único.

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i don't ever wanna leave, i'll watch you sleep."





um, dois, três...

duzentos e noventa e oito, duzentos e noventa e nove, trezentos carneirinhos...

duas e quarenta da manhã, e eu já estava tentando dormir desde às onze. quem foi o idiota que inventou que contar carneirinhos funcionava?
meus olhos ardem de sono, eu sinto o cansaço em meu corpo e até uma leve dor nas costas, mas só isso não me faz dormir.

é sempre assim, há anos eu não consigo dormir normalmente sozinha, a insônia me persegue não importa o que eu faça, não importa onde eu durma, quais remédios eu tome. mil pensamentos diferentes me rodeiam justamente na minha hora de dormir, engatilhando minha ansiedade. e quando eu consigo cochilar por alguns minutos, acordo ofegante após mais um pesadelo horrível.
e é daí que vem meu apelido, "The Nightmare". é irônico a coisa que mais odeio em minha vida resultar em algo tão bom.

bufei frustrada e voltei a abrir meus olhos, encarando o teto com adesivos florescentes estrelinhas, planetas, sol e lua. eles estavam alí há poucos dias, eu passava horas e horas os encarando, não me ajudavam a dormir, mas me relaxavam um pouco. quase nada. bom, pelo menos são esteticamente satisfatórios de observar.

saí de meus devaneios assim que ouvi o barulho de chaves e da maçaneta da porta se abrindo, o sorriso em meu rosto foi instantâneo e só aumentou quando eu vi seu rosto.

e aí está ela, minha melatonina.

- oi! - ela olhou pra mim e disse baixinho, quase sussurrando, como se alguém no quarto estivesse realmente dormindo. entrou, fechou a porta e jogou sua mochila num canto. - me desculpe pela demora, meu vôo atrasou bastante.

eu já sabia, ela me ligou pra avisar, mas ela não vai deixar de se explicar mesmo assim.

- eu sei, não tem problema nenhum, eu só estava com saudades. - eu lhe respondi e sorriu envergonhada, em seguida veio até mim e me deu um selinho carinhoso. eu já sentia meu coração se acalmar.

- também senti saudades. muita. 5 dias longe de você é demais pra mim, não duro tanto tempo. - eu ri de seu drama e ela me acompanhou. - eu vou tomar um banho rápido e já volto, ok?

concordei e ela entrou no banheiro.

é isso, cinco dias. eu dormi mal por cinco dias seguidos, porque ela não estava aqui comigo.

eu não sei como isso aconteceu, mas desde que conheci a Nikki uns anos atrás, ela me traz uma sensação de conforto que eu nunca havia sentido em toda a minha vida. começamos a namorar há quase dois anos, moramos juntas há oito meses e essa foi de longe a melhor decisão que nós tomamos.
eu era acostumada a entrar em relacionamentos conturbados que me deixavam aflita e pensativa, tiravam minha paz, só pioravam minha insônia. mas com a Nikki é diferente. ela me faz bem como nada antes fez, só de ouvir sua voz rouca e suave em contraste com seu forte sotaque era o suficiente pra mim. admito que foi difícil me acostumar com o quão fácil era no começo, mas não demorou a acontecer, graças a ela.

agora minhas noites eram tranquilas, eu não tinha dificuldade pra dormir e nem pesadelos. basta ela estar ao meu lado.
as vezes eu cochilo a tarde com a cabeça em suas coxas estranhamente macias e confortáveis, enquanto ela bebe um copo enorme de café e assiste filme, e com a mãozinha livre me faz o cafuné mais gostoso possível, após ela me fazer meia hora com suas bobeiras.


ela saiu do banho com uma toalha e direto até meu closet, pegando a primeira camisa minha que ela viu no caminho. observei com um sorriso no rosto enquanto ela se vestia, esse era um dos meus momentos favoritos da nossa rotina. ela é meio desastrada então de vez em quando ela tropeçava na toalha, ou enganchava o cabelo no puxador. hoje, por um milagre não aconteceu nada disso.

ela terminou de se ajeitar, usava apenas minha camisa preta que ficava quase em seus joelhos e seu cabelo estava num coque quase perfeito, que amanhã com certeza vai acordar uma completa bagunça. ela veio pra cama quase correndo e se enfiou debaixo das cobertas, escondendo seu rosto.

- por quê tá tão frio? - ela reclamou com a voz abafada por conta da coberta, e eu ri pois esse é seu jeito de me pedir pra mudar a temperatura do ar condicionado, então logo eu o fiz.

- melhor? - eu perguntei e ela descobriu sua cabeça, negando.

- não, continua frio. - sua expressão adorável fez meu coração derreter e eu logo abracei sua cintura, a puxando pra mais perto.

- tá tudo bem, eu te esquento. - ela se aconchegou em meu peito e eu senti suas pernas geladas enrolarem nas minhas, quase reclamei, mas a sensação foi tão boa que nem fiz. levei minha mão até seu rosto e acariciei levemente, a fazendo levantar seu olhar pra me encarar de volta.

ela sorriu pequeno e eu não me segurei, passei a distribuir beijinhos em todo o seu rosto, principalmente na sua bochecha gordinha, ela gargalhou surpresa.

céus, eu senti tanta falta disso. foram cinco dias de tortura.

- nunca mais quero ficar sem você por tanto tempo, na próxima eu vou junto, tá me ouvindo? - ela assentiu, se acalmando após parar de rir. - quer me contar como foi lá?

e ela começou a me contar tudo que fez, do começo até o fim, e eu só pude reparar nas diferentes expressões em seu rosto enquanto falava, o sorriso aumentando quando contava algo que gostou muito, o nariz torcendo quando era algo que não gostou, os olhinhos arregalados quando falava de algo que pra ela era incrível.

- ...e ela saltou de lá de cima e a platéia gritou muito, foi tão lindo! - nós sorriamos uma pra outra. - era pra você estar lá.

- na próxima eu estarei. - entrelacei nossas mãos e beijei as costas da sua mão pequena, fazendo carinho em seus dedos gordinhos.

- não vou nem perguntar como foi suas noites de sono. - ela sorriu amarelo e eu dei de ombros.

- o que importa é que hoje eu vou ter a melhor de todas. - selei seus lábios uma última vez e ela se virou de lado, eu abracei sua cintura grudando seu corpinho pequeno no meu e encaixei meu rosto na curvatura de seu pescoço, me deixando inebriar pela mistura do cheiro de sabonete e do seu cheirinho característico.

meu porto seguro, meu pontinho de paz, minha dopamina.
meus olhos logo começaram a pesar e minha respiração sincronizou com a sua, calma e leve.

- boa noite, Nikki. eu te amo.

e quando eu estava quase lá, eu pude ouvi-la sussurrar

- eu também te amo. durma bem, Demi.

o sono finalmente me pegou, e pude dormir tranquila com ela em meus braços.

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⏰ Última atualização: Apr 07, 2022 ⏰

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