Capítulo 3

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Rafael 

Rafael já estava acostumado com o som de tiros, então não se abalou. No fundo, sabia que aquilo tudo não passava do Carrasco querendo deixar claro quem mandava na área. Uma atitude arrogante, mas que não fugia da característica que normalmente a maioria, senão todos, os donos do morro costumavam ter.

Nanda olhava para todos os lados com os olhos arregalados, encolhendo-se a cada passo que davam. Rafael passou o braço em volta da cintura dela, tentando tranquilizá-la. Homens armados faziam orgias por todo lado com mulheres seminuas enquanto a droga rolava solta. Carrasco a puxou contra a vontade dela para baixo de um de seus braços fortes, lançando um olhar de insatisfação para Rafael.

   – Relaxa, minha princesa! – disse Ele, sorrindo e apontando para as pessoas ao redor. – Fica com medo, não. Ninguém vai tocar em você. Só eu, é claro!

Rafael queria tomar alguma atitude, mas seria suicídio fazer alguma coisa bem no meio dos homens do Carrasco.

   – Chega aí, Ferrugem! – disse Carrasco, subindo para a área VIP.

Ao passarem por um grupo de caras que fumava e comia churrasco, um deles estava dizendo:

   – Tão ligado que o viadão do Pietro tá na área? – Ele deu uma cotovelada no amigo e deu uma gargalhada, mostrando um dente de ouro. –Agora fica se achando   a gostosona, mas todo mundo sabe o que ele tem no meio das pernas!

O sujeito foi o único a dar risada. O restante do grupo trocava olhares e sacudia a cabeça. Rafael franziu a testa, estranhando o comportamento. Um deles, o único corajoso o suficiente para erguer o olhar, pigarreou, aflito. Carrasco voltava da escada, rindo.

   – Repete o que tu falou aí, meu parceiro! Eu não escutei direito! – Ele agarrou a nuca do homem com tanta força, que um estalo foi feito no contato – Eu também quero rir..

Alfinete cutucou Pinóquio e, rindo, disse:

   – Vacilão do caralho, “mermão”! Vai rodar!

Pinóquio riu e concordou, pegando a arma. Carrasco levantou a mão, sinalizando para que ele abaixasse-a.

Rafael teve o pressentimento de que aquilo não acabaria bem aumentado ao encontrar o pânico nos olhos de Nanda. Tentou engolir a saliva, mas a garganta protestou à falta dela. Algumas pessoas olhavam a tudo enquanto se cutucavam, outras, afastavam-se para outra área da casa.

   –- Qual foi, Carrasco? Eu tava zoando. – disse o homem, começando a suar.  Virou o rosto para os outros caras da roda, e Rafael observou como a verruga que ele tinha parecia querer se esconder ainda mais atrás de sua orelha. – Fala pra ele, caralho! Não era sério não! Eu juro! – A voz mudara para um tom de súplica.

Os homens baixaram o olhar e se afastaram um pouco.

   – Aí, rapaziada! – gritou Carrasco, chamando a atenção de todos. – O machão aqui tava falando umas merdas da Pietra. E todo mundo que conhece o proceder da favela aqui já tá ligado que não quero ouvir que tá rolando essas merdas com a galera aqui da quebrada! Se alguém não tiver entendido, esse merda vai servir de exemplo do que rola com vacilão metido a machão!

Todos observavam Carrasco falar e moviam as cabeças, como se estivessem sincronizados. Era evidente que só não queriam se juntar ao homem. Pietra desceu as escadas.

   – Carrasco, deixa isso pra lá. – disse ela, segurando o braço tatuado dele. Já tô acostumada com essas coisas.

   – Se mete, não, Pietra! Aqui na quebrada, não quero essas porra! – disse Carrasco, ainda segurando o homem, que  implorava por perdão, vermelho e com lágrimas descendo pelas faces. – E não é só com ela, “cês” tão ligado? Se me derem o papo que tão fazendo essa porra com qualquer um aqui dentro…

O infiltrado no morro (Gay) DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora