Capítulo 2

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A casa de Fabrício não fica muito longe do restaurante, na verdade, é na mesma rua. Só que se tratando de uma cidade turística como Caraíva, as ruas tem quilômetros e quilômetros de distância, principalmente as que seguem a faixa de areia da praia. Como estava sem moto, mais uma vez tive que colocar meu sedentarismo à prova.

Eu gostava muito de fazer caminhadas à beira da praia, conhecia pelo menos uma área de 10km em torno do restaurante. Conhecia toda a orla, todos os restaurantes, lojas e seus respectivos donos. Conhecia rios e lagoas mais afastados, campos e colinas também. Bem como conhecia quase todo o bairro que eu morava, esse último era o mais fácil, haviam poucas pessoas que preferiam a paisagem seca e árida, do que a vista da praia, minha mãe era uma delas, foi ela quem teve a decisão de morarmos na casa em que estamos, não que eu me lembrasse, mas meu pai gostava muito de repetir essa história: "A sua mãe gostava tanto do mar que decidiu morar longe dele para que sua vista não se acostumasse e não o banalizasse como uma coisa diária, mas, se mudou pra perto o suficiente para ouvi-lo e visitar-lo quando pudesse" falava ele com tanto orgulho.

Por ser uma sexta-feira, não quis arriscar caminhar no meio da multidão que curtia o sol na praia e correr o risco de receber uma bolada, trombar com um ambulante ou até mesmo tropeçar em alguém deitado na areia. - Tá, confesso que essa única nunca me ocorreu, mas, me conhecendo, eu sabia que não podia abusar da minha sorte...Além de que, era uma da tarde, como eu aguentaria aquele sol escaldante? Prefiro ir pela rua de trás, que também daria acesso ao condomínio de Fabrício, e, ainda me proporcionaria uma sombra maravilhosa embaixo das árvores que ficavam em cada lado da rua.

Obviamente, como em toda cidade turística no nordeste, nessa rua se encontrava todo o comércio de Caraíva: lojas de souvenires, roupas, mais restaurantes e lanchonetes, casas de shows e bares. Era realmente muito tranquilo caminhar por ali, sempre trombava com alguém que conhecia, meus ex-colegas da escola, meus vizinhos, e sempre, sempre era muito movimentada. Tá, confesso que exagerei um pouco, tinham meses em que a rua se tornava um completo deserto, mas na maior parte do ano não se havia um minuto de silêncio sequer.

***

Digamos que o "Clima Tropical" ficasse no começo desta grande avenida, e a casas de Fabrício, no outro extremo, literalmente o condomínio encerrava a rua. O "Beach Manson" era o maior e um dos únicos condomínios de luxo da minha cidade. Se eu tivesse que descrever o tamanho dele, eu diria que caberia três vezes o meu bairro dentro dele. A sua fachada era imponente, um grande portão preto de ferro, com espinhos dourados em suas pontas, bem como uma grande fechadura com um brasão também cor de ouro no meio. Atrás ficava apenas uma pista de areia cercada por arbustos com algumas flores amarelas e vermelhas, daquelas bem genéricas que a gente vê em toda praça pública. Ao lado ficava uma guarita toda cercada por vidros e que de certa forma combinava muito bem com todo o resto.

De verdade, o grande atrativo eram as casas, pareciam ter sido construídas para estrelas de Hollywood, eu não duvidaria se algum ator internacional morasse por ali. Mas, de fato, o condomínio era povoado por pessoas podres de ricas: empresários, músicos, atores nacionais, apresentadores e até alguns donos de fábricas famosas, não só da minha região mas como do nordeste todo.

Mansões por todos os lados, de todas as formas que conseguirem pensar, modernas, rústicas, contemporâneas e até um castelo... esse último era alvo direto dos meus julgamentos toda vez que ia visitar Fabrício. Quem em santa consciência, investiria tanto dinheiro em uma obra monstruosa@ Não era medieval, não era uma releitura moderna de um castelo, era simplesmente a forma mais caricata de um castelo, com torres com pontas cônicas vermelhas e bandeiras fincadas em seu topo. A obra ainda contava com uma enorme porta de madeira que imitava uma ponte levadiça. Eu sabia que gente rica é, de fato, excêntrica e se acha no direito de fazer qualquer coisa só por ter dinheiro, mas não conseguia aceitar isso.

Amor eu deiOnde histórias criam vida. Descubra agora