Capítulo 2

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Sky Dawn

Não sei quando vim parar no meu quarto, mas escutei o zumbido chato do meu celular tocando e acordei com a visão turva e tonta, vendo a foto de Eleanor na tela:

— Sky! Como você está?

— Oi Elly, tô — engoli em seco — bem e você?

— Tudo bem. Você acordou agora?

— Uhum. Ontem foi o baile de abertura, eu tô acabada.

— Você bebeu?

— Ah sim, bastante se bem me lembro.

— Ok... Tem certeza que tá bem?

— Tenho sim amiga, só descansar um pouco eu já fico melhor.

— Então tá bom. Só liguei pra saber como você estava, faz tempo que não nos falamos.

— Verdade. Estou me adaptando aos poucos.

— Isso é muito bom. Eu tenho que sair agora mas eu prometo que te ligo logo.

Eu escutei uma voz masculina no fundo, com certeza era Bryan, meu ex-namorado e atual de Eleanor.

— Tá bom amiga, beijos.

— Beijos.

Encerrei a ligação sentindo uma leve dor de cabeça e alguma tontura, me levantei cambaleante da cama e com algum esforço consegui encontrar meu roupão de seda branca e cobrir meu corpo - só então percebi que não vestia nada além das minhas roupas íntimas; joguei uma camisola por cima e então o roupão e desci para a cafeteria. A escada principal estava vazia, provavelmente a universidade também considerando o belo sol que brilhava e o calor que fazia lá fora; provavelmente a maioria dos alunos aproveitou para ir para algum parque ou piscina pela cidade. O cheiro de café fresco pairava pelo amplo espaço e, a doce atendente estava apoiada no parapente que dividia a cozinha do espaço de convivência, com um sorriso travesso nos lábios e os olhos transbordando afeto:

— Bom dia, senhorita, como foi o baile ontem?

— Foi incrível, mas cobrou seu preço.

— Um café forte vai ajudar. só um momento.

Me sentei em um dos muitos banquinhos que pontilham a bancada, observando a destreza de suas mãos enquanto o preparava; o silêncio era reconfortante depois de tanta música, o aroma voava até minhas narinas e eu o sentia, totalmente confortada.

Estava tão desligada a tudo a minha volta que não percebi um rapaz, talvez um ou dois anos mais velho que eu, se sentar ao meu lado; ele sorria para ela que tinha percebido sua presença muito antes que eu e já se movia com agilidade, preparando uma taça de vidro com sorvete e o que parecia ser chocolate quente; Bocejei lentamente enquanto a atendente trazia as bebidas e algumas baguetes em uma bandeja:

— Seu café, senhorita.

Ela colocou a xícara fumegante à minha frente, junto com dois pacotes de açúcar e uma pequena colher prateada.

— Obrigada.

— E o seu chocolate quente.

— Obrigada.

Arranquei um pedaço da pequena baguete; tentei ser o mais lenta possível, mas a ansiedade acabou me consumindo. Observei de soslaio o rapaz que bebericava o chocolate; os cabelos desgrenhados, caindo a frente, eram dourados e lisos; como estava de lado, não pude perceber muito do rosto além do maxilar marcado e o queixo quadrado. Ele usava uma calça de moletom preta e uma camiseta amarela abarrotada, como se fosse a primeira que puxou de alguma pilha de roupas usadas. Acabou que ele estava tão concentrado na bebida que não olhou para mim; terminei meu café e me levantei, desejando um bom dia sorridente para a moça do balcão - Rose - e para o rapaz, e ambos me retribuíram. E ali pude ver com clareza seus olhos: cor de mel, mas mais amarelados.

Coração RestauradoOnde histórias criam vida. Descubra agora