Cheguei como normalmente faço todos os dias, subindo as escadas do prédio frio ao invés de pegar o elevador e me direcionando para minha sala, aconchegante, meu lugar seguro diferente dos demais cantos inóspitos e infelizes daqui. Quero me abraçar quando vejo a pilha de orçamentos que preciso analisar e solicitar aprovação, mas me lembro com grande alegria, que a noite teremos uma festa na casa do diretor.
A primeira que eu iria.
Provavelmente o veria.
Isso me causa uma extrema ansiedade que dificilmente seria controlada hoje.
Hoje é dia, hoje começo mais uma rotina exaustiva e estressante no trabalho, ultimamente tenho notado olhares diferentes em minha direção, não sei se fico feliz ou enojada por serem majoritariamente de homens comprometidos com uma mulher maravilhosa os esperando em casa.
O dia transcorreu estressante, confuso com tanta gritaria e todos do escritório extremamente irritados, o comercial buscando bater a meta, era afinal 31 de dezembro e estávamos na empresa, ano novo? Na casa do dono, definitivamente ele iria adorar a ideia de poder nos parabenizar orgulhosamente de atingirmos a meta de venda de 10 milhões anual.
Meu trabalho, por outro lado, me deixava com dores nas têmporas, causava ansiedade e detonava minhas camisas sociais com suor em rodelas. Odiava ter que esperar e odiava ainda mais ser cobrada pelas respostas que eu não tinha em mãos por depender de outra pessoa. Isso me causava tantos nervos que minhas unhas sempre acabavam lascadas antes do final da semana.
Tenho 25 anos, e definitivamente sou a melhor mulher que se encontra por aqui, não que eu tenha um ego inflado, ele ultrapassa limites estratosféricos. Faço academia após o trabalho, sou regrada na minha alimentação, com privilégio do dia do LIXO, pós graduação em Comércios Exteriores, bem resolvida sexualmente e financeiramente, descarto qualquer homem tóxico e comprometido que aparece na minha vida. Eles não me interessam se não podem ser inteiramente meus.
Mas tudo na vida tem um porém.
Há momentos em que fazemos o inimaginável, desafiando nossa ética, caráter e moral perante a sociedade e perante nossa consciência, só nunca e jamais imaginei que aconteceria comigo.
Ao final do expediente, eu já tinha tomado pelo menos três xícaras de chá de camomila pós almoço e não tinha me decidido entre os dois vestidos que eu tinha levado comigo para o ano novo, avisei aos meus pais provavelmente dormiria fora de casa e por isso, não precisavam se preocupar se eu não atendesse suas ligações no meu fixo em casa.
17h30, nunca havia escutado tantas palmas e visto ao longe através da parede de vidro, o comercial jogar tantas folhas para o alto, ULTIMA VENDA FEITA! eles berravam a plenos pulmões e ironicamente eu só conseguia pensar MAIS UMA PUTA DOR DE CABEÇA.
A última hora se arrastou, mas eu não queria saber de trabalho, então fui para o banheiro tratar das minhas necessidades, e por lá fiquei. Tomei uma ducha rápida na cabine reservada no banheiro feminino e quando sai deslumbrante com cheiro de baunilha e morango, trajada em um vestido bordado de alcinha, justo até os quadris e rodado até metade da coxa, o banheiro se encontrava alvoroçado.
Meu banho tinha durado menos que cinco minutos, contudo a troca de roupa com creme e loção havia sido mais demorada, por isso as mulheres agora me fulminavam com o olhar, carregando toalhas, shampoos e a casa inteira nas costas.
Eu não era boa com amizades, ainda mais quando eu sabia o quão competente eu era e o quanto o trabalho delas dependiam do meu. Se esse momento tivesse acontecido a cinco anos atrás, talvez eu tivesse me encolhido e enchido minha boca para pedir desculpas e sair às pressas, mas aquela Sarah não existia mais, então caminhei elegantemente até a bancada da pia e comecei meu trabalho ágil com maquiagem, as mulheres bufaram e foram se espremendo entre si para irem se arrumando, outras nem tomaram banho, poucas tinham o mesmo problema que eu com ansiedade e pareciam manter permanentemente o cheirinho de banho recém tomado ao longo do dia.
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A Dama da Meia-Noite
Short StoryA autora bateu o lápis na mesa, aquele ser etéreo que era, sem limitações de palavras ousadas e inspirações renovadas, ela mordeu o lábio enquanto imaginava a cena escrita no papel, era arrebatadora assim como as outras que havia escrito antes, poré...