Capítulo 6

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Acordei frustrada no outro dia, levei algum tempo para realmente levantar da cama, e custei ainda mais quando Lucas adentrou em meu quarto com seu cheirinho e de chupeta.

— Bom dia, meu amor.

— Bom dia, mamãe. Desenho.

Fiquei com ele assistindo desenho ali na cama, buscando coragem para levantar e resolver a minha vida, já que precisava pôr a cara nos livros. E também buscando coragem para enfrentar Anderson, que estava dormindo na sala, mas nem foi preciso. Ele apareceu na porta do quarto também com o seu cobertor, e com cara de menino pidão, veio se enfiar na minha cama. O dia estava agradável para permanecermos onde estávamos, aquele gelado de outono e chuvinha fina.

Mais uma vez repetimos Relâmpago McQueen, porque era o filme preferido de Lucas, e por mais que já tivesse decorado algumas partes, era sempre como se fosse a primeira vez.

Anderson acompanhava a mesma expectativa do meu filho, pois quando me levantei para preparar o café, não tirou os olhos da tela e somente balbuciou um "tá". Da porta, olhei para os dois ali, como se fôssemos uma família, e diria que perfeita. Algo que sempre almejei.

Decidi quando era bem nova que jamais usaria a minha beleza e corpo para me aproveitar disso, eu seria mais, muito mais, e talvez venha daí o meu receio em me relacionar com qualquer pessoa, ou até mesmo tornar o sexo banal, não que eu espere o príncipe encantado, mas eu quero que seja com a pessoa certa que sei que vai fazer esse momento ser marcante em minha vida, sem nenhum impedimento.

Como sabia que os meninos não levantariam da cama tão cedo, decidi preparar uma bandeja para o café ser na cama. Meu bebê iria amar.

Estava finalizando tudo quando as batidas na porta chamaram a minha atenção. Olhei a minha roupa e vi que estava de pijama, pois a pretensão do dia era não colocar a cara na rua, mas quem quer que seja que me perturba, terá que dar as costas e ir embora. Se as batidas não fossem tão insistentes, eu talvez deixasse a pessoa pensar que não havia ninguém em casa.

Não era surpresa, mas me admira este homem estar aqui na minha porta a essa hora da manhã de um domingo, se bem que não era tão cedo.

— Bom dia!

Seu semblante estava sombrio, do mesmo jeito que esteve quando tentou me ameaçar na sexta à noite. Sem nenhuma resposta ele entrou na minha casa e foi reparando em tudo.

— Meu filho?

— Eu já te pedi para não chamá-lo assim enquanto não obtivermos uma resposta do exame.

E foi então que ele me jogou um envelope que não havia notado em sua mão.

Cética, eu abri o papel marrom, sabendo da resposta e querendo que não fosse a realidade.

Para o meu total desespero, estava um grande positivo em negrito, para que não restasse dúvida de que o homem à minha frente era realmente o pai do meu bebê e de que a minha irmã me enganou quando me disse que ele queria o aborto do mesmo. Ou ele poderia estar armando esse show todo para tentar se redimir da culpa que carrega por desejar a morte de uma criança.

Não, não poderia mais me iludir com relação a essa história, já fui enganada o suficiente e não poderia continuar a fazê-lo.

— Onde está o meu filho?

Novamente seu tom autoritário preencheu o ambiente, me tirando do meu estupor de auto piedade.

— Eu estava indo levar o café para ele.

— Deixa que eu levo, quero contar a novidade.

— Não, você não pode chegar assim e...

Não tive a oportunidade de terminar, pois Anderson apareceu na sala, do mesmo jeito que estava quando eu o deixei no quarto, apenas de calça de moletom.

— Neguinha, nóscom fome.

Se o semblante de Douglas já era assustador, agora eu diria que uma palavra a mais mataria qualquer ser que respirava naquela sala, e não diria abertamente que seja eu.

— Beleza?

Douglas nada respondeu, apenas assentiu e depois me encarou.

— Meu filho?

— Me dê um tempo, eu vou arrumá-lo e já te trago.

Tentando fugir daquele ambiente embaraçoso, fui em direção à porta que Anderson acabara de sair, peguei meu bebê que estava totalmente alheio a este clima e fui para o seu quarto lhe dar banho e vesti-lo adequadamente para o que seria a conversa de sua vida. Até então, um pai nunca fez falta na rotina de Lucas, até porque eu sempre estive aqui para ele, sempre fui eu, agora ele seria dividido, e meu medo aumentava em proporções catastróficas. Será que Douglas seria capaz de tirar meu filho de mim? Não, ele não pode fazer isso comigo, eu abdiquei de minha vida para cuidar do meu homenzinho, agora ele não pode chegar e achar que detém todo o poder e autoridade.

Vamos nos sentar e conversaremos sobre como tudo isso vai ficar, pois eu não sei se sobreviveria sem meu bebê. A resposta é não, me tirem qualquer coisa, menos o meu filho. Sou capaz de suportar qualquer adversidade, menos a ausência deste ser que alheio ao caos que estava a minha mente vestia sua roupa depois do banho que tomou.

Estava vestido como um homenzinho, com um conjunto de moletom da Nike e meias brancas. Coloquei a Crocs no pé e juntos, saímos do quarto. Anderson já não estava mais na sala, e nenhum sinal de suas coisas espalhadas, como ele sempre deixa, mesmo eu reclamando.

— Cadê o Anderson?

— Seu macho foi embora. É assim que você cuida do meu filho, trazendo qualquer um para dentro de casa e dormindo na mesma cama que ele?

Suas palavras me golpearam em cheio, me deixando sem ação, mas foi por questão de segundos, porque não admitiria que faltasse com respeito comigo na presença do meu filho dentro de minha casa.

— Por respeito ao meu filho, não lhe darei a resposta que você merece ouvir, mas eu não trago qualquer macho para dentro de casa, Anderson é meu amigo e já está familiarizado com Lucas, mais tempo do que você possa imaginar. E se você pudesse controlar seu gênio na frente dele, eu agradeceria, ou você quer deixá-lo com medo, antes mesmo de adquirir intimidade?


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