Era no meio do inverno, não restava nenhuma folha nos galhos das árvores e havia fumaça saindo da chaminé de todas as casas. Não havia nenhuma criança brincando na rua, apenas sem-tetos procurando um lugar para não morrer de frio.
Eu estava deitado em frente a lareira da casa dos Lincelines, meus donos, enquanto a filha mais nova fazia carinho atrás das minhas orelhas. A menina sempre foi sozinha, não tinha amigos na escola e seu irmão já havia se mudado por conta da universidade.
"Você é meu melhor amigo, Pincel. Às vezes gostaria que você fosse uma criança como eu, assim poderíamos brincar como irmãos!" disse ela.
"Eu nunca gostaria de ser humano, muita preocupação com coisas banais" pensei.
A mãe grita para menina arrumar as suas coisas para ir a escola. Eu as sigo até a porta e quando se fecha, volto ao meu lugar para dormir.Não muito tempo depois acordei. A menina e a mãe ainda não haviam voltado. Porém, me sentia estranho, como se não pertencesse ao meu corpo e, para minha surpresa, quando me levantei, parecia mais alto. Olhei para baixo, no lugar das minhas patas cobertas com um pelo alaranjado havia duas pernas humanas! Corri para frente de um espelho mas, como não estava acostumado com esse modo de locomoção, caí diversas vezes. No espelho, minha face era idêntica a da pessoa que eu tanto comentava. Os mesmos cabelos castanhos enrolados e os mesmos grandes olhos verdes. Será que a menina havia virado um gato? E quando estava perdido em pensamentos tentando decifrar o que poderia ter acontecido, ouvi vozes no lado de fora e barulho da porta sendo aberta.
"Pincel! Pincel! Estou de volta, cadê você?"gritava a menina, empolgada em me reencontrar.
Eu estava enlouquecendo, sem idéia do que fazer. Então, num ato de desespero, saí correndo até o quarto da menina e me escondi embaixo da sua cama (o mesmo que faria se ainda estivesse na forma felina). Mas, para o meu azar, ela teve a mesma idéia e veio correndo para seu quarto.
O que faria se descobrisse? Parando para pensar, a culpa é dela por querer que eu virasse um humano, então será que ela entenderá?
Ela estava ocupada tirando coisas de sua mochila. "Essa era a hora de sair dali" pensei. Saí de baixo da cama furtivamente e silencioso como, bem, um gato, fui em direção da porta. Estava quase completando minha fuga quando a menina olhou para mim. Seu rosto teve uma mistura de emoções e no final restou apenas surpresa.
"Quem é você? Por que você está na minha casa e.. é igual a mim?"disse ela, sem perceber que o seu "desejo" se realizou. Ela parou e pensou um pouco e depois, olhou de volta para mim, veio em minha direção e segurou minha mão. "Você é o Pincel?" Parecia convencida que eu era mesmo seu amigo felino. Assenti, estava um pouco inseguro, não é todo dia que isso acontece. Mas, invés de gritar para sua mãe, simplesmente abriu um sorriso. "Então vamos brincar!" exclamou com uma felicidade genuína.
Logo em seguida, me puxou para o lado de baixo e fomos ao jardim da casa. Lá havia a casa de ferramentas, uma pequena casinha de madeira e, no fundo, um poço desativado. Eu já tinha escutado diversas vezes sua mãe dizendo que não era para ir perto dele. As crianças dos vizinhos sempre contavam histórias sobre um fantasma de alguém que caiu e morreu no poço, eu achava elas ridículas.
Eu e a garota passamos a tarde inteira brincando. Brincamos de pega-pega, de casinha, esconde-esconde... De tudo que criança poderiam se divertir. Quando chegou a noite, a mãe da menina a chamou para jantar. Decidimos que eu iria ficar na casinha de ferramentas e a menina traria comida pela manhã.No outro dia, ela me trouxe torradas e uma garrafa de leite para beber e depois de comer, voltamos a brincar.
"Acho que deveríamos fazer algo diferente. Eu sempre ouvi dizer que o poço é bem fundo mas nunca vi ninguém provando se é mesmo, que tal irmos agora?". Sinceramente, era uma péssima ideia, duas crianças e um poço, eu estava com um mal pressentimento. Mas, mesmo eu insistindo o contrário, sugerindo outro brincadeira, ela não tirava o poço da cabeça.
Fomos até aquela construção de pedra. Parecia ser realmente antigo, no alto tinha um telhado com uma viga de madeira onde havia um balde amarrado com uma corda nela. A menina pegou uma pedra do chão e jogou dentro do poço. Houve um intervalo de alguns segundos até escutarmos, bem baixo, a mesma caindo na água. Algo brilhou lá dentro, o que deixou nós dois curiosos. "Parece que tem alguma coisa lá dentro" disse minha amiga, se inclinando em direção da borda do poço para ver melhor. Eu tentei afasta-la. "Estou bem, não é como se eu fosse cair, quero realmente ver o que tem lá!". A garota jogou mais uma pedra e aconteceu a mesma coisa, algo reluziu lá dentro.
Foi aí que percebi que o brilho de dentro do poço era apenas o reflexo de seu colar na água. "Pincel, me ajude!" Virei a cabeça rapidamente, mas a única coisa que vi foi a garota caindo dentro do poço. Corri para tentar ajudar e quando cheguei perto apenas escutei o som de seu corpo caindo na água seguido de um barulho. "Crack". O barulho de um pescoço quebrando. Ela estava morta. Fiquei olhando dentro do poço por um tempo, a única coisa que eu consegui ver era um relevo escuro na água.
"Aurora! Saía dali, quantas vezes eu já te disse para não ir perto desse poço?" A mãe da menina gritava. Em minha direção. Eu era idêntico a menina. Era isso? Eu iria tomar o lugar dela?
"Vamos, o que está esperando?!"gritou novamente. Respirei fundo, estava tremendo. Agora, eu teria de viver como ela, como Aurora Lincelines.
"Estou indo...mãe"disse indo em direção da casa. Parei, olhei para o poço por cima do ombro e sorri.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Trabalho de português n°1 - Conto fantástico: O Gato e a Menina.
NouvellesRascunho do meu trabalho de português kakaka Ruim? Sim, mas me diverti escrevendo :) Provavelmente tem erros, não seja cruel pfvr eu choro😨