Não me lembro de ter me sentido tão nervoso desde...nunca. Apertei com força o que estava em minhas mãos e estreitei meus olhos tentando me concentrar melhor. Não era como se minha vida real estivesse em jogo, ou como se caso perdesse de fato perderia alguma coisa valiosa. Mas eu odiava perder, odiava ficar para trás de todas as formas. Admitir derrota era como dizer que eu fui estúpido, insignificante, incapaz. Me irritava e enraivecia, então eu competia em tudo. Talvez fosse competitivo demais, talvez levasse tudo muito a sério. Afinal, era só uma partida de vídeo game e meu adversário, era um garoto de dez anos:
-Você é bom_ o irmão de Gwen murmura sem tirar os olhos da tela e sem parar de apertar os botões freneticamente_ quantas vezes já jogou esse jogo?
-É a primeira vez_ confesso, tentando fazer meu avatar saltar e emitir golpes mais rápidos para derrubar o de Willy.
-Uau_ ele murmura, coça o nariz brevemente_ eu jogo tipo assim há seis meses já.
-Mason_ escuto a voz de Gwen, mas não olho para ela. Tenho minha visão fixa concentrada no jogo. Meu personagem retira uma foice afiada como se a conjurasse do próprio ar e pula sobre o de Willy o cortando ao meio. Não tenho certeza se consigo segurar um sorriso_ Nate está te chamando.
-Falo com ele na hora da comida_ murmuro. O irmão de Gwen mexe em um botão que fica acima do controle e de repente o avatar dele me lança em um atordoamento de água, até mesmo um tubarão surge e morde meu personagem, o engolindo vivo.
-A comida na verdade já está pronta, estamos esperando apenas você_ ela me responde. Volto o olhar para ela um instante enquanto meu avatar está preso apenas apanhando e vejo que ela encarava o jogo. Avanço sobre o botão que vi Willy apertar só que no meu controle e então é a vez do meu personagem jogar um ataque formidável sobre ele, culminando em um tiro de pistola que o derruba no chão.
-Uou! Você acertou! _ o garoto não parece triste em perder_ eu nunca acerto esse aí! Vamos de novo, dessa vez eu vou ser o vilão.
-Nem pensar_ respondo_ eu sou o vilão.
-Seja o herói, só uma vez, por favor..._ ele põe as mãos em sinal de prece e eu acho engraçado a forma como me implora.
-Vamos ser os dois vilões_ sugiro_ o jogo permite isso.
-Mas isso não parece muito balanceado _ Willy coça o queixo.
-Ei_ Gwen o fuzila com o olhar_ a comida está pronta, vá lavar as mãos, depois você joga.
O irmão mostra língua para ela, mas deixa o controle de lado e levanta. Eu me ponho de pé também, olhando a tela de relance e depois encarando os olhos verdes irritados de Gwen.
-Você é mandona_ balbucio. Me dou o trabalho de abrir um breve sorriso para irritá-la ainda mais.
-Acho que você quis dizer que mando bem_ ela sorri de volta. Me dou conta que não só nem se irritou de verdade, como também entrou na minha brincadeira.
-Convencida_ tento de novo. Ela mantém o sorriso.
-Por que eu não deveria ser convencida sobre minhas qualidades? _ a resposta dela me faz revirar os olhos. Ela tinha ganhado aquela batalha. Me mantenho calado e a sigo para a mesa de jantar.
Nos sentamos, nós cinco outra vez, como naquele dia em que fomos a casa de Gwen pela primeira vez para descobrir quem poderia ser o homem que tentou me matar. A única diferença é que dessa vez não era dia, era noite e o pai adotivo de Gwen tinha feito um jantar para todos nós. Obvio que ela não tinha dito o verdadeiro motivo de estarmos ali. Mas deve ter falado algo que sugerisse que queríamos ficar a sós, porque ficamos sozinhos na mesa, enquanto Cornélio e Willy se sentaram afastados, no sofá, em frente a tv.
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Exilados
FantasyEles são adolescentes normais estudando no ensino médio em uma pequena cidade no nosso mundo. Mas ao mesmo tempo não são. São habitantes cheios de poder do reino mágico de Meridiah, mas não fazem ideia disso. Eles não tem memória, pistas ou suas mag...