Capítulo 2

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— Não ouse falar assim da minha irmã, ela era só uma menina quando apareceu aqui desesperada com o dinheiro que você ofereceu para fazer um aborto.

— Não, parceiro, já disse que nem sabia que essa mina estava gravida.

— Não queira tirar o seu da reta?

— Pra que eu iria mentir? — gritou em plenos pulmões, e fui obrigada a ir até a porta do quarto ver se Lucas permanecia dormindo. — Não tenho porque mentir nessa porra. Conheci essa mina aí, que nem lembro o nome, numa festa de um amigo, perguntei se ela era menor e me disse que tinha 18 anos, na época. Firmeza, rolou umas paradas entre nós e depois foi cada um para o seu lado. Nós voltamos a se trombar em outra festa e ficamos, só que nessa, os parceiros fizeram orgia e ela lá, mas percebi que estava desconfortável, então levei para o reservado e ficou só nós dois. Ela recebeu uma meta por isso, e depois eu nunca mais vi essa mina. Depois disso, eu saí para fazer um trabalho fora e fiquei meses ausente. E agora eu estou aqui curtindo com um parceiro e vejo o menor, a minha cara, porra. E não adianta negar, que eu sei que você também percebeu.

Queria que suas palavras não fizessem sentido, preferia acreditar no que Raissa havia me contado, porque ela era só uma menina quando chegou aqui desesperada com mil reais, dizendo que estava gravida e que o pai pediu para ela abortar.

Não sei explicar, mas naquele dia, ainda lembro como se estivesse acontecendo agora, eu praticamente implorei para que ela tirasse aquela ideia da cabeça, e quando pensou, que talvez seria a melhor alternativa, eu tive que intervir e pedir a criança para mim, que eu criaria como se fosse minha, se levasse a gravidez e chegasse até o final. Então, ela começou a ficar estranha, exigente em suas demandas, o que resultou em eu ter que pagar a sua passagem, para que fosse embora para a Espanha tentar a sorte por lá. Para ela deu certo, pois está em um relacionamento com um milionário que dá tudo o que deseja. E devo dizer que para mim também.

Lucas não foi gerado no meu ventre, mas foi gerado no meu coração e sou capaz de tudo para proteger o meu bebê. Não me arrependo das noites que perdi e muito menos de ter abdicado da minha vida para cuidar dele.

Ainda não querendo acreditar que a minha irmã me passou para trás e que eu sempre odiei a pessoa errada, me joguei no sofá, cobrindo o rosto com as mãos.

— Como você pode ter certeza de que esse menino é seu filho?

— Quando eu te vi subindo na moto daquele homem, eu pensei que te conhecia de algum lugar, mas não era tu, era a tua irmã. E quando eu reparei no moleque, juntei um mais um e fiz as perguntas certas para as pessoas certas. Treta mesmo foi achar a tua casa, ninguém queria falar, ou não sabia.

— Prefiro que permaneça assim, é para a proteção do meu filho.

Ficamos um tempo em um silencio constrangedor, silencio esse que esmagou meu coração e eu logo tive que voltar ao modo protetora, pois se ele fosse realmente o pai e quisesse exigir seus direitos, tiraria meu filho de mim, e isso eu não estava disposta a aceitar, jamais.

— Eu quero conhecer o menino, fazer o exame e ter a certeza do que eu já sei.

— Eu posso ver isso um outro dia. Agora está tarde e amanhã eu trabalho cedo.

— Posso ver ele? Só ver, prometo que não vou acordar.

Parecia que eu estava sentindo, suas palavras imploravam por um minuto com meu filho, mas eu sabia que não seria só esses minutos.

Temerosa, foi assim que liderei o caminho até o quarto do meu pequeno, que com muito esforço deixei a coisa mais perfeita do mundo e, acendendo o abajur perto de sua cama, pude ver o quão sereno dormia. Um sorriso mais que bem-vindo surgiu no meu rosto, tamanha a ternura que encheu meu coração. Era o meu ponto de paz, o motivo pelo qual eu persistia pelo meu sonho, pelo qual eu não desistia de lhe dar sempre o melhor.

— Caralho!

Se não fosse a sua palavra sussurrada, eu me esqueceria que estava ali presente, velando o sono do meu bebê.

Depois de um tempo, que achei suficiente expor o meu filho a um desconhecido, saí do quarto, e por um segundo vi a relutância em seu rosto.

— Minha coroa vai surtar, ela tem uma foto minha na idade dele, é a cópia.

Mais uma vez suas palavras se tornavam o motivo de minha tormenta. Não poderia abaixar a cabeça e aceitar que ele tirasse meu filho de mim.

— Agora você pode se retirar?

Ele me encarou por alguns segundos, o sorriso que estava em seu rosto se apagou. Agora seu olhar estava duro, sombrio, me fez titubear por alguns milésimos, porém, o encarei, devolvendo o mesmo tom.

Sei que Lucas tem o meu nome no registro, mas bastaria uma ação judicial dele, para que o juiz exigisse a comprovação parental e eu perderia o meu bebê. Não vou correr esse risco, e quanto mais eu puder evitar o contato dos dois, melhor será para todos.

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