De par em par o onipotente Olimpo,
Já do oceano a aurora despontava.
Bem que urja o tempo de inumar seus mortos
E o turbe o funeral, no primo eôo
Piedoso o vencedor cumpria os votos.Num combro tancha desramada enzinha,
Veste-lhe de Mezêncio o arnês lustroso,
Troféu que a ti, Belipotente, sagra:
Os dardos rotos, as sanguentas crinas
Lhe ata; à esquerda o pavês e a tiracoloSuspende a ebúrnea espada. E assim de ovantes
Capitães escoltado, exorta os sócios:
"Fora o temor, varões, que pouco resta
Por fazer; eis o espólio, eis as primícias
De um rei soberbo, que estas mãos puniram.Eia, a Laurento agora: arma, arma, alerta;
Ânimo e fé! dos numes quando o aceno
Mova o campo, as bandeiras arrancadas,
Nem outro acordo vos detenha incautos,
Nem retarde os mancebos frouxo medo.Entretanto os finados sepultemos,
Conta exigida no ínfimo Aqueronte.
De ferais dons ornai-me os que esta pátria,
Comprada com seu sangue, nos legaram;
Vá primeiro de Evandro aos tristes murosPalante, a quem não pobre de virtude
Mergulhou trago acerbo em noite escura."
Disse e à tenda chorando se retira,
Onde o aluno defunto Acetes guarda,
Velho escudeiro do Parrásio Evandro,Zeloso aio do filho, mas não dado
Com tão feliz auspício. A turba em cerco
E os fâmulos em dó, conforme o estilo
Desgrenhadas o seguem frígias donas.
Pelos altos portões mal entra Enéias,Levantam crebros ais, nos peitos ferem,
E remuge o real do luto e pranto.
Como ele o níveo corpo, a face e a testa
Sustida olhou, da ausônia choupa o rombo
No seio liso, em lágrimas rebenta:"Pois sorriu-me a fortuna, e a mim te inveja,
Moço infeliz, que o reino meu não visses,
Nem tornasses em pompa ao lar paterno?
Não foi esta a promessa a Evandro feita;
Que abraçado, à partida, ao grande impérioMe propunha, e entre sustos me advertia
De que era áspera a guerra e forte a gente.
E ora talvez, debalde esperançoso,
N'ara devoto of'rendas acumula,
Quando ao jovem, já quite dos Supremos,Exéquias vãs prestamos. Desgraçado!
O funeral cruel verás do filho!
Que triste volta! ó sonho de triunfos!
Eis a fé minha! Mas com vis feridas
Não te envergonhará, nem, salva a prole,Tu pai desejarás o eterno sono.
Ai! quanto, Ausônia, quanto, Iulo, perdes!"
Neste lamento, escolhe mil guerreiros,
Que o mísero cadáver acompanhem,
Obséquio extremo, e às lágrimas assistamDo aflito pai; devida, mas pequena
Consolação do nojo e trago ingente.
Brando esquife engradado alguns de vergas
De medronho e carvalho não remissos
Tecem, de folha o estructo leito ensombram.Fica na agreste cama o excelso moço,
Qual por virgíneo pólice apanhada
Mole violeta, ou lânguido jacinto;
A quem brilho nem cheiro inda falece,
Mas não vigora e nutre a mãe terrena.Duas purpúreas opas recamadas
Enéias tira, em que a Sidônia Dido
Com doce esmero trabalhara mesma,
As telas de ouro fino entretecendo:
Mesto, em honra final, veste uma ao jovem,Com outra a coma para as chamas vela.
Manda lanças, frisões e tanto espólio
Da laurentina pugna, em longa série
Dispor; e atrás das costas maniatados
Os que às sombras destina e regar devemA pira com seu sangue; e os chefes tragam
De hostis arneses troncos revestidos,
Onde inimigos nomes se insculpiram.
Conduzem de anos gasto o pobre Acetes,
Que a punhadas o peito, o rosto a unhas