sentia completamente confortável com aquilo mas seria um empréstimo e precisava de algo que o fizesse se sentir melhor então que fosse isso invés de várias noites enchendo a cara com Obito.
Assim que chegou no trabalho foi puxado para uma reunião sobre novos projetos que exigiriam mais do seu tempo e topou absolutamente tudo o que lhe propuseram, precisava da distração mesmo que o esgotasse, talvez trabalhar até que seu cérebro não conseguisse mais racionar e pensar em Naruto fosse a resposta, mas não foi. O relógio batia 21:17 e havia passado o dia imerso em projetos, seus ombros ardiam e as mãos estavam doloridas de digitar e desenhar por tanto tempo, se dissesse que havia tido uma refeição descente estaria se referindo ao café da manhã com o tio e mesmo exausto e com fome ainda conseguia pensar em Naruto, o incômodo que a falta dele causava era maior que qualquer cansaço e a dor que sentia ao pensar em tudo que lhe foi escondido pairava sobre seus ombros e o deixava enjoado. Ele se levantou e pegou suas coisas, enquanto estava no elevador conferiu seu celular e não resistiu ao abrir a conversa com Naruto, ele havia mandado mais de 20 mensagens se explicando e pedindo pra conversarem mas ainda não era o momento, não conseguiria olhá-lo nos olhos e ser maduro. Naruto havia o apunhalado pelas costas, usou da desculpa que estava sozinho pra estar com outra pessoa, não importava se era de forma romântica ou não, ele o estava substituindo aos poucos como se Sasuke fosse só mais um e no final era assim que se sentia, ele também foi um cliente da cafeteria em algum momento, também foi alguém que ele foi amigável, não havia nada de novo na história deles e a magia parecia ter sumido e sido substituída por mentiras e por Gaara.
Sasuke entrou no carro e foi a caminho da casa de Madara, o trânsito estava leve e uma brisa quase gelada entrava pelas janelas, sentia seu corpo pesado e seu celular tocava incessantemente, olhou de relance e viu o nome de Naruto na tela e não contendo a ansiedade e irritação atendeu no viva-voz

- Naruto eu não quero falar com você, eu não acho que posso ter sido mais claro que isso quando sai de casa - Os soluços do outro lado da linha o pegaram desprevenido
- Amor, por favor, volta pra casa - Naruto soluçou enquanto o choro ficava mais forte - Nós podemos resolver isso Sasuke, por favor
- Naruto, eu preciso de um tempo - Sasuke encostou o carro em frente a um restaurante e respirou fundo
- Amor eu preciso de você, não desiste da gente
- Eu não desisti amor, eu só não consigo lidar com tudo isso agora, são tantas coisas e eu não sinto que consigo conversar sem acabar brigando - Por um momento os dois ficaram em silêncio, Naruto chorava baixinho no telefone enquanto Sasuke sentia o seu choro preso na garganta fazendo seu coração pesar
- A gente pode conversar quando se sentir pronto, eu te espero Sasuke
- Obrigado Naruto, mesmo.

Sem dizer mais nada ambos ficaram por alguns minutos ali, ouvindo o silêncio entre eles, até Naruto desligar e Sasuke deitar a cabeça no volante respirando fundo pela boca tentando organizar os pensamentos e sentimentos. Se fosse honesto, gostaria muito de voltar pra casa e se afundar nos braços de Naruto, fingir que nada havia acontecido e esquecer tudo mas a sua razão não deixava que fosse assim, se sentia traído demais pra simplesmente ignorar tudo isso mas até onde iria seu orgulho?