Vocês estão prontas crianças?! Vamos lá, começando agora
Domingo, 3 de abril de 2022, celular em 47%, Bahia, chove fraco
Carina Ferrazza p.o.v
Bato com as pontas dos dedos na mesa de vidro da sala que fiquei hoje, minhas unhas curtas fazem um leve barulho, me trazendo levemente a realidade. Giro minha cadeira afim de ver a vista da cidade, mas só enxergo nuvens pretas e carregadas
Suspiro
Levanto pegando minhas coisas e saio fechando a sala, entro no elevador e encosto a cabeça na parede gelada. No automático meus dedos acariciam meu ventre, vazio
No saguão do prédio empresarial Austin me espera neutro, com as mãos nos bolsos. Chego mais perto e ele me dá um selinho, delicado e terno, como sempre fomos. Nos conhecemos na faculdade, ele já no último ano de medicina e eu no terceiro. Confesso que nos estranhamos um pouco de início, mas logo foi amor e o resultado é um casamento que só nos trouxe um amor que no que depender de nós - e graças a Deus depende - irá durar o resto da vida
_ Vai cair uma mega tempestade -- fala abraçando minha cintura e andamos para o estacionamento
Entro no carro devagar, ainda sentindo o corpo meio sensível pelos últimos acontecimentos. Austin me olha com aquela cautela que só ele sabe e consegue ter, me analisa inteira porém se mantém calado
Dói nele também
Um bebê que queríamos, mas sabíamos que eu não podia ter. Uma menina
Sabíamos que meu útero quase infantil não iria suportar a criança, e que se suportasse ela não receberia os nutrientes necessários para se desenvolver normalmente. Mas não é como se fossemos desistir assim de primeira
Fiquei de repouso absoluto, mal levantava para ir ao banheiro. Evitei estresse, moderei na alimentação e tomei todas as vitaminas que o obstetra me passou. Mas eu sabia que era só temporário
A bebê, a quem batizamos de Catherine, se desenvolveu até o quinto mês de gestação, mas quando completamos o sexto mês o coraçãozinho dela parou. Era linda, mas eu sabia que essa terra era um lugar bom demais para ela, com o coração em pedaços a devolvi a eternidade
Pegamos um engarrafamento tão grande na volta para casa que acabo até cochilando, só acordando quando chegamos em casa quase uma hora depois
Entro em casa e a sala vazia me incomoda, tudo é decorado conforme meu gosto afinal fui eu quem escolhi, mas está vazio demais, limpo e organizado demais. Ouvindo o silêncio ensurdecedor que está fazendo subo para tomar um banho, até lavo os cabelos precisando de alguma forma relaxar
Olho para o chão do box, onde a água cheia de espuma desce constante, lembrando que a semanas atrás o que descia por ele era sangue. Sangue que denunciava a partida de um bebê que eu tentei com todas as minhas forças segurar
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The Childs ( Concluída)
Short Story⚠️Não autorizo adaptações! Plágio é crime!⚠️ Carina sentia seu mundo entrando em colapso O melhor colapso de sua vida