Estou ferrada de qualquer jeito.
Parece que há dois tambores batendo na minha cabeça. Aliás, não apenas dois, mas o Olodum inteiro. Quer dizer que é essa maldita moleza no corpo e a dor latente o quem chamam de ressaca?
Definitivamente não é uma coisa boa.
Olho para o relógio e percebo que posso me atrasar. Dou uma última analisada no meu visual no espelho e concluo que estou bem para o meu suposto primeiro dia na Venus Night Club.
Cabelos presos em um coque: ok;
Maquiagem básica: ok;
Calça jeans e camiseta discreta: ok;
Saltos que não realçam ainda mais a minha altura: ok.
Pego a minha bolsa e corro para o ponto do ônibus, que me levará até a estação de metrô. Quando me encontro sentada em um dos vagões, leio as mensagens no Smartphone. Uma delas é de Carl, com o carinho de sempre.
Carl: Dormiu bem? Fiquei preocupado.
Letícia: Apaguei como uma pedra.
Carl: Fico feliz em saber. Boa sorte no seu novo trabalho.
Letícia: Obrigada, vou precisar.
Guardo o meu aparelho na bolsa e não demora muito para que eu chegue à Westminster station, onde saio do trem, em direção à avenida movimentada. Paro um pouco para observar a grandiosidade do Big Ben, que me lembra aonde cheguei para realizar os meus sonhos. Sem prestar muita atenção à minha frente e com medo de me atrasar, atravesso a avenida e quase sou atropelada por um motociclista. Ele freia a poucos centímetros de mim.
– Está louca? Por que não olha por onde anda?
Respiro fundo, aturdida. Essa foi por pouco.
– Desculpe, senhor. Estava distraída.
Ele resmunga algo ininteligível, então prossegue seu caminho, deixando-me paralisada de susto.
Em instantes, chego ao prédio da Venus, onde sou recepcionada por um sorriso da mesma atendente da outra vez. Antes de pegar meus documentos novamente, ela se inclina sobre a recepção e começa a puxar assunto.
– Menina, eu não te conto. O Sr. Cooper fez questão de ligar pessoalmente para agendar seu horário com ele. O que você fez com esse homem? Ele nunca tratou desses assuntos de contratação, sempre ficou por conta de outros funcionários.
Eu deveria estar lisonjeada em saber que, de alguma forma, despertei a atenção de alguém que parece ter um cargo tão importante na empresa, mas sou um tanto desconfiada de tudo e de todos. Por que o tratamento comigo está sendo diferente? É algo que preciso descobrir.
– Talvez esteja querendo desfazer a má impressão da minha última entrevista. Eu nem o conheço direito. Só troquei algumas frases com ele e nada mais.
– Ah, aquele homem lindo... – Ela olha para cima, com ar de sonhadora. – É muita areia pro meu caminhão, mesmo que eu dê várias viagens. Além disso, não dá bola pra nenhuma funcionária da empresa. O negócio dele é atrizes e modelos, apesar de ser muito discreto. Já vi muitas fotos dele em páginas de fofocas, sabia?
Bem, se eu precisar de alguma informação sobre a vida pessoal de alguém, estou ciente a quem eu devo procurar.
– Sério? Que interessante. – finjo que aquilo tem alguma relevância.
– Seríssimo – ela pega o meu documento, afastando-se para registar a minha entrada no computador. Entrega o cartão de identificação e devolve o meu passaporte. – Espero que seja contratada. Vai se divertir trabalhando aqui conosco. Boa sorte!
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Quarto dos Desejos
RomanceQual é o seu maior desejo sexual? Letícia foi para Londres em busca de uma oportunidade melhor como administradora. Depois de ficar desempregada e sem grandes opções, se candidata a uma vaga de faxineira, mas é surpreendida por uma proposta atraent...