Quem ainda escreve poesia?

Quem ainda escreve poesia?

Lunáticos saudosos

Cheios de nostalgia

Tolos sonhadores

De amores platônicos

Em sua cotidiana fantasia

Em um mundo inânime

De gente seca e fria

Mas se lacrimejaram teus olhos

Abriu-lhe um sorriso

Já valeu meu dia

Sou um destes tolos

Tenho caneta tinteiro

Eletricidade para quê

Escrevo a luz de velas

Como um ermitão num mosteiro

Do meu canto bucólico

Compartilho frustrações, 

Meus tropeços

Descrevo, em minucias, meu histórico

Meu enredo triste,

Enredo melancólico

Também há prazer

Furor, euforia

Faz-me bem,

Poder dividir minha alegria

Bom ou ruim

Em uma folha de papel

Tudo é possível,

Tudo vira poesia

Protesto também se faz em grafia

Discurso afiado

Inquietude na ponta do lápis

Texto sarcástico e alguma ironia

Poesia é fuga, escape

Desestressa, alivia

Meu botão "Liga/Desliga"

Minha sessão de terapia

Sair do mundo concreto, palpável

Cinzento, sisudo

De gosto questionável

Escrevo versos, rimas

Prefiro chamar de poesia

Soa melhor

Esforço-me para escrever bem,

Escrever com maestria

Achar que sou escritor,

Ah, quão pretensioso eu seria!

Escrevo por um motivo:

Não sei falar!

Não sou bom de improviso

"Gente introvertida não sabe se expressar"

Involuntariamente, posso até machucar

Prefiro escrever,

Posso apagar, editar

Tenho tempo para pensar

Se cometi erros,

Encontrarei o texto para me justificar

Se brigarmos,

Meu versos vão reparar

Não nos vejo separados

Reencontros são sempre calorosos

Os nossos, inflamados

Quem escreve poesia

É arcaico, antiquado

Motivo de achincalhe, gozação

Será taxado de frívolo

Por seus contemporâneos

Por amigos, por sua geração

Quem escreve poesia

Quer um pouco de atenção

É gente pura, sincera

Com dificuldade de verbalizar emoção

É gente que emociona com pouco

Algumas ideias

Pedaço de papel

Caneta ou lápis na mão

É gente intranquila,

Que não espera a mudança

Catalisa a transformação