Eu e a Paola já nos conhecíamos por termos amigos em comum, o que vez ou outra nos coloca nos mesmos eventos. Também já estive no restaurante dela, o Arturito, que, por sinal, recomendo demais. É do tipo de lugar cuidadoso onde a gente pode realmente apreciar os sabores.
Sempre a admirei. É uma mulher firme e potente, uma profissional incrível e uma grande defensora de causas sociais. Gosto muito da maneira como ela se coloca enquanto figura pública, emprestando sua voz pra luta contra os agrotóxicos nos alimentos e contra os produtos transgênicos, por exemplo.
Acho ela extraordinária, só que, embora nos cruzássemos vez ou outra, nunca estreitamos laços porque não tínhamos muita oportunidade. Até que veio o convite pra participar do belíssimo Ato Pela Terra encabeçado pelo amado Caetano Veloso. Paola também integraria o grupo de artistas e ambientalistas que participariam do evento, naturalmente.
Chegado o grande dia, cumprimos a pauta prevista e, na saída da sede do Senado pro local do trio elétrico onde estava acontecendo o Ato, acabamos indo na mesma van. Calhou que eu e Paola sentamos lado a lado.
— Eita que eu hoje eu só tenho estado bem acompanhada! — brinquei.
— E a mim, o que resta dizer? — respondeu Paola. Rimos.
A energia no ar era a melhor possível, mas estava um calor dos diabos. Brasília e seu clima seco pra danar. Nem meu leque estava dando conta, mas ainda bem que estou sempre com ele por perto porque amenizava.
No momento em que alcancei meu fiel escudeiro, Paola brincou chegando perto de mim e dizendo que queria pegar carona naquele ventinho fresco também. Abanei ela e tornamos a rir muito!
— Acho o maior charme esse seu acessório inseparável. Ninguém usa um leque com tanta elegância quanto Christiane Torloni! — disse Paola no melhor português com sotaque argentino.
— Acompanho a relatora! Ninguém é como ela, não! — gritou Daniela Mercury da poltrona logo à frente.
— Só acho que ela deveria oferecer um workshop de como portar um leque com tanto requinte. Quem concorda? — lançou Alessandra Negrini levantando, virando pra gente e apoiando os joelhos no assento.
— Opa, onde se inscreve? — soltou Malu Verçosa de outro ponto da van.
— Oh, amadas, gentileza pura de vocês! — comentei entre gargalhadas.
Ficamos por ali naquela baguncinha divertida conversando amenidades, mas logo chegamos ao destino. O percurso era curto. Paola saiu e em seguida me estendeu a mão, oferecendo-se gentilmente como apoio pra me ajudar a descer. Seguimos todas juntas pro trio.
Já por lá, nos espalhamos. Fiquei repassando na cabeça o que diria na hora de discursar. Eu estava muito emocionada e meio nervosa. Cada vez que assumo o microfone em um palanque é como se fosse dia de estreia. Eu e esse "palco" pelo bem comum somos velhos conhecidos, mas cada vez que subo nele é um momento único; é emoção de primeira vez.
Como estava bárbaro aquilo tudo! Quanta gente incrível lutando contra as absurdas PLs da morte, contra os pacotes da destruição ambiental e do veneno. Muita gente admirável dizendo sim pra um Brasil melhor, pelo respeito aos nossos povos originários, pela salvação da nossa casa comum, a Amazônia. E a potência que vinha do povo brasileiro na praça reverberando? Volto a me arrepiar só de lembrar!
É sempre muito forte discursar pra melhor plateia que alguém poderia ter. Eu me curvo à minha amada nação e sempre me curvarei.A fome chegando
Depois da minha fala, fiquei por ali prestigiando as participações dos outros colegas, mas em seguida desci pra ir ao banheiro e alcançar minha garrafinha de água. Havia uma estrutura montada pros artistas. Eu tinha de ir logo porque já já Caetano ia subir no trio e eu não queria perder nada.
Quando cheguei no banheiro, Paola estava lá. Conversamos sobre como o Ato estava lindo.
— Fiquei arrepiada com a sua fala, Chris. Aquela convocação pra um grande "não" ecoou demais, nossa! — comentou ela passando o dedo indicador direito pela extensão do braço esquerdo pra ilustrar o arrepio que disse que sentiu.
— A sua foi linda demais também, princesa. Diria mais, foi necessária. — respondi enquanto me movia e segurava as mãos dela.
Na sequência, Paola me deu um beijo na bochecha e saiu.
Fui pega de surpresa pelo calor que me subiu por dentro depois daquele gesto. Que viagem foi essa minha? – pensei – Foi só um ato carinhoso de uma colega. Não tô entendo essa minha reação. Eu, hein?!
Em seguida, me refresquei um pouco com a água da torneira, usei o banheiro, lavei as mãos e saí. Voltei pro trio. Já lá, meus olhos, como se estivessem pondo em prática um procedimento treinado e despretensioso de reconhecimento, logo avistaram a Paola.
Estava um fim de tarde lindo e Caetano chegou em seguida. Encontrei uma posição lateral no trio de onde conseguia ver Caetano, interagir com fãs lindos que estavam por ali distribuindo carinho, mas meus olhos não conseguiam perder de vista a Paola.
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Torloni e Carosella em: juntou a fome com a vontade de comer
Fiksi PenggemarApós a participação no Ato Pela Terra, em Brasília, Christiane Torloni e Paola Carosella, que eram apenas conhecidas, puderam estreitar os laços durante o desbravamento de um cardápio apetitoso.