Capítulo Único

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Era normal que Kinn tivesse uma rotina estressante, mas há alguns dias as coisas haviam saído do controle. O trabalho do policial parecia nunca ter fim e ele já estava de saco cheio de trabalhar aos sábados até tarde da noite. Ele não queria tirar férias, porque aparentemente, ele era o melhor da delegacia, e sem ele, aquele lugar parecia não funcionar de forma correta. Pete sempre insistia para que ele sumisse da sua vista, mas o delegado sabia, no fundo, que sem Kinn, aquele lugar ficaria uma bagunça. Então, Kinn continuava ali, sentindo o estresse aumentar. Não havia descanso e pior, não havia ninguém no fim da noite para abraçá-lo na hora de dormir e falar que tudo ficaria bem. Kinn não fazia questão de namorar ou só transar com alguém sem compromisso, mas, de vez em quando, sentia falta daquilo tudo.

— Kinn — Pete o chamou.

Kinn levantou a cabeça. Estava em sua mesa, quase dormindo, sonhando acordado com uma vida melhor, quando ouviu a voz do delegado.

— Hum — respondeu, mal-humorado, já sabendo que receberia mais um problema para resolver.

Como de costume, Pete andou até a mesa do policial e se sentou na beirada. Kinn estava cansado demais para reclamar, então o que fez foi, se afastar, encostar as costas doloridas na cadeira confortável e cruzar os braços. A camisa de botões espremeu os músculos dos braços, mas ele não se importou com o incômodo, acostumado demais em usar roupas apertadas.

— Estou preocupado com você.

— Por quê?

— Ainda pergunta? Você virou um workaholic e não é culpa minha. Eu já falei que quero que você tenha férias.

— E deixar essa delegacia uma bagunça? Eu passo.

— Você se preocupa com a delegacia mais do que o próprio delegado.

— O que veio fazer aqui, Pete? Ficar de conversa fiada? Vamos, me dê o que você tem. Um outro problema para resolver?

— Você é mesmo muito esperto. Preciso que interrogue alguém. Todos já tentaram conversar com ele, mas o garoto não ajuda. Achamos que com você ele pode falar. Ele precisa de alguém que não seja molenga.

— Um garoto? Eu não tenho paciência com garotos.

— Você vai conseguir. Estou colocando todas as minhas esperanças em você.

Kinn observou o delegado e achou que se conseguisse resolver aquele problema, poderia se dar ao luxo de ter as suas merecidas férias.

— Vamos lá. — Ele se levantou. Puxou o cós da calça apertada para cima e abotoou um botão da camisa. Parou para olhar Pete novamente. Ele nem parecia o seu chefe. Era adorável e paciente demais para mandar em todo aquele lugar. — Se eu conseguir, não vai me ver por um mês.

— Se você conseguir, terá dois meses de férias.

Pela primeira vez no dia, Kinn sorriu.

🚨

Aceitar resolver aquele problema foi uma péssima ideia. Kinn não tinha paciência, normalmente, e quando alguém mais novo e infantil aparecia em sua frente, o restinho de paciência que tinha sumia como um passe de mágica. No segundo em que entrou na sala de interrogatórios e colocou os olhos naquele garoto em sua frente, de regata azul claro, com as mãos enfiadas nos bolsos dos jeans e um sorrisinho cínico, Kinn soube que ele tinha feito alguma coisa errada.

— Vamos por partes — disse Kinn, não fazendo questão de se sentar. Ele jogou as informações do suspeito em cima da mesa e se inclinou sobre ela, longe do garoto, que encarava o chão. — Primeiro, me diga o seu nome.

Preso por EnganoOnde histórias criam vida. Descubra agora