Capítulo único.

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Mu Qing apertava o passo. A rua estava deserta e escura, era de se assustar, mas no momento ele nem conseguia pensar nisso. Sua mente estava sobrecarregada, cheia de medos e insegurança, e principalmente, indecisa. Pela primeira vez em sua vida, Mu Qing não conseguia tomar uma decisão absoluta, o garoto que sempre teve palavra firme, e respostas afiadas na ponta de sua língua, não conseguia achar a resposta correta para seu problema.

No momento, ele estava indo para a casa de seu agora, ex namorado, Hua Cheng. Ele mesmo havia acabado tudo isto, ele mesmo havia terminado com Hua Cheng, ele mesmo decidiu isso, mas essa nunca pareceu a resposta correta. Digo, para Mu Qing sempre pareceu tão errado estar ao lado de Hua Cheng, ele o amava, mas parecia tão errado. Nesses dois anos namorando escondido, sempre imaginou qual seria a reação de seus pais ao saberem que ele se apaixonou por um homem, e como ele esperou, não foi das melhores. Mas também, como seria? Mu Qing sempre foi perfeito, ele nunca deu sequer um passo em falso em sua vida toda, como ele poderia ter feito isso justo agora? Se apaixonar por um garoto? Sem chances. Mas, Mu Qing não conseguia parar de se perguntar, por que aquilo era errado? Por que ele não podia amar quem ele amava? O que tinha de errado naquilo? ele não entendia, realmente não entendia.

Mesmo já tendo 19 anos, e já podendo sair de casa para viver sua própria vida, Mu Qing se via preso a seus pais, necessitando de suas aprovações e opiniões sobre qualquer uma de suas ações. Mas estava cansado disso, ele queria viver sua vida, queria sair daquela gaiola, mas era tão difícil, tão assustador. Ele sabia que não estaria sozinho se por acaso decidisse sair de casa e seguir sua vida, sabia que teria o apoio de seus amigos, Xie Lian, Feng Xin, Quan Yizhen e talvez ele também tivesse o de Hua Cheng.

Sua mente estava conturbada, não sabia mais o que era o certo e o errado, não sabia qual era a resposta para a questão mais importante de sua vida. Amar ou não amar? Se prender ou se libertar? Ele não sabia, realmente não sabia.

Em meio a tanta confusão, o garoto de cabelos platinados mal notou quando se viu na frente da casa que já passou tantas tardes a toa. Ele engoliu seco, não sabia o que Hua Cheng poderia querer com ele, e também não sabia se conseguiria não se jogar nos braços fortes de Hua Cheng assim que o visse, no momento, Mu Qing não sabia nem o que estava fazendo ali.

Com o coração na mão direita, Mu Qing tocou a campainha a sua esquerda, no mesmo instante que a tocou, sentiu que seu coração havia corrido para o outro lado da rua, mas continuou lá, parado esperando algo acontecer, e aconteceu. Certo Hua Cheng, com uma trança escorrendo por seu ombro e sua franja tomando metade de seu rosto, atendeu a porta com um sorriso surpreso, talvez ele não esperasse que Mu Qing realmente iria aparecer. Eles se encararam por cerca de trinta segundos, que mais pareceram uma hora. Nessas "uma hora" Mu Qing pode ver tudo novamente, pode ver o brilho do único olho visível de Hua Cheng, pode ver a liberdade de expressão que seu olhar carregava, e o mais importante, pode sentir aquele arrepio que sempre o dava quando olhava diretamente em seus olhos.

"Olá, Qing-ge." Hua Cheng abriu um pequeno sorriso, "Já faz um bom tempo..."

Mu Qing acenou com sua cabeça, abrindo sua boca por um segundo, como quem quisesse falar alguma coisa, mas não tinha fala.

"Vem, pode entrar." O mais alto andou um pouco para o lado, dando espaço para o platinado que entrou sem dizer nada.

Mesmo naquela situação, nenhum dos dois se sentiam desconfortáveis, nunca conseguiram se sentir assim próximos um do outro. Uma sensação estranha vinha daquele local, daquele momento, daqueles dois, era como um grande déjà vu. Assim que trancou a porta, Hua Cheng se virou para trás, olhando para o garoto de lábios finos, que no momento pareciam tremer um pouco. Ambos voltaram a se encarar, era como se o corpo de cada um gritasse profecias de amor em línguas diferentes, línguas que eles não conseguiram entender, não ainda. O coração do Mu, que finalmente tinha voltado de viajem, agora batia forte em seu peito, ameaçando querer correr de novo, mas desta vez, levando-o junto.

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