Sim, eu fugi. Da casa dos meus pais? Não, eu tenho quase trinta anos, não é como se eu morasse com eles ainda. Então eu fugi da minha própria casa? Bem, sim. Talvez seja uma idiotice, mas agora já estou do outro lado do planeta e não é como se eu fosse ignorar o pequeno rombo que a passagem tinha feito na minha conta bancária pra decidir voltar. Não era tão pequeno assim.
Como eu decidi fugir aí sim pode ser considerado uma idiotice. Eu estava com raiva, sabe? Quer dizer, ainda estou, mas agora além de estar com raiva do que me fez estar com raiva, eu estou com raiva de mim mesmo, porque dentre tantos milhares de países frios, com temperaturas agradáveis, eu fui escolher logo a fogueira da Terra. Bem vindo a Austrália, Steve Rogers.
Eu posso ser extremamente dramático quando eu quero — e quando não quero também —, mas pra um cara que só conviveu com o frio na maior parte da vida vai pra um lugar quente como este, o mínimo que ele quer é pegar o avião e implorar pra voltar.
Rombo na minha conta bancária.
A única coisa que ainda não me fez voltar é que eu paguei caro pra estar aqui. Vou ter que conviver com esse horário maluco — eu saí de tarde e cheguei de tarde?? — e com esse calor infernal.
Outra coisa que eu tenho a reclamar, porque ninguém merece, eu devo ser o idiota dos idiotas pra vir pra um país que não fala minha língua, certo? O problema é que eles falam, mas eu não entendo nada!
Além deles falarem extremamente arrastado — ninguém merece —, eles comem as palavras. Eu fiquei dez minutos discutindo com taxista, só querendo que ele me levasse pro centro e faça lá a ideia do que ele respondeu, mas ele sempre devolvia como se fosse uma pergunta. Só sei que no final, deu errado.
Eu arrumei um, meia hora depois, mas só porque o homem falava francês, que graças a minha mãe, eu falava muito bem. Mas eu já estava odiando aquele lugar, definitivamente.
Agradeci quando o aeroporto internacional, o Kingsford Smith, ficava cada vez menor no que eu conseguia ver, até não ver mais nada.
Sobre a cidade, eu não tinha muito o que reclamar. O trânsito era bem fluído — mesmo pra uma segunda feira à tarde —, o visual dela era bonito e é claro, a brisa do mar era sempre muito bem vinda, pra aplacar esse calor dos infernos.
Era estranho pra mim ver eles dirigindo com a famosa "mão inglesa", mas... Desde que não causasse acidente e nem me perturbasse, já estava ótimo. Já me basta o que está me perturbando, como esse calor que está impregnando a minha camisa.
Rombo na minha carteira. Eu preciso ficar repetindo isso.
Eu pedi ao motorista que me deixasse em um hotel barato, mas a verdade de Sidney — a azarada cidade que eu resolvi escolher —, não tem hotel barato.
Por que eu tinha escolhido Sidney mesmo? Ah é, porque eu fugi. Grande gênio.
Eu entrei no quarto que reservei totalmente mau humorado. O calor tinha queimado todos os meus neurônios, fora as quinze longas horas que a minha bunda redondinha ficou quadrada dentro do avião e, é claro, o enorme furo que habitava a minha carteira.
Pra começo de conversa, eu merecia. Ninguém sabia que eu tinha vindo pra Austrália, por isso era uma fuga. A única pessoa que eu avisei foi o Thomas, o porteiro, que eu ia passar uns dias fora. Mais ninguém.
Primeiro porque eu realmente queria sair dos Estados Unidos. Decisão tomada de cabeça quente, mas minha relação lá não estava muito boa.
Segundo porque eu não queria ninguém atrás de mim, por isso vim sozinho. Pedi quinze dias de férias antecipadamente, que meu chefe hesitantemente liberou, mas sem fazer perguntas.
Terceiro porque eu precisava de um tempo. Ainda preciso, na verdade. Colocar algumas coisas no lugar e... Ah, até parece, vou ignorar todos os meus problemas e lidar com eles depois. Agora, o que eu quero mesmo é não me preocupar.
Obviamente eu vou ignorar partes desse terceiro ponto porque eu tenho absoluta certeza que eu vou ficar bêbado por aí pensando nos meus problemas.
E em quarto e último ponto, se eu ficasse nos Estados Unidos da América por mais um segundo sequer, eu surtaria. Eu aguentei tudo o que aconteceu calado, sem comentar com ninguém, sem querer falar com ninguém. E aí eu cheguei no estágio que eu não queria ver ninguém, o que me levou a fuga repentina.
No meu celular só duas pessoas tinham me mandando mensagem: Bucky e Wanda.
A única que eu abri foi a do meu melhor amigo, dizendo que não tinha ido trabalhar hoje porque estava um pouco gripado por causa do frio que fazia lá — e eu no calor — e que não era pra me preocupar com nada porque a mãe estava cuidando dele.
Só respondi um "ok" desejando melhoras e ponderei se veria as três mensagens de Wanda. Eu queria? Sinceramente? Não. Melhor deixar pro meu eu bêbado do futuro responder, essa eu passo.
Joguei o celular na cama e tirei a calça quente — a blusa já estava em algum canto do quarto desde que eu entrei — e me joguei pra debaixo do chuveiro.
Queria saber quando o ser humano seria capaz de inventar a máquina do tempo, porque eu queria urgentemente usar pra me impedir de sair de casa no sábado. O fim de semana foi uma droga por causa dele.
Sem escolha e sem resposta — brevemente sem dinheiro também —, saí do banho, decidindo se ia vestir roupa ou não.
Bufei de raiva e joguei a toalha de qualquer jeito no banheiro, mas me arrependi logo em seguida porque uma parte dela foi parar dentro do vaso. Isso que dá ser impulsivo.
Sem paciência pra pegar e colocar pra secar, deixei ela lá mesmo. Era só água que tinha e eu estava totalmente sem paciência pra ter que lidar com algum problema.
Isso eu vou deixar pro meu eu bêbado.
EI GENTE!! Sejam muito bem vindos ao mais novo feriado, o dia de ação de graças!!
Eu ADORO essa shortfic. Não sou de gostar muito do que eu escrevo, mas essa aqui... Jesus. Foi a primeira que eu fiz, lá pro meio de abril. É, tem muito tempo.
Tá aí o trem!!
E a pergunta que não quer calar é, por que a Austrália? A gente une o útil ao agradável, eu sempre quis fazer alguma coisa Romanogers que se passasse lá e eu amo aquele país — com suas loucuras e tudo. Então, sim, Austrália.
Vai Brasil🇧🇷
No mais, vejo vocês amanhã, com o capítulo dois,
A❤️
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Eu Quero Esquecer Meu Nome
Short StoryDepois do fracasso do fim de semana, Steve Rogers toma a primeira atitude que sobe na cabeça: faz suas malas e foge pro outro lado do mundo, mas será que estar em um lugar totalmente diferente o fará esquecer tudo o que ele viveu?