Prólogo

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Em primeiro lugar
Vou dizer tudo que estou pensando
Estou irritado e cansado do jeito
Como as coisas têm sido
Em segundo lugar
Não me diga o que você acha que eu poderia ser
Eu estou sozinho na vela, eu sou o mestre do meu mar

(Believer, Imagine Dragons)

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Hinata está sentada numa cadeira à frente da grande mesa de seu pai. O escritório parece gelado demais, porém suas mãos suam e ela não consegue digerir o que acabou de ouvir. Neji, seu primo, pigarreia na cadeira ao seu lado, e como quem já é ciente da situação, apenas concorda.

─ Não precisa dar sua resposta agora, Hinata. ─ a voz de Hiashi, seu pai, consegue ser ainda mais fria que o escritório. No fundo, ela sabia que não havia o que pensar, ele não aceitaria nada contrário ao que já havia planejado ─ É apenas isso que tinha a dizer, pode refletir sobre. Obrigado por ouvir.

É sua deixa para sair. Hinata se levanta, sentindo o corpo anestesiado e pesado para as pernas muito trêmulas. O primo continua sentado à mesa com seu pai, para decidirem sobre negócios, e o pior era saber que naquele momento sua vida é só mais um daqueles tratados.

Entra no quarto e não aguenta chegar à cama, após rodar a chave na porta, apenas deixa o corpo escorregar para o chão, assim como as lágrimas que encharcam seu rosto. Não era "apenas isso que tinha a dizer", era um anúncio, um intimado ao próprio casamento. Algo que Hinata acreditava ser a única coisa que poderia decidir em sua vida acabava de ser arrancado dela.

Hiashi decidia sua vida desde a infância. Decidia suas roupas, seu corte de cabelo, cursos e línguas que deveria aprender, como deveria se comportar, decidiu qual faculdade ela deveria fazer. Agora ele havia decidido quem seria seu marido - ninguém menos que seu primo.

Hinata sente o estômago enjoado e um gosto amargo na boca. Como poderia sucumbir ao costume retrógrado e asqueroso de sua família? Um sistema infindável de casamentos arranjados para manter a herança sempre entre as mesmas pessoas e o sangue "puro". Era simplesmente inconcebível, intragável. Em que século estava vivendo, afinal?

Não poderia aguentar, sequer considerar essa ideia. Toda estabilidade, todo o dinheiro da família, nada poderia lhe compensar uma vida inteira infeliz ao lado do primo, de alguém que nunca amaria. Entre os soluços e a indignação crescente, que lhe queimava o peito, Hinata tomou uma decisão.

Lavou o rosto no banheiro, vendo os olhos inchados no espelho, e engoliu os calmantes que sempre a ajudavam a se conformar com a vida subjugada.

Pela última vez.

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As pernas tremiam e era difícil manter sua postura, mas Hinata não fraquejava. Não tomava seus remédios a alguns dias e pela primeira vez em muito tempo, sentia as emoções à flor da pele. Ela sustenta o olhar de seu pai com a mesma dureza que ele lhe dirige, sentado em sua cadeira de couro como se estivesse em um trono. Ela quer rir, pois seria a última vez que estaria diante de sua majestade.

─ Então, acha que pode vir até aqui e me dizer que é contra a minha decisão? Hinata, eu tenho mais o que fazer. Não posso perder tempo discutindo o que já está resolvido.

─ Estou dizendo. ─ a voz de Hinata era trêmula, mas forte ─ Não irei me casar com Neji. Fiz muitas coisas de acordo com a sua vontade, mas isso não posso aceitar. É nojento.

─ Ah, faça-me o favor. ─ debocha ─ Nojento? Esse sistema mantém tudo o que você tem. É pensando no seu futuro que faço isso.

─ Mentira. É pelo futuro da sua empresa de merda que você faz isso, e pra mim chega. ─ cuspiu as palavras, apertando o punho forte o suficiente para se machucar com as unhas. Hiashi sorri de canto com escárnio.

Dois de espadasOnde histórias criam vida. Descubra agora