Capítulo 1

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Rafael

A pressão pela primeira operação à paisana estar se aproximando fazia suas mãos tremerem. Rafael Siqueira, policial recém integrado na corporação, removeu a pistola do coldre e guardou-a no armário da delegacia. Embora não tivesse dúvidas sobre sua pontaria, ele achava que apenas um mês de  reuniões e treinamentos intensos com o capitão não fosse suficiente para prepará-lo para a missão que lhe fora dada.

Fora nascido e criado dentro de comunidade, logo, não tinha insegurança alguma em como se portar com outros moradores de periferia. Após ingressar na carreira policial, precisou mudar-se com sua família, pois temia que, se descobrissem sua profissão, estivesse colocando-a em risco.

O que realmente o deixava inseguro era o fato de que teria que morar em uma comunidade onde não conhecia ninguém. E ser um total estranho em uma comunidade comandada pelo tráfico pode ser uma tarefa bem difícil. Principalmente, quando seu objetivo é se tornar alguém de confiança do bandido mais temido do Rio de Janeiro. 

Tirando o uniforme e guardando-o no armário, observou alguns de seus colegas conversando no canto da sala.

   — Fiquei sabendo que é hoje que vai se mudar para a comunidade, novato. — disse um dos policiais que participava da conversa. — Tá preparado

   — É melhor que eu esteja! — disse Rafael, trancando o armário e vestindo uma camisa azul.

Embora tivesse dito em tom de brincadeira, sabia que era a mais pura verdade. Seus colegas riram, e um deles deu dois tapas em seu ombro ao passar, como forma de incentivo. Rafael, colocando documentos falsos em uma mochila surrada, pegou seu celular e digitou alguma coisa antes de desligar o aparelho e jogar a mochila nas costas. Com um novo celular na mão, despediu-se de seus colegas e foi para fora da delegacia.

   — Bora, Siqueira! — gritou um homem, vestindo um uniforme de ajudante de mudança de dentro de um caminhão. — Não vamos poder subir se passar de certo horário.

   — Fica suave, meu irmão! Tá tranquilo. — disse Rafael e o homem ergueu uma sobrancelha.

   — Já tá entrando no personagem, Siqueira? Ou devo chamar de Jeffinho? — disse o homem,rindo.

   — Só pra já ir me acostumando. — Rafael entrou no caminhão de mudanças e colocou um óculos espelhado falso. — Partiu!

Ao se aproximarem da subida do morro, puderam notar algumas barricadas mais à frente e alguns homens com fuzis se aproximarem com as armas apontadas para o caminhão. Um deles fazia gesto para eles pararem enquanto gritava:

   — Para aí, caralho! Para ou meto bala nessa porra!

Rafael colocou a mão onde deveria estar a pistola, mas tudo que encontrou foi o tecido da bermuda de tactel. Engoliu a seco, tentando manter a calma enquanto o motorista do caminhão parava o veículo.

   — Calma aí, irmão! Só vim fazer a mudança do maluco aqui! — disse o motorista, apontando para Rafael.

   — É, pô. Achei que a parada já tava avisada. — disse Rafael, olhando para o cara que se aproximava da porta ainda com o fuzil apontado para ele.

   — É, meu parceiro, mas tu não achou que ia subir na quebrada assim, tá ligado? — disse o cara, tirando um radinho da cintura. — Aí, Alfinete, tem um cara aqui, falando que tá de mudança pra quebrada. Confere

   — Positivo, O patrão mandou dar uma revistada no caminhão antes de liberar. — disse uma voz pelo radinho.

Enquanto isso, Rafael observava discretamente pelo retrovisor um carro preto se aproximar lentamente por trás do caminhão.

O infiltrado no morro (Gay) DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora