Letras são inúteis até formarem palavras

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Às sete eu e Hoseok já estávamos de pé. Nos arrumamos e tomamos café sem pressa. Dessa vez, não conversamos sobre o caso, tiramos um tempo para nos conhecermos melhor.

Descobri que ele nasceu no Canadá, em Vancouver. Sua cidade era pacífica, com uma população reduzida e montanhas no horizonte de sua janela. Com dez anos se mudou para o centro de Nova Iorque por conta do trabalho de seu pai, disse-me que foi assustador, mas que lá teve mais oportunidades. Descobri que Hoseok era extremamente engraçado, não conseguia ver muito desse seu lado enquanto trabalhávamos, mas era impossível ficar sério quando ele começava a falar.

No fim, saímos do hotel às oito e meia e chegamos no presídio às nove em ponto. Mostramos a procuração e entramos. Sempre fazíamos o mesmo caminho; deixávamos o celular na secretária, subíamos as infinitas escadas, eu e Hoseok íamos para lados distintos, os guardas me davam passagem e eu entrava na temida sala de interrogatório. Nunca passávamos pelas celas, sempre fazíamos um caminho que nos levava diretamente até nosso destino, o que me fazia pensar sobre o quão aquele caso era secreto.

Park já estava lá. Sentado com a cabeça baixa, sob seus braços.

Dessa vez seria diferente. Pensei

ㅡ Bom dia! ㅡ Me sentei na cadeira em sua frente, o vendo abrir os olhos para me encarar. Coloquei a maleta em cima da mesa e pigarrei, como de costume, antes de puxar meu banco para frente.

ㅡ Bom dia ㅡ Suspirou, se levantando com uma expressão sonolenta ㅡ Pensei que viria mais tarde. Deveria dormir por mais tempo, sabia? ㅡ se escorou na cadeira e eu abri minha maleta, colocando um bloco de notas junto a uma caneta sob a mesa.

ㅡ Acho que passei uma má impressão ontem, não quero que pense que eu iria usar o áudio para qualquer outra coisa. Iria apenas estudá-lo ㅡ Me expliquei.

ㅡ Não pensei ㅡ respondeu sem pensar, jogando os cabelos pra trás com certa dificuldade por conta das algemas ㅡ Sei que não pode falar nada.

ㅡ Ah, sabe é? ㅡ Arqueei uma sobrancelha.

ㅡ Assinou o protocolo de sigilo, todos assinam ㅡ disse-me, e eu o olhei na mesma hora. Ele sempre sabia de tudo.

ㅡ Que esperto ㅡ Comentei, torcendo meu pescoço ㅡ Teve um bom sonho? ㅡ perguntei, tirando alguns papéis de dentro da maleta com a maior calma do mundo.

ㅡ Aproveitou que a conversa não está sendo gravada para me fazer perguntas pessoais, foi? ㅡ afiou os olhos.

ㅡ po favor eu não ent , apenas me preocupo com o bem-estar dos meus clientes. Temos que concordar que más noites de sono podem desequilibrar nosso psicológico ㅡ Disse-o, colocando novamente a foto de dentro do banco em sua frente.

ㅡ Observação interessante vindo de você. Suponho que ontem não estava em suas melhores condições psicológicas, certo? Deve ter tido uma noite bem... agitada? ㅡ Falou, e, dessa vez, eu não me deixei intimidar.

ㅡ Talvez, mas ainda não respondeu à minha pergunta ㅡ cruzei as mãos na mesa.

ㅡ Tive uma noite boa ㅡ Respondeu e eu fiz uma careta.

ㅡ Intrigante o fato de se ter uma boa noite de sono quando se pode pegar uma prisão perpétua ㅡ riu nasal.

ㅡ Aqui é mais silencioso do que você pensa. Um ótimo lugar para dormir ㅡ alegou e eu murmurei um "como preferir".

ㅡ Então, creio que depois de uma noite tão boa, possa responder minhas perguntas. Onde conseguiram as armas? ㅡ Fui direto ao ponto.

ㅡ Por aí ㅡ deu os ombros.

Como Roubar Um CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora