Capítulo 8

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Estava desesperada, já se passava das dez da noite e Douglas não voltava com meu filho.

Assim que eles saíram, eu fui no Google Maps e conferi o endereço que ele me informou. Lá estava a casa, muito bonita por sinal. Ficava na Vila Mariana, conferi o proprietário e estava no nome da mulher que me informou, a mesma com o seu sobrenome. O número de telefone também era seu, pois no segundo que saíram de casa, eu liguei. Ainda ouvi o som do seu toque e logo desliguei.

Preciso saber que suas palavras eram sinceras, porque ao contrário dele, não tinha dinheiro para manter um segurança em sua porta. Só que agora estou aqui desesperada, porque desde as sete estou tentando ligar e nada, somente uma mensagem de texto dizendo que já traria meu filho.

Conversei com Anderson, para acertar o mal-entendido que ficou em sua saída de manhã, adiantei a janta da semana, guardei as roupas lavadas, molhei minhas plantinhas que ficavam em meu portão e nada, mais nenhuma notícia deles.

Agora decidi ligar novamente e para minha surpresa o barulho do telefone veio do meu portão.

Afoita, eu corri até o mesmo para o ver atravessando com meu bebê dormindo num braço e uma mochila nas costas.

Lucas estava com um pijama que não havia enviado e Douglas carregava algumas sacolas gigantes com o que pareciam ser brinquedos.

— Graças a Deus!

Peguei meu bebê e fui diretamente para o quarto, com movimentos leves para não acordá-lo.

Olhei cada canto do seu corpo e conferi a sua respiração para saber se estava tranquila. Tudo no seu devido lugar.

Agora era a minha vez de descascar o abacaxi com esse irresponsável que parece não entender que criança tem horário a ser cumprido.

— Você viu a hora? Ele tem aula amanhã, você começou mal, muito mal — ralhei, assim que chegamos na sala.

— Perdemos a hora, quando vi que estava tarde, dei banho, janta e coloquei o pijama pra ele chegar aqui já dormindo.

— Isso não te isenta de ser irresponsável. É assim que você quer se aproximar dele?

— Ele ficou bem, depois de tudo, extrapolei no horário, mas não foi nada que ele estivesse sendo obrigado a fazer. Lucas se divertiu e minha mãe amou o menino.

— Prestou atenção na alimentação, ele não pode...

— Eu falei com minha mãe sobre isso, ela cuidou de tudo. Perguntou também em qual médico você está passando, para ver isso.

— Eu tenho tudo sobre controle, não preciso de mais ninguém se intrometendo na vida do meu filho.

Não iria permitir que mais um estranho tomasse uma parte que pertencia a mim por direito, na vida do meu filho.

Esse idiota aqui na minha frente era tolerável, qualquer outra pessoa era dispensável.

— Ela gostou do meu filho, e ele também gostou dela. Eu sei que você está acostumada a ser somente você na vida dele, mas agora nós seremos presença constante na rotina aí, e espero que facilite isso, do contrário, eu serei obrigado a fazer coisas que você não vai gostar.

Acabou de chegar e já está me ameaçando? Vejam só, bastou apenas algumas horas para as garras aparecerem, mas veja bem, meu querido, as minhas estão sendo afiadas há anos, dos quais você nunca poderá contar.

— Não queira me ameaçar, Douglas, e nem forçar pessoas em nossas vidas, o filho é meu, e somente eu tenho autoridade para permitir qualquer coisa sobre sua vida, e espero que esteja ciente disso quando quiser falar merda para mim.

— Isso não será por muito tempo.

— Será até quando eu decidir.

— Amanhã eu passarei aqui cedo, para ir com ele até a escola. Quero saber onde estuda.

— Não há necessidade, saímos muito cedo e chegamos muito tarde, então, no próximo sábado você pode vê-lo.

— Amanhã cedo eu estarei aqui!

Sem aguardar a minha resposta, ele me deu as costas e se foi. Que homem insuportável. E o pior de tudo é que teria que ter muita cautela com relação a sua pessoa. Não iria abaixar a guarda e pelo visto ele não desistiria tão fácil.

**********

Mais uma semana para a conta, e como se tivesse corrido uma maratona inteira, acordei na segunda-feira.

Parece que foram meses atrás que aquele ser apareceu e revirou toda a minha vida, mas foram apenas alguns dias, e para o meu tormento, mal havia terminado de arrumar a mochila e a mala que ficava na casa da dona Miranda, durante a semana com as coisas que Lucas comia e roupas, quando meu celular apitou com uma mensagem.

"Estou esperando aqui na porta".

Aparentemente, não nos livraríamos tão fácil dele, já que em suas atitudes me provava que sempre cumpria o que prometia, ainda mais quando se tratava de Lucas.

Carregada de bolsas, abri o portão e vi a SUV parada ali próximo, a luz do salão foi acesa e logo em seguida ele desceu para me encontrar, a primeira pessoa que ele cumprimentou foi o filho.

— E aí, molecão do pai? Bora pra escola?

Ele o carregou até a parte traseira do carro e o colocou no que parecia ser uma cadeira especial para o tamanho de Lucas. O ajeitou e depois me encarou. Sério, para variar.

— Bom dia!

— Bom dia!

Depois de ter ignorado minha presença, foi apenas o que me disse. Sem mais, coloquei as bolsas no porta malas e seguimos em direção à casa da dona Miranda para deixar as coisas, e apresentar Douglas, já que ele fez questão de ser apresentado.

Quase ninguém aqui sabe do que realmente aconteceu entre eu e minha irmã, o que sabem é que uma de nós ficou gravida e a outra desapareceu. Nunca fui de explanar a minha vida, e assim prefiro, porque quando sair daqui, não quero que ninguém venha em minha direção e nem que tenha um alvo em minhas costas.

Depois fomos para a creche onde Lucas passa o dia. Douglas ficou indignado por ser pública, e fez questão de entrar e conferir se era tudo adequado para seu filho, e mesmo conferindo com os próprios olhos, rechaçou, dizendo que o único filho dele merecia coisa melhor e que logo cuidaria disso. Deixei que reclamasse com o vento, sei que não negligenciaria o cuidado e a educação do meu filho, então confio no lugar em que ele passa a maior parte do seu dia. Se achar ruim, que ache do canto dele.


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