Hoje eu acordei, e como se já não bastasse carregar esse fardo todos os dias, eu me sentei por alguns segundos na cama e encarei o chão. Minha respiração ofega enquanto encaro os pés com leve desconforto nos olhos. Caminhei evitando todos os espelhos da casa por medo de baixar mais minha autoestima, afinal, era assim que me sentia: Um merda, um lixo, um nada, somente tendo vontade de morrer ou deixar de existir.
Por vezes tive sonhos prazerosos, onde eu morria, varias vezes por suicídio, e nascia de novo, em outro corpo, um corpo melhor, mais atrativo e mais sedutor. O motivo de tanta angustia? Bom, ela tinha um nome: Aust, a garota que havia me tornado o que sou hoje. Suas lindas tranças, pele negra que refletiam a luz do sol, além de um par de olhos que encaravam minha alma a cada erro que eu cometia. Não que eu a culpe por me sentir assim, mas isso influenciou muito em minha autoestima, que já não era boa antigamente.
No dia que a conheci, me lembro de ter sentido uma vibração forte demais, e nos meses que se seguiram eu jurava que iríamos ficar juntos, afinal, ela dizia me amar, dizia que queria ficar comigo, mas que guardava um segredo que eu nunca poderia saber. Que segredo seria esse que a impossibilitaria de ter algo comigo? Eu não consigo pensar em um.
Quando ela dizia que me amava eu sentia meus pés saindo do chão, como se eu fosse voar para o espaço e congelar no frio do vácuo, algo que talvez fosse melhor do que continuar vivo. Quando criei coragem e a chamei pra sair ela desconversou e disse que era melhor não. Não entendi de inicio, achei até mesmo que fosse uma brincadeira, dei uma risada branda e encarei seus olhos, vi sua feição séria e fria, tal qual suas palavras. Como podia? Como podia alguém dizer que me ama e ao mesmo tempo não me querer perto? Bom, nesse dia meu tormento começou.
Voltando a hoje, bom... Hoje eu estou até me sentindo um pouco melhor, consegui levantar da cama, pois há dias que eu nem força pra isso tenho. Caminhei até o banheiro, escovei os dentes e tomei um banho quente do tipo que queima a pele. Toquei a marca da corda no pescoço, corda que há alguns dias eu havia usado pra tentar me matar, mas sem sucesso. Minha mãe me achou e cortou a corda. Ela brigou comigo, gritou, me perguntou o que estava acontecendo mas eu não podia contar. Não há vergonha maior do que contar pra alguém que a garota de quem você vivia falando simplesmente mudou de ideia do nada e não te ama mais. Caminhei até a cama, sem comer, sem beber, afinal a fome já não me atingia mais. Meus olhos estavam amarelos, pele meio pálida e o cansaço havia tomado conta de mim. Abri a gaveta, peguei uma seringa, aqueci algo em uma colher, prendi o braço com uma borracha, localizei a veia e apliquei a dose forte de heroína. Senti tudo girar e apagar. Eu Adormeci de novo...