Eu não posso morrer ainda...

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     A escuridão que tomava seus olhos se desfez assim que enxergou o teto de madeira e reconheceu o rangido típico da cama da enfermaria do Chopper. Estava ali por causa da batalha em Onigashima.

     Quanto tempo fazia que estava desacordado?

     Essa perguntou rodou por poucos segundos na cabeça do esverdeado, até ele sente algo se mexer próximo de sua mão. Inclinou seu corpo como podia para enxergar aquilo que roçava perto de seus dedos e aquecia sua mão como uma brasa de fogo aquecia mãos congeladas do inverno.

     Mas para a infelicidade de Zoro, viu cabelos loiro caírem sobre o rosto que agora se levantava, sonolento, após o moreno mexer sua mão em forma de carícia.

     — Droga, você acordou — o loiro resmungou.

     Roronoa não sabia dizer se o loiro achava o fato dele ter acordado bom ou ruim. Talvez, depois do pedido deplorável que Sanji fez no meio da guerra, de matá-lo caso ele enlouqueça, o menor tenha desejado que Zoro não acordasse tão cedo, na esperança dele esquecer de tudo isso.

     — Por quanto tempo eu dormi?
     — Faz quase uma semana — responde se sentando no chão, com as costas apoiadas na cama.
     — Esperou eu acordar? Que fofo — provocou, o que sabia fazer de melhor na presença de Sanji.
     — Vai se foder. Esperei você acordar porque te xingar quando você tá dormindo não tem graça.
     — Então admiti que esperou?

     Sanji ficou corado, mas virou o rosto para fora da vista do moreno.

     — Já mandei você ir a merda?
     — Hoje ainda não.
     — Então vai a merda.

     Zoro sente um leve sorriso puxar seus lábios. Ah, essa sensação. De provocá-lo e poder ouvir ele o xingar de tudo quanto é coisa, é incrível. Pode ter passado todo o tempo dormindo, mas parece que seu coração sentiu todos os segundos que ficou sem falar com Sanji nesses dias. Mas se aliviou novamente.

     O loiro suspirou tão pesado, que o moreno podia jurar que ele estava prestes a chorar. Observou ele voltar seu rosto para a frente de novo, assim poderia vê-lo de perfil, apreciar cada traço do seu rosto, até mesmo o das olheiras que se formavam. Ou dormiu pouco, ou chorou bastante. Zoro desejava que não fosse nenhuma dessas opções. Desejava que Sanji não estivesse desgastado por causa dele, por ter esperado ao lado dele.

     — Você demorou tempo demais para acordar, idiota.
     — Achou que eu ia morrer?

     Foi uma provocação, mas percebeu no olhar de Sanji que a pergunta foi certeira. Um chute direto para o maior medo do loiro nos últimos dias.

     — Chopper me disse sobre os efeitos colaterais daquele remédio. Eu achei, pra caralho, que você ia acabar morrendo. — O loiro trinca os dentes.
     — Eu jamais cogitei a possibilidade de morrer Sanji, não antes de ver o Luffy no topo e cumprir meu objetivo.
     — Eu sei, mas — engoliu em seco — eu fiquei preocupado. Se lembra do momento antes de você apagar?
     — Não...
     — Você — continuou — estava estava caminhando na minha direção, todo machucado, mas mesmo assim, se aproximou de mim e disse que não poderia morrer ainda, que fez uma promessa para mim.
    
     Sanji se lembra da cena como se fosse a um segundo atrás.
    
     Zoro cambaleava na direção do loiro, avaliando o cozinheiro dos pés a cabeça, como se procurasse algo que lhe dissesse "esse não é o Sanji que eu conheço". O moreno se agarrou nos braços do loiro, semiconsciente, mas ainda reunindo forças o suficiente para sorrir e dizer: "eu não posso morrer ainda, eu fiz uma promessa de te matar". Assim, largando suas espadas no chão. Chopper e os enfermeiros Minks corriam na direção dos dois, mas Sanji estava escutando as palavras de Zoro em um looping infinito na sua cabeça. Rezou pelos sete mares que essas não fossem as últimas palavras do espadachim.
    
     — Porque você me pediu isso? Para te matar? — A dúvida que estava na cabeça do esverdeado desde que ouviu o loiro lhe pedir isso. — Não perguntei na hora porque estávamos em uma guerra e eu não queria entrar em um papo muito sentimental no meio daquela confusão.
     — Eu só... Estava muito confuso na hora. Meus poderes como criação do Judge surgiram no meio do combate e eu estava desesperado. Fiquei com medo de perder o controle sobre mim e meus sentimentos. Não queria que Nami nem Robin me vissem igual aos meus irmãos. E o Luffy não merece um monstro sem coração no bando dele.
     — Resumindo, nada disso aconteceu e foi só um delírio momentâneo?
     — Não sei porque eu ainda tento me abrir com você, seu desgraçado.
    
     Mesmo com o xingamento, o cozinheiro esboçou um leve sorriso no rosto e sentiu seu coração ficar mais leve, mas ainda tinha algo que o sufocava ali dentro.
    
     — Espera. Você se preocupou comigo? — Sanji se vira para olhar nos olhos de Zoro, percebendo que o moreno estava realmente preocupado com o motivo daquela promessa. — Achei que você fosse pular de alegria e me matar assim que batesse os olhos em mim, sem pensar duas vezes, mas... Você se preocupou comigo?
     — Não viaja porra. O Chopper deve ter me dado um remédio estranho e eu estou fora de mim. Para de se iludir.
    
     Os dois se encararam e depois riram juntos.
    
     — Você também estava preocupado. Acho que somos dois então. — Zoro sorriu de lado para Sanji, que apenas corou um pouco.
     — Não só eu, todos ficamos. Usopp não parava de chorar pelos cantos dizendo que agora não tinha mais ninguém para defendê-lo e Robin só piorava as coisas dizendo que você nunca mais iria acordar e teriamos que achar outro espadachim. — Zoro gargalhou.
     — Eu queria ter visto isso.
     — Foi até que engraçado, tirando o fato de que você ainda estava desacordado.
     — Pelo jeito foi você quem ficou mais preocupado, não é? — O moreno ergueu sua mão até o rosto do loiro, passando seu indicador por sua bochecha e depois olheiras, mas logo descendo para perto dos lábios rosados do cozinheiro.
     — O que você está fazendo?! — Sanji se assusta, levando um tempo para assimilar o toque.
    
     O loiro afasta a mão do espadachim e se afasta um pouco da cama. Zoro o encara intensamente, observando cada misero movimento, lendo todas as ações e reações de Sanji. Ele fica desconfortável com a análise profunda que os olhos do esverdeado fazem por seu corpo, como se enxergassem a alma dele por inteiro.
    
     — Você é muito gay Zoro, credo. — Novamente, Zoro gargalhou.
     — Foi você que dormiu aninhado em mim e sou eu quem sou gay? Conta outra sobrancelhudo.
    
     Sanji acabou abrindo um sorriso enorme, que logo escondeu quando percebeu a cara de surpresa do moreno. Nunca tinha sorrido assim na frente dele depois de uma troca de xingamento, mas algo no coração se agitava alegremente.
    
     O loiro não saberia explicar o quanto ficou preocupado com o companheiro. Ficou noites sem dormir observando Zoro dormir profundamente, para se certificar de que ele estava respirando ainda. Nas noites mais silenciosas, Sanji até conseguia dormir, pois a respiração do moreno era como uma música tranquilo, que permitia que ele relaxasse por algumas horas, diminuindo um pouco o medo de que Roronoa não acordasse mais.
    
     — Acho que é melhor eu chamar o pessoal. Se não eles vão acabar se jogando do barco — disse o loiro e o moreno riu baixo.
     — Espera... Antes disso, pode arrumar meu travesseiro? Está muito desconfortável.
    
     Sanji riu com o pedido do outro, mas o fez. Se aproximou do esverdeado e ajeitou os travesseiros. Ele deitou a cabeça novamente e encarou o loiro ali, a poucos centímetros dele.
    
     O cozinheiro não teve tempo de assimilar as coisas, a proximidade, o olhar, o desejo implícito. O espadachim apenas agarrou a gravata que estava frouxa no pescoço dele e o puxou na direção de seus lábios.
    
     Um pequeno selar foi tudo o que Zoro conseguiu, até Sanji se afastar alguns centímetros e arregalar um pouco os olhos. Perceberam, ambos, a pupila do outro se dilatar e correr inquieta de um olho para outro, como se procurassem algum pequeno sinal de afirmação para poderem continuar com isso. Sanji olhou para a boca de Zoro, que estava entreaberta. Um pedido silencioso para que o loiro preenchesse aquele espaço.
    
     O menor beijou ele assim que sentiu a mão do moreno se apertar na gravata que ele segurava. A sensação que ambos sentiam era indescritível. Suas línguas quase sucumbiram ao desejo de se entrelaçarem, e assim o fizeram.
    
     O beijo foi calmo, não tinham pressa de nada. Agora Sanji já sabia que Zoro estava bem e respirava contra sua boca, completamente cheio de desejo.
    
     Zoro não sabia como, mas assim que Sanji pediu que prometesse o matar caso estivesse diferente, fez o moreno desejar ainda mais viver. Não podia morrer por causa da promessa. Mesmo que seja uma promessa que levaria a morte do outro, sabia que o loiro não mudaria, seu coração nunca seria corrompido. Nem em um milhão de anos ele seria diferente. Porque para Zoro, Sanji sempre seria aquele que faz seu coração palpitar mais forte e desejar estar vivo pelo menos mais um dia, para poder provoca-lo de novo e de novo.
    
     Sanji teve muito medo de perder sua sensibilidade, seus sentimentos, sua paixão. Paixão pelos mundo, por todos, mas principalmente por Zoro. Parte do seu pedido para o espadachim foi porque tinha medo de viver sem conseguir amá-lo. Não teria mais sentido provoca-lo e xinga-lo todos dias. Nada disso faria mais sentido se não podesse sentir por Zoro o que estava sentindo naquele momento. Nadava nessa imensidão de sentimentos, mas agora sabia que o moreno nadava ao seu lado e compartilhava desses sentimentos com ele.
    
     Não sabiam dizer a quanto tempo estava se beijando, mas não era o suficiente. Eles queriam mais. Esse mar em que estavam era grande o suficiente para explorar dia e noite sem que acabasse ou se cansassem.
    
     O moreno pôs sua mão livre na cintura do outro, fazendo-o subir no seu colo. Seus corpos estavam mais próximos do que nunca e cada vez mais seus corações se entrelaçavam. Porém, Sanji sentiu Zoro murmurar de dor contra seus lábios.
    
     — Desculpa! Eu não deveria ter feito isso. — o loiro fica nervoso e sai de cima do moreno, com medo de estar o machucando.
     — Sanji — choramingou o maior, colocando a mão na coxa do menor que ficou em pé ao seu lado.
     — Você não pode se forçar muito.
     — Eu só quero beijar você, merda.

     Sanji cora violentamente.
    
     — Porra, Zoro. Não me fode desse jeito. — Zoro alisa as coxas de Sanji, fazendo ele se arrepiar por debaixo da calça. — Porque... Porque você me beijou?
     — Foi... Um teste.
     — Um teste? — Sanji ergueu uma sombrancelha.
     — Um teste para saber se você também sentia isso. Acho que deu positivo.
     — Eu disse que você é muito gay, pior ainda quando não está me xingando.
     — Vai se foder.
    
     Os dois riem e seus olhares se encontram. Sanji não parava de pensar o quanto queria beijar Zoro de novo. Se aninhar no peito dele e dormir sentindo o cheiro desse mar de sentimentos que banhava os dois. Mas, primeiro, precisava que Zoro ficasse melhor o mais rápido possível.
    
     — Eu vou chamar o Chopper, está bem? — perguntou Sanji.
     — Me dá um beijo antes. — pediu Zoro.
     — Porra, Zoro.
    
     O loiro ficou envergonhado, mas atendeu ao pedido do maior e juntou seus lábios por um breve momento, logo se afastando, porque se aprofundasse aquele beijo, não sabia se teria forças para separa-lo.
    
     — Eu te amo, Sanji. — sussurrou o moreno, contra os lábios do loiro.
    
     Sanji ficou completamente vermelho e viu as bochechas de Zoro ficarem coradas também. Queriam simplesmente fugir dali de vergonha, mas Roronoa estava extremamente fofo e ainda precisava dizer uma última coisa.
    
     — Eu te amo também, Zoro. — disse Sanji e saiu correndo do quarto para chamar Chopper.

Eu não posso morrer ainda... - ZosanOnde histórias criam vida. Descubra agora