Capítulo 1

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        Europa. Eu estava na Europa. Dei os primeiros passos para fora do avião, o vento fustigava meus cabelos já bagunçados pela escala da metade da viagem; o sol estava começando a descer no céu, eram quase quatro horas da tarde. Depois de conseguir passar pelo mar de gente e pegar minhas malas, segui pela porta-dupla frontal e me dei conta de que não sabia como chegaria até a universidade; enfim, nem tive tempo para me preocupar com isso, ao olhar para a fileira de carros estacionados pelo meio fio ladeados por homens em ternos pretos perfeitos, percebi que um deles, que usava um terno levemente mais claro do que os outros a sua volta, segurava uma placa com meu nome e o nome da universidade escrito abaixo. Me aproximei dele, a postura estava ereta e o olhar fixo para frente, as bochechas altas, os olhos escuros e um sorrisinho levemente debochado quando me viu, e perguntei em um inglês treinado:

— Com licença, quem mandou isso?

— Sr. Henrique, senhorita.

Claro. Eu devia ter imaginado que Henrique providenciaria uma maneira de chegar à universidade. Apresentei meus documentos ao motorista, que abriu a porta traseira para mim. Me sentei no banco escuro e o carro seguiu pela fila congestionada até sair por uma estrada rodeada por árvores e parques, crianças brincando e barraquinhas de comida. A ficha só caiu realmente quando passei pelo grande portão de ferro forjado, rumo ao grande pátio gramado e as portas duplas de vidro claro da CSA. Meu coração se tomou por um misto de sentimentos: incerteza, ansiedade, excitação e empolgação. O sol brilhava nos vidros, pessoas passavam pelos corredores e eu sorri, sorri ao sentir um leve palpitar ansioso, ao pensar no que aconteceria a partir dali.

Henrique me esperava em frente a porta central, seu terno cinza imaculado brilhava ao sol, e seu sorriso o fazia por si só. Ele se aproximou do carro e me ajudou a descarregar as malas, para depois me envolver em um grande abraço:

— Sky! Que alegria vê-la. Entre por favor.

Segui-o pelos corredores, portas claras pontilhavam a parede e janelas imensas recebiam toda a luz do sol. Henrique abriu uma das portas que ficava mais no final do corredor, a sala decorada em tons escuros de madeira e couro, me senti um pouco como em O Poderoso Chefão, o cheiro de couro e um leve aroma de charutos se misturavam, mesmo que a sala estivesse bem aberta e arejada, os armários abrigavam arquivos, e fotos de família sobre a mesa escura. Sentei-me à frente dela e Henrique sentou-se à minha frente, colocando um copo de água sobre a mesa:

— Conte-me! Como foi a viagem?

— Cansativa, mas tranquila.

— Isso é ótimo!

Ele remexia em algumas pilhas de papéis enquanto falava, até puxar um pequeno maço preso por um clipe:

— Vejamos, aqui tem a lista de regras, não são muitas mas são pertinentes, a lista da grade curricular e os horários. Preciso apenas que assine a matrícula, aqui está a chave do seu quarto – Ele puxou da gaveta uma pequena chave prateada presa a um chaveiro preto - Suas aulas começam em três dias, e parece que vai ter um baile de abertura no fim de semana. Sugiro que use esse tempo para se acomodar e conhecer o lugar. Desde já te digo que estou muito feliz de te ver fazer parte do nosso corpo estudantil e espero de verdade que você aproveite muito. Seja bem-vinda!

— Muito obrigada Henrique!

Ele se levantou e apertou minha mão, sentir as rugas aparentes e a temperatura da pele me fez lembrar um pouco do meu avô, aquecendo meu peito. Ao sair fiquei com um pouco de receio de me perder, mas logo encontrei as escadas que levavam aos quartos, tudo era bem intuitivo então não foi muito difícil; minha chave estava gravada com o número 306, um dos primeiros quartos do sétimo corredor. Ao encontrar a porta branca, girei a pequena chave na fechadura prateada, que ao abrir me recebeu com uma lufada de vento fresco;

Coração RestauradoOnde histórias criam vida. Descubra agora