◁0▷ prólogo

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Você está tão lindo hoje, Harry. Pena que essa sua blusa branca ficaria mais bonita com a cor vermelha de seu sangue.”


Leio o bilhete que estava no bolso do meu casaco e olho imediatamente para trás assustado, tendo a sensação de não estar sozinho. Diversos questionamentos rodeiam minha mente enquanto aumento a velocidade do passo querendo sair dessa rua escura. Quem é essa maldita pessoa que me atormenta há tantas semanas? Como ela consegue sempre deixar esses bilhetes em minhas roupas? Como ela tem coragem de me ameaçar?

Ao desviar meu olhar para o fim da rua atrás de mim, vejo a silhueta de uma pessoa parada e me observando. Suas roupas são pretas e o capuz do moletom dificulta identificar seu rosto, além de que somado à distância e a pouca luminosidade não consigo concluir sobre sua estatura física. Coloco a mão na minha cintura, sentindo o metal gelado da pistola que sempre me acompanha. Continuo com a mão na arma enquanto olho de canto de olho para trás, sem prestar atenção por onde eu ando. Quando estou pronto para pegá-la e atirar no vulto no fim da rua, acabo batendo em uma pessoa pela minha falta de atenção.

Solto um resmungo raivoso quando vejo que o vulto foi embora antes de eu ter a chance de vê-lo sangrar. Quando finalmente olho para frente, encontro um garoto uns dez centímetros mais baixo que eu com a mão entre seus fios castanhos lisos, massageando a cabeça enquanto geme de dor baixinho.

─ Perdão, eu estava mexendo no celular e não te vi. ─ Eu continuo o olhando com desdém enquanto ele se abaixa e pega seu celular com a tela toda rachada. ─ Você deveria tomar mais cuidado ─ digo ríspido. ─ Além do mais, o que você faz em um lugar como esse nesse horário? ─ O garoto aparenta ser bem jovem, não chutaria mais de 19 anos com seus traços delicados.

Ele coloca o celular quebrado no bolso da calça jeans rasgada, arruma a franja que cai em seu rosto e se levanta olhando para mim. Quando os seus olhos azuis se conectam com os meus, eu juro ter esbarrado em um anjo. Esse garoto possui o rosto fino com as maçãs bem desenhadas e com algumas pintinhas lindas, seu narizinho de botão deixa ele com uma feição levemente fofa. Já seus olhos são no tom mais lindo de azul que eu já vi que muda devido à nuance da luz da lua e do poste amarelado.

Minha boca se abre enquanto meus olhos piscam lentamente observando cada detalhe do rosto desse menino. Nós ficamos nos encarando por tempo demais escutando apenas o barulho leve dos carros passando em algumas ruas perto.

─ Me desculpe novamente ─ ele diz com a voz educada e estende a mão. ─ Eu sou o Louis.

Desvio o olhar do seu rosto passando pelo seu braço tatuado e com alguns pelos loiros ralos até chegar em sua mão que também possui tatuagens e volto a fitá-lo. Meu rosto está com as sobrancelhas franzidas, boca fechada em uma linha fina e meus olhos cerrados analisando o garoto em minha frente que está com uma expressão confusa enquanto continua com a mão esticada para mim.

─ Harry ─ respondo frio sem encostar em sua mão. Ele olha para baixo tímido e, constrangido, recolhe seu membro, o colocando atrás do corpo e olhando para os pés.

─ Enfim, Harry ─ diz com a voz fraca ─, eu moro naquele prédio por isso estou aqui nesse horário. ─ Aponta com a cabeça para um prédio do outro lado da rua.

Sério que ele está dizendo para um estranho onde ele mora? Será que não teve mãe não?

O prédio possui quatro andares, está com as paredes amareladas descascando e cheias de mofo. Torço o nariz imaginando morar naquela situação. Na minha infância e adolescência não cheguei a passar nenhum tipo de necessidade, apenas precisava me privar de alguns desejos materiais. Hoje em dia, com todo dinheiro que esbanjo, nem reconheço mais aquele garoto de Holmes Chapel. Ao refletir sobre o passado meu olhar retorna a Louis e o encaro.

─ Cuidado por onde anda ─ alerto e volto a andar pelo meu caminho.

 Contudo, quando estou muitos passos à frente acabo olhando para trás uma última vez vendo o garoto, que agora eu sei que se chama Louis, entrando no prédio e fechando a porta. Continuo encarando o local onde ele estava anteriormente enquanto seu olhar continua a rondar minha cabeça. Ao reparar que eu estou atrasado para o meu compromisso, me afasto de quaisquer pensamentos idiotas e sigo minha rota.

Alguma coisa nesse garoto me intriga.

Quando chego ao meu destino, algumas ruas depois daquela, entro num hotel luxuoso e encontro Zayn sentado em uma poltrona lendo “BTK profile: Máscara da Maldade” após chavear a fechadura da suíte. Zayn, ao ouvir o barulho, olha por cima das páginas em minha direção, passa a mão tirando a mecha de seu rosto e fecha o livro marcando na página que parou, o deixando na mesinha de cabeceira ao lado.

─ Você demorou. ─ É a primeira coisa que ele diz, então se levanta.

─ Tive um imprevisto ─ respondo tirando meu casaco para jogá-lo na cama. ─ O stalker estava me seguindo hoje ─ digo me sentando na ponta da cama e apoiando os cotovelos nas coxas. ─ Eu o vi, Zayn.

─ E não meteu uma bala na cabeça dele? ─ ele diz com a voz brava e me dá um tapa na cabeça.

─ Não, porque eu tinha companhia. Ou queria que eu matasse o filho da mãe e deixasse testemunhas? ─ pergunto sério ao me lembrar de Louis. Ele parecia ser um garoto do bem, com certeza não iria ignorar se eu corresse para matar um cara na frente dele.

─ Matasse as testemunhas! ─ diz como se fosse óbvio revirando os olhos e cruzando os braços. ─ Tem hora que parece que você não pensa. Um gesto tão simples resolveria essa situação.

─ Coitado, o garoto parecia inocente, então não ia matá-lo apenas para me vingar do meu stalker. ─ Zayn, que estava até então com uma expressão séria, começa a gargalhar.

─ Você? ─ ele pergunta entre as pausas das gargalhadas. ─ Não querendo matar um inocente? Virou puritano agora? ─ zomba de mim. ─ Não vai virar aqueles pastores não, né? Que dizem: eu matei, roubei, estuprei, mas agora sou pastor. 

─ Não, seu idiota. ─ Chuto sua canela e ele me lança um olhar reprovador. ─ Eu mato inocente sem a menor dó e piedade, mas tudo pelo preço certo, não ia simplesmente matar um inocente só por estar no lugar errado na hora errada.

─ Eita que esse garoto deve ser um Deus. Deixou o Harry Styles com humanidade, quem diria ─ Zayn volta a rir.

─ Engraçadão você, hein. ─ Imito uma risada falsa. ─ Você sabe no fundo que meu maior sonho é só encontrar um amor. Alguém que me ame independente de tudo, que esteja ao meu lado, que tenha química comigo. Não só na cama, mas também em atos banais como apenas ficar deitado um do lado do outro observando os nossos detalhes.

─ Harry Styles, o mais novo escritor de romance ─ Zayn imita a voz de um repórter e eu bufo me levantando da cama bravo.

─ Eu não sei porque eu ainda tento conversar com você. Você só sabe matar e zombar de mim. ─ Vou até o armário retirando de lá uma bolsa de academia preta, a jogando em cima da cama. ─ Que tal usar todo seu senso de humor nessa madrugada? ─ Sorrio de canto e olho para ele.

Os olhos de Zayn brilham ao ver a mala sendo aberta. Diversos tipos de venenos diferentes estão ali com a luz amarelada da suíte refletindo em seus frascos de vidro. Zayn pega um dos frascos e analisa com admiração, logo sorrindo largo e desvia seu o olhar para mim.

─ Então ─ pego um fuzil de precisão e coloco em meu ombro ─, o que me diz?

Seu sorriso maldoso é a única resposta que preciso.

 

𝗧𝗲𝗿𝗺𝗶𝗻𝗮 𝗻𝗼 "𝗲𝘂 𝘁𝗲 𝗮𝗺𝗼" - 𝗙𝗮𝗻𝗳𝗶𝗰 𝗟𝗮𝗿𝗿𝘆Onde histórias criam vida. Descubra agora