Capítulo #1

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  _ Mãe! Por favor, me deixa ir de carro para faculdade? É o meu primeiro dia! — pedia ao telefone que ela liberasse o carro dela, já que a própria estava viajando e o veículo estava parado, sem uso algum, na garagem.

_Marília... sabe muito bem o porque não quero que vá com meu carro, não é? — ela falava com a voz firme do outro lado da linha.

Minha mãe é o tipo de pessoa que, se você der "mancada" uma vez, você fica marcado para o resto da vida.

Tudo começou quando tirei minha carteira de habilitação, estava muito animada por começar a dirigir. Meus amigos muito felizes por mim, resolveram comemorar em um barzinho, e eu claro, me prontifiquei em ser a motorista na volta para casa, até porque não tinha intenção nenhuma de beber.

Chegando lá, na empolgação do momento acabei bebendo uma caipirinha ali, outra aqui, mas não me sentia bêbada. Quando chegou a hora de ir embora falei para meus amigos que estava "ótima" e poderia levá-los para casa.

O que era uma grande mentira! Meus amigos me conhecendo bem, recusaram minha oferta e resolveram chamar um Uber. Eu com minha teimosia, peguei a chave do carro e resolvi voltar dirigindo para casa, e provar-lhes que esta ótima e que eu conseguiria dirigir. Eles até tentaram me impedir, mas fui bem rápida e sai acelerando com o carro.

Tudo estava ótimo, até surgir a brilhante ideia de colocar minhas músicas para tocar no som do carro que ativava pelo bluetooth. Peguei meu celular que estava no banco de passageiro ao lado, me concentrei na tela para conectar ao som, e por conta dos efeitos da bebida, fiquei olhando para o aparelho tempo suficiente para que eu batesse em um carro parado em minha frente devido ao sinal que havia fechado.

Graças a deus sai do carro bem, somente com alguns cortes, pois, acabei batendo a cabeça no volante com o impacto. Já o meu carro, ficou com a frente completamente amassada e o outro veículo ficou só com alguns amassados. O outro motorista falou que eu não deveria me preocupar com o conserto do carro dele, pois, pela aparência do meu, já era bem visível que o preço seria alto.

Minha mãe quando ficou sabendo, ficou louca! Saiu de casa desesperada, quando chegou lá e me viu estar bem, me deu um sermão tipico. Me proibiu de dirigir qualquer carro por tempo indeterminado, mas já se passava um ano desde o ocorrido e mesmo assim ela permanecia com um pé atrás!

_Mãe... sei que cometi um grande erro naquele dia, mas já aprendi minha lição... Isso já faz tempo! — Tentava fazer com que ela ficasse com pena de mim. Logo vi ser inútil quando ela falou...

_Não! — E desligou na minha cara.

Tirei o telefone da orelha e fiquei fitando o aparelho por alguns segundos pensando em como minha mãe foi grossa. Acreditei que se pedisse em quanto ela viajasse teria mais chances dela liberar, pelo visto me enganei e feio!

Coloquei o telefone novamente no lugar e fui para o meu quarto, tinha que me arrumar para o trabalho. Chegando no quarto olhei para o relógio na parede e já estava bem atrasada. Como já sabia que o ônibus demoraria, resolvi desobedecer minha mamãe querida e ir de carro para o trabalho. Tomei um banho correndo, coloquei meu uniforme, prendi meu cabelo longo e loiro em um rabo de cavalo e logo saí.

*

No caminho para o trabalho, enquanto dirigia, comecei a pensar em como eu odiava meu emprego. Eu trabalhava em uma padaria e restaurante até que bem conhecido no centro da cidade.

Só não entrava mais cedo, pois, ficava mais para servir as mesas e limpa-las também, como uma garçonete. A vida não era fácil, precisava trabalhar para pagar minha faculdade e como ficava dois turnos lá, o dinheiro era o suficiente para quitar a mensalidade do curso de arquitetura.

*

Olhei o relógio na parede do restaurante e dei graças a deus pelo expediente estar acabando. O movimento estava fraco por conta do horário, geralmente na parte da tarde eram poucas as pessoas que frequentavam lá.

Encostada no balcão fitava o relógio na parede, queria muito ir para casa e tentar dormir antes da faculdade. Estava um pouco ansiosa por ser meu primeiro dia, mas tinha grandes esperanças de que tudo ficaria bem. Comecei a imaginar como seria o primeiro dia, como era a sala, se me enturmaria rápido, ou não.

Fui puxada de meus pensamentos por um cliente que me chamava, imediatamente me afastei do balcão e fui em sua mesa.

_Sim? — disse assim que me aproximei.

_Esse café está horrível! — Ele reclamava levantando o tom de voz, fazendo com que todos em volta nos observassem.

_Senhor...

_Marco! — ele me interrompeu — Senhor esta no céu!

_Ok, Marco! — respondi respirando fundo para não perder a educação — Lamento que não tenha gostado do café, podemos trazer outro para você sem problemas! — digo com tom de voz suave e calmo. Odiava ter que ser assim com clientes sem educação.

_Eu não quero outro, sua idiota! Quero meu dinheiro de volta, para poder ir embora dessa espelunca! — ele retrucou batendo a mão no copo de café que estava em cima da mesa, o derramando em cima nas minhas pernas.

_O senhor pode resolver isso com o gerente, vou chama-lo. — disse sorrindo e cerrando os punhos com toda minha força, contando até dez mentalmente para me acalmar.

_Ótimo, sua incompetente! Não sei porque perdi meu tempo falando com alguém tão irrelevante como você. Ah! Faça o favor de limpar essa sujeira que você fez — ele retrucou com tom de ironia.

Já no meu limite, pronta para dar na cara do infeliz sou impedida pelo meu gerente que entra na minha frente.

_ Marília ! Acredito que seu expediente já acabou, deixa que resolvo.

*

Dirigindo de volta para casa, penso em como aquele cliente "MARCO" foi grosso comigo, fiquei com raiva quando ele "acidentalmente" derrubou café em mim, fiquei mais puta por não poder fazer nada. Estava com tanta raiva que depois de muito tempo dirigindo percebi que minha mão estava apertando o volante com força. Respirei fundo e tentei me acalmar e pensar na faculdade que seria ótima.

Cheguei em casa e fui direto para o meu quarto, me joguei na cama na tentativa de tirar um cochilo antes de ir para faculdade, mas essa ideia foi por água baixo quando ouvi o som do rádio do meu pai ligar no último volume.

Com isso, fiquei estressada com meu pai por conta do som, lembrei do cliente escroto que tive que lidar hoje e já fiquei com raiva, fora a ansiedade da faculdade, ou seja, estava ferrada!

Percebi que não conseguiria dormir, levantei da cama e resolvi tomar um banho para tentar distrair. Assim que entro de baixo do chuveiro, sinto minha tensão diminuir, já sentindo meu corpo relaxar. Sempre que estou tensa ou estressada minha primeira opção para me acalmar é tomar um bom banho quente, sem pressa. A água quente me deixa mais leve e calma.  

A professora - adaptação (Malila)Onde histórias criam vida. Descubra agora