II - A reunião

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Os primeiros raios solares de encontro ao seu rosto o despertaram. Sua cama estava disposta de modo que o sol o acordasse na primeira hora da manhã e ele abriu os olhos, cansado, tão cansado que cogitou, por um segundo ou dois, passar o dia dormindo. Não era um pensamento comum, nunca foi e não era agora que se tornaria.

Ele se sentou sobre o colchão, então, respirando profundamente e checando em que lugares seu corpo estava mais dolorido. Ele considerou diminuir a intensidade do treinamento do dia e, antes disso, verificar com a Hokage sobre a razão de não estar sendo enviado para missões.

Era o seu quarto dia de folga.

Itachi colocou os pés sobre o chão frio e sentiu um desconforto no peito. Era quase físico tamanha a sua intensidade e doía como se tivesse sido golpeado com força. Não era nada disso, no entanto, e ele sabia que a sensação incômoda estava lá por causa de Shisui.

Ele era a última pessoa que lhe machucaria, uma das poucas com a qual sempre podia contar. Itachi sabia que Shisui nunca lhe traíria e, por isso, aquele sentimento ruim não tinha outro culpado senão ele mesmo.

Doía o fato de tê-lo decepcionado.

No dia anterior, apesar de toda a confusão que vinha acompanhando seus pensamentos, ele soube distinguir na fala, na expressão e até mesmo na postura de Shisui que ele estava preocupado.

Shisui era tão expressivo e talvez fosse toda essa transparência em demonstrar seus sentimentos que fazia com que Itachi se sentisse ainda pior. Após o final do treinamento, enquanto encarava o outro, ofegante, exausto, ele se deu conta de que treinar até a exaustão não resolveria o seu problema.

Não deixaria seus pensamentos claros outra vez.

Era uma distração eficiente, contudo. E ele não estava disposto a abrir mão dela. Ocuparia todo o seu tempo com treinos exaustivos até que fosse enviado para longe de Konoha em missão, acreditando que a distância lhe traria um pouco de paz.

Levantando-se da cama, sentiu os músculos doloridos. A cabeça doía também, provavelmente desidratação. Ele estava negligenciando a própria saúde, tinha ciência disso. Não costumava ser tão irresponsável, era um homem adulto, não podia agir dessa maneira, mas se sentia tão perturbado. Não sentia vontade de encarar a própria família e seus olhares questionadores durante o café e até mesmo Sasuke ele vinha evitando.

Nunca pensou que sentiria tanto medo de encarar os olhos de seu irmãozinho.

Ele se perguntava sobre o que estaria se passando pela cabeça de seus familiares e qual justificativa haviam encontrado para o seu comportamento pouco usual. A resposta veio instantes depois, assim que ouviu as batidas na porta.

— Itachi — A voz, geralmente doce, não era nada mais do que rígida agora. Mikoto entrou no quarto, uma bandeja em mãos contendo o dobro do que o filho costumava comer.

Ela apresentava aquela mesma postura de Shisui. Uma preocupação que há muito já havia se tornado determinação. Ela sentia que precisava fazer algo.

— Coma — A matriarca disse quando o filho a encarou, não havia espaço para uma recusa e o comportamento dela era tão atípico que mesmo aos vinte e um anos, Itachi se sentiu como uma criança.

Ele a agradeceu, a cabeça baixa, um pouco de vergonha no tom de voz e ela sorriu minimamente, embora seus olhos não tivessem acompanhado o gesto.

— O clã irá se reunir em uma hora — Mikoto disse, já próxima à porta — Esteja lá, sim?

Parte da doçura havia retornado, mas Itachi sequer se atentou a isso, a curiosidade lhe consumiu.

— Qual é a pauta?

Quimera - ShiItaOnde histórias criam vida. Descubra agora