haviam dias em que eu me sentia patético e minúsculo.
nesses dias em especial eu sentava-me no chão da casa de banho e respirava fundo, passava de minutos a horas a permitir-me sentir assim.
nesssas horas em especial eu não era ninguém para ninguém, era só uma pessoa qualquer do mundo a passar por problemas, ninguém me conhecia ou opinava e eram nesses momentos em que eu mais me sentia parte de algo.
como um segredo compartilhado por pessoas solitárias, naquele momento o meu coração batia da mesma forma que o de diversas pessoas.
era reconfortante a sensação egoísta de que eu não estava sozinho a sentir-me fraco, eu sabia que muitas outras faces naquele mundo se sentiam assim e dentro daquela casa de banho eu tinha acesso a todas. era a vantagem da solidão, era excelente para imaginar.
Imaginar qualquer outro lugar onde eu queria estar, imaginar como seria não estar na minha pele, imaginar como seria poder mudar o mundo.
e ainda assim, sentado no chão eu era a versão mais cruel do meu ser, a versão defeituosa e sensível que nunca mostrava para ninguém, eu era humano.
e depois de tanto tempo a ser robótico, percebi tardiamente que tudo o que mais almejava era me sentir humano. a minha humanidade não era um problema, não deveria ser tratada como se fosse.
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